Violência gratuita sem frescura? Esbalde-se!
Mark Millar, todos sabem, tem um sonho. Reconhecimento artístico? Nobel de literatura? Sua obra sendo analisada nas mais renomadas universidades do mundo? Claro… que não! Ele quer grana! Gaita! Bufunfa!
Não por acaso, mesmo depois de ter fixado seu nome entre os fãs dos personagens Marvel e DC com algumas histórias que constam na estante de qualquer colecionador que se preze (só para citar algumas: Os Supremos, com Bryan Hitch, Superman – Entre a Foice e o Martelo, com Dave Johnson, e Wolverine – Inimigo do Estado, com John Romita Jr.), ele passou a criar seu próprio Millarverso. Mantendo os direitos de criador, o sujeito mostra que sabe tudo de safadeza marketing e parece escrever já visando as adaptações cinematográficas!
Não vou entrar no mérito do quanto acho que trabalhar quadrinhos já pensando em como a obra será adaptada pode foder com um projeto (para mim, este foi um dos motivos que fez Frank Miller perder a mão na última década). Ao invés disso, segui o conselho do Inacreditável Neo, desliguei meu cérebro e fui atrás de você me divertir com um dos trabalhos do sujeito: Hit-Girl.
A mini-série em cinco edições se situa entre a primeira e a segunda séries de Kick-Ass, criação própria mais bem sucedida do roteirista. Nela, encontramos Mindy tentando se adaptar a vida civil depois da morte de seu pai. O que não é fácil, graças principalmente ao padrasto Marcus, que insiste para que ela abandone de vez sua identidade vigilante, e a escola, onde ela não consegue se enturmar.
Para resolver essas questões, ela começa uma nova parceria com Dave, o Kick-Ass, que parece mais interessado em escrever para o CBR. Ela começa a treiná-lo para ser seu sidekick, ensinando-o não apenas a lutar, mas a atravessar janelas, a intimidar com atitude e a falar como um super-herói. É aqui, principalmente, que o fã pode se divertir com várias referências a diversos super-heróis clássicos, como Homem-Aranha, Thor, Batman, Justiceiro, Novos Titãs, Superman, etc.
Em troca, Dave tenta fazer com que Mindy se torne uma pessoa “normal”. Ela pensa ter descoberto o mapa da mina ao encarar a identidade colegial como um disfarce patético tipo o jornalista Clark Kent ou o playboy Bruce Wayne. Mas, no mundo de Millar – neste ponto estranhamente parecido com o nosso -, o colégio é pior que uma selva e as pessoas se destacam principalmente pela sua capacidade de desprezarem as outras. Pra terem uma ideia, Debbie, a garota popular que Mindy tenta impressionar pra ser aceita, se orgulha de já ter feito uma menina tentar o suicídio.
O crime organizado, enquanto isso, tenta se recuperar do estrago sofrido durante a primeira série de Kick-Ass. Ralph Genovese (irmão de John, o pai de Chris, o Red Mist) assume o comando de tudo – mesmo estando preso – e resolve usar uma abordagem mais violenta, exigindo descobrir a identidade dos dois pirralhos que mataram seu irmão, o que é a senha para que diversos “heróis do mundo real” sejam assassinados.
Com estas preocupações, Hit-Girl – cuja família começa a ser ameaçada pelo fato de Marcus ser um dos poucos tiras honestos do departamento – resolve (com a ajuda dos “conselhos” de seu pai) que apenas um ataque frontal e definitivo pode resolver a questão. Mas, antes, ela tem que fazer um pequeno favor para sua identidade secreta e resolver o probleminha chamado Debbie.
Acompanhamos, enquanto isso, Red Mist em suas tentativas patéticas de se tornar o maior “super-vilão” do mundo. Pretendendo mostrar que é fodão o suficiente pra peitar seu tio pelo controle das Famílias, quase morre de vergonha ao ver sua noite de estréia (em que comete um assassinato à sangue frio) terminar com ele sendo espancado, preso e salvo pela intervenção justamente de Ralph. Aborrecido, resolve que irá viajar o mundo e, como um Bruce Wayne do mal, treinar mente e corpo para depois se vingar dos executores do seu pai. Mas a “liga dos assassinos” do mundo verdadeiro não é bem aquilo que ele esperava…
Millar obviamente se diverte. Fica claro que ele reconhece que Hit-Girl, com toda sua sanguinolência, terminou sendo o personagem que mais destaque obteve, tanto na HQ como no cinema. Se Dave é o típico nerd que vê os quadrinhos como uma fonte de discussão, ela os vê como coisa séria, algo pra ser absorvido.
John Romita Jr. embarca com gosto na brincadeira, parecendo se deliciar a cada nova cena de violência extrema que rabisca (e são muitas, tornando esta uma obra desaconselhável para pessoas sensíveis). Seu traço característico – do qual me confesso fã – infelizmente apresenta diversos problemas aqui, principalmente pela sua inabilidade aparente pra desenhar crianças, com diversos erros de proporção, não apenas corporais como também com objetos e cenários (vá lá que ela tenha uma motoquinha do tamanho dela, mas um carro?). A opção do arte-finalista Tom Palmer para utilizar aguadas não ficou legal, tirando força do traço desnecessariamente.
Enfim, Hit-Girl tem tudo pra ser até mais divertida que as obras que ela liga. Vale a pena? Olha, nestes tempos fracos, sim, mas com todas as restrições apontadas neste texto. Principalmente no tocante a estômagos fracos! O encadernado da Panini, como extras, traz apenas pequenas biografias dos autores e uma galeria de capas.
Esperarei chegar a 10 pila num cebo qualquer na Uruguaiana.
É melhor mesmo. É bom, mas é pura diversão, simples.
Rapaz, vi Kick-Ass 2 esses dias. Mark Millar não se importa nem um pouco com “adaptações” em suas histórias.
Neo, ele só quer a parte dele em $$. Pagando, o estúdio pode fazer o que quiser (até porque os filmes entraram em produção antes do término das HQs).
Quando você revê o primeiro filme e lê a primeira série, fica claro que o Millar pouco liga mesmo pro que o estúdio faz. É só lembrar da “namorada” do Dave, que é um patricinha piranhuda de marca maior, mas no cinema virou um doce de pessoa.
Mas, pelo menos, gostou da capa do Sienkiéwicz?
Caça níquel puro. Aliás, mais um Millar.
Destaque pra essa capa homenagem da Elektra do Sienkiewizjtyswxk.
Aliás, todas as capas alternativas são muito boas.
incrivelmente me convenceu a comprar, só por diversão
Como eu disse, por diversão vale.
Mas acho que você é muito sensível pra sanguinolência desta série.
concordo
Acho que às vezes uma hq pode ser também só pra divertir. A fase do Millar no The Authority também rendeu histórias sensacionais.
É bem por aí. Não me importo que um roteirista ligue o foda-se e resolva fazer algo à vontade.
O problema é que isso é como piada. Existem piadas boas e piadas ruins? Sim. Mas o que realmente conta é se o sujeito que está contando a piada é bom ou ruim.