Iluminamos: Joe

Você está visualizando atualmente Iluminamos: Joe

O coração da América surge na tela grande, inchado. Trabalhadores braçais carregam aparatos que aplicam veneno em árvores, chefiados por um homem branco que visivelmente tenta manter a calma e todo resto em seu lugar. Típico de quem busca uma segunda chance.

É o caso do ex-presidiário de sangue quente e senso brutal de Justiça vivido por um Nicolas Cage mordido, ferido, que sangra sem morrer. Até quando?

Como o coadjuvante de sua própria história, Joe ensaia sua deixa ao cruzar com um jovem de 15 anos refém de um pai alcoólatra, parasita e mau caráter. O engasgo que Joe sente em seu coração sulista, usado e fervente, como o motor de sua caminhonete, imediatamente traça seu destino.

O brilho nos olhos do jovem faz Joe lembrar de si mesmo numa época mais inocente. A relação paternal que ele criará com esse jovem desestabilizará tudo o que construiu. Para o bem e para o mal, isso não será um empecilho para ele.

O diretor David Gordon Green não é um total desconhecido, é possível que já o conheça  da comédia maconheira e inspirada Segurando As Pontas, com James Franco e Seth Rogen. Ela inclusive passou no Festival do Rio em 2010 ou 2011. O cara, com o perdão do trocadilho, segura muito bem as pontas quando se trata de drama. E mais do que drama, pinta o filme com brutais tintas de ação.

Somado a isso, há o fato de ser quase impossível não ter um pé atrás com Nicolas Cage. Decerto que atualmente o astro e sua lustrosa careca têm participado de mais filmes questionáveis do que nos dignamos a assistir.

Porém, em que pese eventuais escolhas erradas de carreira, é inegável que Mr. Cage contribuiu muito com produções esmeradas como Arizona Nunca Mais, dos irmãos Coen; Coração Selvagem, de David Lynch, só para falar de alguns antigos, e; Busca Frenética, de Werner Herzog, e; Adaptação, de Spike Jonze, para falar de alguns dos recentes.

Em Joe, Cage faz do papel-título um homem bruto, que encontra na bebida e no trabalho duro a solução para sua amargura e remorso de antigas atitudes. O olhar perdido que imprime ao personagem, num misto de esperança e desespero, é primoroso. A desenvolvida e custosa temperança de Joe é também um achado. Dói muito mais evitar um confronto do que iniciá-lo.

1376906030_joe_5

Todavia, é um prazer dizer que o talento de Nicolas Cage, e a tensa e segura direção de David Gordon Green não são os únicos atrativos do filme – baseado no livro homônimo de Larry Brown.

Tye Sheridan, premiado como ator no Festival de Veneza pelo papel, interpretou um rapaz responsável e honesto, alvo de covardias de seu pai bêbado e vagabundo (Gary Poulter). O menino encontra no exaustivo trabalho agenciado por Joe o caminho para sua dignidade e a de sua família.

Por sua vez, o estreante Gary Poulter constrói um caipira sem escrúpulos, aproveitador e criminoso, um escroque amendigado, de aparência frágil, capaz de atrocidades e palavras vis. Uma versão menos fofoqueira e mais malvada do Nilo, de Avenida Brasil, aquele do Hihihi.

Em tempo: Tive a oportunidade de assistir ao longa no Festival do Rio 2013. A provável estréia se dará (só) em março de 2014.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Deixe um comentário