Iluminamos: God Hates Us All – meu CD de cabeceira

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O Metal é libertador…pelo menos pra mim. Ele é minha paixão. Minha válvula de escape. Minha terapia diária (só não posso dizer que, é a minha vida, pois minha vida é a música como um todo). Dentre a miríade de gêneros, subgêneros e briguinhas aviadadas por classificações, o Trash Metal apareceu para mim, como uma das mais significativas e impactantes formas de expressão rítmica (e emocional),do rock como um todo.

Nascido no finalzinho da década de 1980, eu era adolescente quando o Nu Metal chegou invadindo a saudosa Rádio Cidade e, aquilo meio que se tornou a porta de entrada para sons mais pesados. Preconceitos a parte, foi com Linkin Park, Slipknot, System of a Down e Korn (o Quarteto Fantástico dos rockeirinhos do começo dos anos 2000) que eu e toda uma geração começamos a curtir o Lado Negro da Força, e isso, no meu caso, me levou logo depois a procurar e conhecer outras bandas e gêneros, como o Slayer e o Trash.

Seria o mesmo caso da literatura, em que muita gente usa Harry Potters e Crepúsculos (o kitsch) da vida, como escada pra ler Graciliano Ramos, Machado, Joyce e o cacete a quatro (a dita, a Alta Literatura). Eu, pelo menos, acho super válido (embora já imagine a legião de pessoas reclamando no post).

Não lembro muito bem quando peguei o God Hates Us All pra ouvir, só sei que foi um dos primeiros álbuns inteiros ouvidos após a fase Nu Metal. Antes mesmo de qualquer coisa do Metallica, Anthrax, Megadeth, Sepultura ou mesmo Iron, Black Sabbath e Angra (que também era modinha na época). Óbvio que, eu conhecia e curtia todas essas bandas (e várias outras), mas ainda era época de conexão discada e, eu só tinha músicas avulsas de todas elas.

Nem conhecia direito Slayer (só Angel of Death e Raining Blood), mas baixei o álbum por causa do título, God Hates Us All (na época, e ainda hoje, me arrepio só de lê-lo. Dá calafrios porque faz um puta sentido, não?!). E qual não foi a minha surpresa, quando já na introdução, Darkness of Christ, somos brindados com toda a aspereza do cinismo e da ironia de Kerry King, um dos brucutus mais raivosos da história do metal. (♥ Amo/Sou Kerry King ♥)

We hold these truths to be painfully self-evident (Consideramos que essas verdades sejam DOLOROSAMENTE evidentes por si só)
All men are not created equal (Todos os homens não são criados iguais)
Only the strong will prosper (Só o forte prosperará)
Only the strong will conquer (Só o forte conquistará)
Only in the the Darkness of Christ have I realized (Só na “escuridão de Cristo” pude perceber)
GOD HATES US ALL! GOD HATES US ALL! (Deus odeia todos nós!)

Pronto, eu estava fisgado. Mais do que isso, estava apaixonado. Se apropriando dos argumentos iniciais da declaração de independência norte-americana, nascia uma das maiores e mais contundentes letras do Metal. Veja bem, a primeira vista, estes podem parecer versos de um conservadorismo extremo e até uma incitação/desculpa para ódio racial, exploração capitalista do oprimido etc etc., mas isso, só se o leitor/ouvinte for um completo retardado que, não consegue entender uma boa (uma ótima) ironia.

Não me levem à mal, a mensagem antirreligiosa é bem clara, mas a grande sacada da letra, que, obviamente, pode ter sido uma interpretação só minha, é pensar o seguinte: “o mundo é assim, é injusto, é uma merda, o mundo/ser humano é a reunião das piores coisas já reunidas na face da Terra, mas nós podemos, se tentarmos muito (e nos libertamos das amarras religiosas, para King – o que não é a minha opinião), mudar. Nós podemos ser melhores que isso.

 O restante do disco também não me decepcionou, Cast Down, Seven Faces, Deviance, War Zone (com outra pérola do metal, o simples e eficaz Madness is coming your way), Addict, e claro, Threshold!!!!!! Todas diziam aquilo que eu pensava, e em parte ainda penso, sobre a sociedade, a hipocrisia dos dias de hoje, os sentimentos mais obscuros de desolação e inadequação. Todo o álbum, para quem consegue apreciar esses temas mais darks, é de uma beleza que me comove até hoje.

Isso sem falar na voz do Tom Araya que, há mais de 10 anos, ainda tava tinindo (pelo menos no estúdio, claro). Os vocais dele são únicos (uma pena que já não são mais os mesmos). Nesse álbum a interpretação dele mistura à raiva já habitual certa dose de desespero, como em War Zone, e um tantinho do mais puro sofrimento, na belíssima faixa-bônus Addict.

 Ah, para aqueles, como o próprio Araya, nascido no Chile e de forte criação católica que, podem ser meio sensíveis a um álbum de tantas inflexões anticristãs: um adendo. É só assistir os primeiros minutos desse vídeo retirado da entrevista dos caras pro documentário Metal: A headbanger’s journey (Obrigação pra todo “metaleiro” que se preze, diga-se de passagem).

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 11 comentários

  1. MaxRicardi

    maneiro!

    muita gente usa Harry Potters e Crepúsculos (o kitsch) da vida, como escada

    o que mata é que a maioria fica no primeiro degrau da escada a vida toda…

  2. MaxRicardi

    pra quem curte, recomendo o World Painted Blood do slayer tb

    muito foda

  3. Victor Vaughan

    God hate us all!!!
    Messias! É isso aí, o quarteto sagrado do metal, foi também a minha porta de entrada, nesse mundo maravilhoso, onde depois conheci o suprassumo (para mim: Slayer), combina, Heavy Metal e Mangá??? Salve o DEUS DO ROCK!!!

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