Iluminamos: Elena – Meu encontro com Elena através da generosidade de Petra – Parte I

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Ser acompanhante e terapeuta de pessoas gravemente doentes com escassas chances de cura é uma tarefa que elegi para minha vida, ela me ajuda a construir um sentido para minha existência. Ao assistir ao filme “Elena”, de Petra Costa, me deparei com a questão da morte e do morrer, que diz respeito a todos nós – e pude me emocionar profundamente com a ideia de que podemos compartilhar nossas dores e nossas esperanças com outros seres humanos. Nele identifiquei uma coisa que repito sempre que possível para as pessoas que me dão a honra de acompanhá-las: “o luto compartilhado é o luto amenizado”.

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Cito Norbert Elias, em seu livro “A solidão dos moribundos”, quando ele diz que “não é a morte que cria problemas para os seres vivos”, mas, sim, “o conhecimento” que dela temos, pelo simples fato de sabermos, sim, que todos nós teremos a mesma destinação final. A verdade é que vivemos em uma época de esvaziamento do sentido, em que a reflexão sobre o sagrado e o transcendente é inibida por uma sociedade laica, e que pretende permanecer assim. De fato, o maior desafio que precisamos enfrentar é a construção de uma identidade humanista e aberta, em que a transcendência, o sagrado e o sentido encontrem espaço no âmago das pessoas.

Em nossa lida com pessoas enlutadas pela morte dos seus entes queridos, somos testemunhas do esvaziamento que a morte provoca, justamente porque os rituais em que outrora encontrávamos espaço para construir sentidos e significados estão como que esvaziados, deslocados, enfraquecidos. O filme “Elena”, brilhante e sensivelmente dirigido por Petra Costa, reproduz o que temos visto ao longo da nossa trajetória: é possível se reconciliar com a vida, é possível transformar a dor da perda e construir novos sentidos, é possível reaprender a viver no mundo sem a pessoa que morreu.

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A produção cinematográfica evoca, ainda, reflexões sobre o luto infantil, além da compreensão cognitiva da criança sobre a morte, trazendo à tona os debates sobre temas como suicídio, luto, morte e reinvenção da vida. Com respeito ao tema do luto na infância, impossível não citar a falecida professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Wilma da Costa Torres, e suas pesquisas a respeito das perdas e da morte no universo infantil. Wilma identificou que as crianças possuem ideias diferentes a respeito da morte e do morrer que devem ser levadas em consideração quando formos abordar esses temas com elas.

Um estudo de Maria Nagy foi registrado por Kovács (1992) e serviu como ponto de partida para que se estudasse o conceito da morte e do morrer nas diferentes etapas do desenvolvimento. O estudo primou por uma abordagem onde a idade cronológica foi usada como critério de desenvolvimento. Ele pesquisou a compreensão sobre a morte e o morrer de 378 crianças húngaras na faixa etária entre três e dez anos. Segundo a sua pesquisa, haveria três etapas mais ou menos definidas, a saber:

1. A criança com idade inferior a cinco anos não considera a morte como algo irreversível, além de admitir que haja vida na morte. Nesta faixa de idade, a morte pode ser compreendida como um sono profundo e reversível.
2. A criança entre cinco e nove anos apresenta a tendência em personificar a morte, ora como uma mulher encapuzada e má e da qual alguns poucos podem escapar, ora como uma punição de Deus.
3. A partir dos nove anos, a criança começa a perceber a morte como um cessar das faculdades biológicas, um fenômeno irreversível, imutável e universal.

Creio, sim, que tanto a criança pequena quanto a maior percebem a maior parte dos fatos que os adultos lhes ocultam, mesmo que não o expressem através das palavras. Apelam, às vezes, para os jogos, desenhos ou gestos como forma de expressarem seus sofrimentos e evidenciar o seu pouco conhecimento ou o seu medo da morte. Crianças podem expressar sua solidão ao desenharem uma casa vazia, sem portas, com grades nas janelas e ausência de flores no jardim. Além disso, elas podem comunicar suas expectativas em relação à própria morte, rabiscando uma cena de velório ou uma cena de violência. Costuma-se associar a morte com um evento externo e terrível, e não como uma ocorrência natural, que faz parte da existência humana. Algumas crianças, portadoras de doenças crônicas avançadas, em fase final de vida, costumam desenhar borboletas, pássaros, voos mágicos e fantásticos, definindo a própria ânsia por libertação da doença e do sofrimento.

CONTINUA…

 Texto enviado por  Rodrigo Luz, vice-coordenador da organização Amigos Solidários na Dor do Luto – RJ.

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

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