Iluminamos: He-Man – A Origem da Lenda

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Cada menino que passou os anos 80 erguendo orgulhosamente sua espada de plástico e gritando que tinha a força sabe da importância de He-Man para a cultura popular.

Os Mestres do Universo surgiram como uma linha de bonecos produzida pela Mattel. Cada action figure da coleção original americana encartava em sua embalagem uma minirrevista em quadrinhos, narrando uma trama um pouco diferente da série animada. Enquanto na TV Adam era um príncipe covarde que transformava-se no herói ao pronunciar as tradicionais palavras mágicas, na linha de brinquedos – isto é, nos minigibis -, He-Man era um bárbaro de uma tribo de Etérnia, veterano de uma guerra que devastou as civilizações do planeta, deixando como espólio as armas e máquinas avançadas que possuíam.

As minirrevistinhas estabeleceram que a tal guerra abriu uma brecha para outra dimensão, permitindo que a criatura conhecida como Esqueleto chegasse a Etérnia. Dominado pelo desejo de conquistar o Castelo de Greyskull, ele acreditava que os segredos contidos no mesmo poderiam torná-lo mestre de todo o universo.

Tamanho potencial dramático poderia ser resgatado em algum revival da franquia, seja em uma nova animação, em uma linha de bonecos comemorativa de 30 anos ou num reboot da ‘saga’ nos quadrinhos.

Bom, a Panini acaba de lançar a minissérie da DC que reintroduziu o personagem. He-Man e os Mestres do Universo – A Origem da Lenda é a prova de como a falta de genuíno interesse editorial pode comprometer um bom produto.

Tudo começa com uma ideia e, neste caso, ela veio de James Robinson. Ele foi o responsável por resgatar a importância da mais antiga equipe de heróis da DC ao escrever a brilhante minissérie A Era de Ouro e ao reiniciar, nos anos 90, a revista da Sociedade da Justiça da América. O roteirista redigiu as duas primeiras edições da revista mensal, o que faz dele o arauto da estrutura da trama. Ela envolve uma Etérnia dominada pelo Esqueleto, que parece ter enfeitiçado Adam e os mestres do universo, fazendo-os esquecer quem são e retirando-o das posições de destaque que ocupavam, como nobres ou guerreiros.

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Adam, assombrado nos sonhos por imagens épicas, vive sua atual vidinha de lenhador. Ao travar contato com um pássaro com as cores da Feiticeira, começa a lembrar de detalhes enevoados de sua existência anterior, e sente que a ave o está guiando para um determinado lugar, por algum motivo.

O suspense que o argumento insinua, no entanto, é fraco, pois de antemão sabemos que Adam é He-Man e que, em algum momento, ele se transformará no campeão de seu planeta. A história precisaria ser muito consistente e envolvente para desenvolver algo sólido e de fôlego, mas, infelizmente, a trama é rasteira…boboca até.

A primeira edição da minissérie, única escrita inteiramente por James Robinson, é dominada por uma luta inverossímil até para os padrões de Etérnia. Adam – e não He-Man -, e ainda pensando ser um simples lenhador, consegue vencer o gigantesco Homem-Fera, botando-o para dormir com um único soco. É demais.

A arte de Philip Tan é feia, desengonçada, grosseira e com falhas anatômicas graves. A arte-final a quatro mãos de Ruy José e LeBeau Underwood prejudica ainda mais.

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Na segunda edição, co-escrita por Keith Giffen, Howard Porter ilustra os segmentos em que aparece o Esqueleto, elevando bastante o nível. É então que nos damos conta de que a minissérie é apenas uma colcha de retalhos feita para encaixar um vilão clássico por edição: Homem-Fera na primeira, e Mandíbula nessa. Mandíbula, aliás, mostra-se uma espécie de chefe tribal, e culpa He-Man pela sua… mandíbula.

Na terceira edição, um festival de arte-finalistas brinda o trabalho de Phillip Tan, sendo que apenas Norman Lee apresenta um estilo que dá sobrevida ao traço do pobre desenhista, deixando-o mais fluído, sujo, encorpado, apenas acrescentando a ele volume e uma pena mais solta.

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O vilão da vez é Aquático, que se mostra uma espécie de Namor, um rei dos mares que controla criaturas dos oceanos. Como os outros vilões, porém, comporta-se como mero garoto de recados do Esqueleto, tão ineficaz quanto os demais, a ponto de deixar de comprovar a morte de Adam por considerar que nada poderia sobreviver a seu ataque de perereca.

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Na quarta parte, é a vez de Maligna entrar em cena, ao melhor estilo diva louca e entediada, e colocar Adam e Teela para lutar em trajes sumários. Com seu estilo mangalizado, e tentando emular Frank Cho, Pop Mhan assume o lápis enquanto Phillip Tan passa a cuidar apenas das aparições do Esqueleto.

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A quinta edição reapresenta o Gato Guerreiro, ainda verde, porém menos amigável, e definitivamente mudo. Embora tenha dez vezes o tamanho e o peso de Adam, o príncipe sobrevive a um longo embate com o felino sem sofrer maiores danos.

A última parte começa com a reunião dos mestres do universo – Aríete e Stratos incluídos -, e termina com a batalha entre He-Man e seu agora “tio”, Esqueleto, tudo muito acelerado e simplificado.

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Em suma, levado por um impulso saudosista repleto de fé e esperança, adquiri esse complicado álbum que mostrou um recomeço equivocado. Tanto no desenvolvimento da trama principal quanto na qualidade da arte, He-Man deixou muito a desejar.

Todavia, a qualidade dos conceitos originais, somados à algumas atualizações interessantes (como a participação de He-Man na desfiguração de Mandibula, a traição de Gorpo e a insinuada futura participação de Hordak e o povo de Etéria) possuem condições de se impor e melhorar o estado geral das coisas na revista mensal que dá seguimento aos eventos dessa minissérie compilada. Torçamos!

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem um comentário

  1. JJota

    Cara, achei um lixo. Pelos nomes envolvidos, esperava algo melhor. E a arte é uma bosta!

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