Iluminamos: Kick-Ass Vol. 3 # 1

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O Vol. 1 foi lançado pela Panini
O Vol. 1 foi lançado pela Panini

Filho bastardo da Marvel Comics com o roteirista Marketeiro Millar, Kick-Ass é uma espécie de The Big Bang Theory em que os personagens usam fantasias de super-heróis da Disney, não da Warner.

Mentira. Para ser minimamente caga-regra honesto, Kick-Ass foi uma minissérie em quadrinhos lançada entre 2008 e 2010, que apostou suas fichas na tragicômica trajetória de um fanboy de HQs que decide patrulhar seu bairro vestido como um super-herói.

A HQ, com desenhos de John Romita Jr. em estilo line art e roteiro inspirado de Mark Millar, utilizou realismo e violência plástica para retratar os desejos e frustrações de uma juventude sem grandes sonhos e ideologias, e, particularmente de um grupo identificado pela devoção à nona arte, que cresceu entre os cânones da cultura pop.

Cena de Kick-Ass, o filme. Observando a Hit-Girl, Big Daddy, também conhecido como Nicolas Cage interpretando Adam West
Cena de Kick-Ass, o filme. Observando a Hit-Girl, Big Daddy, também conhecido como Nicolas Cage interpretando Adam West

Ao quadrinho se seguiu o filme. Uma irretocável adaptação dirigida por Matthew Vaughn, que, se não foi tão bem-sucedida comercialmente como as demais da Marvel, certamente já se tornou cult, tendo como símbolo a sacana interpretação de Chloe Moretz como a Hit-Girl.

E, como introduzir a trama de Kick-Ass sem falar na Hit-Girl? Impossível. Uma garotinha de 11 anos treinada pelo pai desde a tenra infância para se tornar uma combatente do crime.

Nesse ínterim, a minissérie ganhou um segundo volume, adaptada para um novo longa, e a Hit-Girl ganhou uma minissérie solo, que (diacho!) ainda não li.

Hit-Girl é filha caçula de Bill, que não chegou a casar com Beatrix Kiddo
Hit-Girl é filha caçula de Bill, que não chegou a casar com Beatrix Kiddo

E eis que recentemente têm chegado às bancas americanas (ou algo muito próximo disso), as edições do terceiro volume de Kick-Ass, isto é, a terceira minissérie, cujo primeiro número o Iluminerds, esta consciência universal digressional e dissociativa, vorazmente devorou.

Tudo começa após os sangrentos acontecimentos mostrados no fim do Volume 2. Hit-Girl está no xilindró, aguardando que Kick-Ass e seus associados, os fantasiados do grupo Justiça Para Sempre, a resgatem.

O que para ela é apenas um plano de contingência, para eles, todavia, mostra-se uma missão impossível. É o que nos contam as primeiras páginas, à moda dos filmes de assalto, ou de fugas espetaculares, em que os envolvidos reúnem-se nas sombras, revisam meticulosamente os detalhes da ação, demonstram confiança, e vão à luta.

Pô,farol alto no meio da noite, jão? Mancada. O orkontro só não rolou no Burger King porque o atendimento demora uma cara
Pô,farol alto no meio da noite, jão? Mancada. O orkontro só não rolou no Burger King porque o atendimento demora uma cara

A primeira versão de Onze Homens e Um Segredo, com Frank Sinatra e Dean Martin, veio-me à cabeça, pelo climão de ação entre amigos, à margem da lei. Em poucas páginas, tudo se torna a típica comédia de erros que tem caracterizado a série, com a realidade batendo à porta dos fantasiados, que voltam imediatamente a suas vidinhas cotidianas nais quais se sentem mais seguros.

Tais páginas funcionam como verdadeira carta de intenções, que nos diz exatamente o que esperar desses proto-heróis e serve de deixa para que leitores ocasionais, interessados em super-heróis com poderes sobrenaturais e missões espetaculares, abandonem a revista de vez, evitando uma possível frustração que os levaria a se tornarem haters ensandecidos, influenciando adolescentes confusos a evitarem a HQ, matando de inanição os reizinhos na barriga de Mark Millar.

