Iluminamos – Divergente, por Victor Moura

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Ou o filme que acabou sendo bom…

A propaganda, muitas vezes, deixa produtos diversos coma a mesma cara. Graças ao marketing do filme Divergente ter sido voltado para o mesmo tipo de público: com personagens jovens, arte dos pôsteres e ambientação muito próximas, é impossível não ir esperando algo parecido com Jogos Vorazes. Mas essas são, provavelmente, as únicas semelhanças entre as obras.

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Se tivesse que definir o filme em uma frase seria: um conceito fraco com narrativa muito bem desenvolvida.

Não tem como negar que o filme tem inconsistências na construção de seu universo que saltam aos olhos. Por exemplo, a “audácia” que precisa ser “abnegada” ao arriscar a vida para salvar outros. Ou o fato de que, para construir uma sociedade produtiva, não parece seguro que eles troquem de castas aos 16 anos. Aos 16 anos, uma pessoa que nunca se exercitou não vai conseguir se desenvolver tão bem na “audácia”, e alguém que nunca estudou não vai conseguir absorver todo conhecimento na “erudição”.

O próprio conceito de divergente não é bem explicado. Sim, é deixado claro que divergente é alguém que não pode ser enquadrado a uma facção apenas, mas isso é uma razão que tem relação com a personalidade da pessoa? Com a bioquímica do cérebro? Isso seria importante pra justificar a imunidade deles ao soro que controla as pessoas.

Na ficção cientifica temos, algumas vezes, o conceito de “Tecno blabla”, que é uma explicação que não precisa ter base cientifica no mundo real, mas que explica a questão apresentada no universo do filme. Como exemplo, temos o “gene X” nos X-Men. A explicação dos poderes é o fato de eles terem o “gene X”. Parece algo simples, mas essa justificativa ajuda a manter a suspensão de descrença da audiência.

Também existem muitas soluções na trama que só estão lá por plot convenience, como o trem que passa no momento exato da fuga e os leva pra longe. Mas todos esses problemas se diluem na qualidade da narrativa.

As facções em Divergente.
As facções em Divergente.

É preciso estabelecer que um filme deve ser sempre analisado dentro de sua proposta. Divergente é um filme de aventura e ação em um futuro distópico/utópico, feito para o público jovem. E, ainda que não seja comparável a grandes obras clássicas do cinema em muitos sentidos, dentro do que se propõe a ser, ele supera muitos dos outros blockbusters por apresentar uma narrativa fluida e com bom desenvolvimento, sem pressa para apresentar os personagens e sem pressa no desenvolvimento. Encontra-se espaço pra desenvolver a trama, apresentar os antagonistas e o interesse amoroso sem ficar devendo pra nenhum dos lados.

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Diferente de Jogos Vorazes temos uma personagem central fisicamente menos heroica e mais próxima das dificuldades reais que um humano enfrentaria frente aos desafios. Ela não é especialmente forte, rápida ou inteligente, mas é determinada e perseverante. Dentro desse realismo nas características da protagonista, é possível criar a base de tensão no filme. Você vê que ela não é capaz de saltar sobre 80 ninjas e atirar com precisão em uma mosca e, graças a isso, você consegue torcer pelo sucesso dela e temer o fracasso.

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O salto de fé em Divergente. Lembra muito um game, não?

O filme tem conceitos interessantes como o do leap of faith ou o salto de fé, presente no teste de iniciação da facção Audácia, associando audácia a uma fé cega. E o conceito final do filme que torna melhor a degustação da obra, tendo a vilanização da Erudição como sacada final. Algo que reflete muito bem uma sociedade que valoriza conhecimento acima do amor ao próximo. Erudição quer tirar Abnegação do poder e, com isso, temos exatamente esse embate que resulta na afirmação de que não é melhor colocar o conhecimento acima do amor ao próximo.

"Desobedeceu?! Entra na máquina!"
“Desobedeceu?! Entra na máquina!”

Saindo um pouco da análise sobre a narrativa, o filme se desenvolve bem no aspecto técnico. Sendo bem construído visualmente, com um conceito visual de cenários e personagens condizentes com o tema. A mistura de futuro utópico e distópico da narrativa é refletida visualmente em prédios destruídos misturados a construções novas e bem acabadas, reforçando visualmente o discurso de desigualdade social presente na trama.

A direção não é ousada, mas é eficiente. As cenas são claras e sem grande desenvolvimento coreográfico. A simbologia dos espelhos e do reflexo/reflexão acompanham a personagem em muitos planos, também a simbologia dos pássaros relacionando a personagem ao conceito de liberdade.

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Victor Moura é designer do estúdio do Ziraldo, quadrinista independente no tempo livre, formado em Cinema. Perseguindo o sonho de infância de ser um Viking, guerreiro bárbaro, pirata, super-herói, Timelord… o que vier primeiro!

Instagram: @vicmoura

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Portfólio:http://qvicmoura.tumblr.com/

 

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem 2 comentários

    1. José Messias

      que eu saiba ela foi a MJ (e muito provavelmente continuará sendo). Ela foi cortada desse filme só (assim como a cena da Vampira também teria sido cortada nesse X-Men). Os produtores e diretor disseram que foi uma decisão tomada por causa da “carga dramática” do filme, eles não queriam eclipsar isso com a aparição da MJ.

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