Iluminamos: Muito Barulho Por Nada (2012) – um Shakespeare peso pena

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much-ado-about-nothing-international-posterO estimado (por muitos, odiado por outros tantos) diretor, produtor, roteirista e ocasional ator, Joss Whedon lançou não um, mas dois filmes em 2012. Não por coincidência, ambos estrelados por Clark Gregg. Em um deles, pra alegria de quase quarentões com síndrome de Peter Pan, ele reúne um grupo improvável de heróis com temperamentos tão dispares quanto (a natureza de) seus poderes. E, como se não bastasse a audácia de lidar com um grupo de personagens considerado sagrado por muitos nerds, Whedon ainda arrumou tempo para se meter com William Shakespeare e justamente uma de suas peças mais célebres, Muito Barulho por Nada (Much Ado About Nothing) – provavelmente a obra que tenha definido ou até mesmo criado o gênero comedia romântica como o conhecemos.

Não contente em “recauchutar” apenas histórias de super-heróis – tornando possível aquilo que antes era considerado fantasia mesmo na cabeça do mais ganancioso produtor hollywoodiano –, o diretor dá um salto ainda maior, pelo menos em termos de liberdade criativa, com sua adaptação shakespereana, produzindo uma versão contemporânea da peça, tal qual o Romeu + Julieta, de Baz Luhrmann, o Hamlet, de Michael Almereyda, ou o Coriolano, de Ralph Fiennes, esse ultimo já resenhado por aqui. Todavia, Whedon se aproveita da atemporalidade do texto original para tentar atribuir certa descontração à produção, dando-lhe uma roupagem moderna que em certa medida condiz com o espírito jovial da peça.

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Rola até uma festa na piscina

Na trama, ambientada na cidade italiana de Messina no século XVI, o governador da província, Leonato (Clark Gregg), se prepara para receber o príncipe Dom Pedro (Reed Diamond) e seus dois homens de confiança, Benedick (Alexis Denisof) – Benedito, na versão em português –, e Cláudio (Fran Kranz), após uma campanha bélica bem-sucedida. Chegando a residência do político, Cláudio se apaixona imediatamente por Hero (Jillian Morgese), a filha de Leonato, enquanto isso Benedick tem uma recepção não tão calorosa da sobrinha do mesmo, Beatrice (Amy Acker) – Beatriz, no texto em português –, com quem vive às turras. Os dois parecem nutrir uma espécie de “inimizade mútua” e, sobretudo, certo desdém pela própria ideia de amor romântico.

Achava a Winnifred em Angel estranha pra caramba, mas até que Amy Acker ficou gatinha. Aliás, ela também fez uma participação em Agents of Shield.

 O que a princípio parece ser um caso perdido, no entanto, se transforma numa história de amor. Não sem antes contar com uma boa “pilha” dos amigos, que veem a animosidade dos dois apenas como pura bravata. Assim, eles são “enganados” de forma a assumir seus verdadeiros sentimentos. A relação conturbada entre Beatrice e Benedick contrasta com o amor puro e juvenil de Hero e Cláudio, só que a coisa muda de figura quando o casal inocente de amantes se separa em pleno altar devido às mentiras de Don John (Sean Maher) – Dom João, em português –, o irmão bastardo de Dom Pedro. Isto faz com que quem precise intervir para salvar a união sejam justamente os protagonistas que haviam sido ajudados pelos amigos a descobrir o amor que sentiam um pelo outro.

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A empregada (que também faz aquela garçonete loirinha em Vingadores) e Hero “conspiram” pra fazer com que os casais se apaixonem

Embora essa ambientação contemporânea se dê basicamente em termos de figurino – sendo provavelmente uma solução prática para um problema de custear roupas de época em uma produção independente –, pode se dizer que ela cumpre seu papel e suaviza um pouco a aura do filme, tirando-lhe um pouco esse peso de “adaptação de Shakespeare” que as obras citadas acima carregam. Deste modo, revela-se a verdadeira natureza da película de ser “apenas” uma brincadeira entre velhos amigos. Afinal, como foi visto, boa parte do elenco trabalhou com o diretor anteriormente, seja em Buffy, Angel, Firefly ou outros projetos.

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Obviamente, Nathan Fillion em toda sua canastrice habitual também não poderia ficar de fora.

Por outro lado, a opção por uma fotografia inteiramente em preto e branco no longa se opõe a seu tom, supõe-se, propositalmente mais leve, pois demonstra mais uma espécie de “pretensão artística” de Whedon do que uma finalidade expressiva do mesmo. O recurso cai bem em Jean Dujardin e Bérénice Bejo em O Artista, mas se desperdiça em Amy Acker e Alexis Denisof, o marido da Alyson Hannigan, a “ruivinha” de How I Met your Mother (a propósito, eles se conheceram nas gravações das séries Angel/Buffy, ela era Willow e ele Wesley). Aqui, o preto e branco acaba soando presunçoso e pseudointelectual, conferindo uma solenidade desnecessária a uma obra essencialmente popular.

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

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