Vencida essa espécie de introdução, a trama se volta à rotina de Dave Lizewski, o Kick-Ass. É dado um update de sua vida com a agilidade de uma tuitada. Logo, o herói de roupa de mergulho e seu parceiro Ass-Kicker seguem a pista do responsável por uma onda de assaltos.

Um teleporte lhe cairia bem
Um teleporte lhe cairia bem

A sequência busca manter o costumeiro naturalismo impresso ao universo do personagem, na reação blasé\irônica das pessoas comuns aos fantasiados, no considerável esforço empenhado nos atos de vigilantismo – como entrar pela janela e arrombar uma porta – e no uso de objetos ordinários – como o celular para chamar a polícia.

O trivial continua sendo a base na qual se sustenta o belo conceito do Kick-Ass. Entretanto, a chegada da equipe de Centrífuga, um novo mascarado que resolve seu déficit habitacional se encostando na bat-caverna da Hit-Girl, promete.

Se a base de Kick-Ass é a trivialidade, sua força-matriz é a violência. Sobretudo gráfica, mas, em muitos e importantes momentos é sutil, percebida na interação entre os personagens, sugerida nos olhares, nas expressões, reflexo do mundo real que Kick-Ass se pretende retratar.

Sinto que essa violência virá, talvez decisivamente, desse Centrífuga. Ora, o atrevido aproveitador levou a esposa para o clubinho do Justiça Para Sempre, não parece se importar muito com as regras do lugar, e se mostra bastante desrespeitoso.

Não se pode culpar um pedreiro que participa da construção disso de enirquecer através da chantagem
Não se pode culpar um pedreiro que participa da construção disso de enirquecer através da chantagem

A interação do grupo com esse distinto senhor e a problemática resultante de seu desapego a regras e, quiçá, à liderança de Kick-Ass ainda não é mostrada nesse primeiro número. Ainda assim, lembrei da HQ The Boys, de Garth Ennis, especialmente no tocante ao frágil laço que une alguns “heróis”,e a uma nuvem de estranheza e esquisitice que parece pairar no ar.

Uma rápida – alguns diriam rasteira – leitura, sobremaneira divertida, termina com um gancho bastante chinfrim. Isso aponta para o fato de que os clientes do Sr. Millar, especialmente em Kick-Ass, gostariam de mais do mesmo, com alguns ohs e ahs aqui e ali, sem contar com todas as cenas massavéicas que forem possíveis de se obter sem o uso de superpoderes clássicos.

Dito isto, duas considerações são necessárias. A primeira é que o quadrinho lembra um dos hábitos mais recorrentes do Homem-Aranha. Isso só corrobora ao fato de que Dave Lizewski é a tentativa do Millarverse em atualizar o conceito do adolescente que vira herói (alguém aí disse Pony Parker?).

Bazinga! #soquenao
Bazinga! #soquenao

É duro dizer, por fim, que Batman desprezaria a homenagem que vira e mexe Kick-Ass tenta lhe fazer, reconhecendo de forma madura o nível a que jamais chegará como vigilante.

Nesta edição, a rasgação de seda se dá numa emulação da clássica cena de Bruce Wayne consternado em frente ao túmulo de seus pais. É possível que a obsessão pelo morcego seja uma tentativa do escritor de ridicularizá-lo, ao inserir seus cânones num momento impregnado de amargura e humor negro.

Apesar de tudo, a sequência se mostra uma das mais divertidas da HQ, soando como se um doentio Neil Gaiman escrevesse o Timothy Hunter dos Novos 52. Saúde.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem 2 comentários

  1. Meteoro de Jirombas

    Kick ass hq é uma merda

    O primeiro filme é bem legal

    O segundo é muito ruim. Só vale pela Mãe Rússia que é muito insana

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