Iluminamos: Sem Dor, Sem Ganho

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Para sedentários de verdade, Homer e Sheldon inclusos, academia é uma violência. Não as de ciências, claro, falo daquelas onde se malha ferro, pesos são levantados e o suor precipita do rosto.

Jovens de óculos ou não, franzinos ou fofos, que não resistem a deixar sua massa cinzenta ininterruptamente em movimento, girando e girando ao sabor do próximo filme, livro, gibi ou série de TV que o digam: de uma academia de ginástica não pode sair coisa boa.

Será, meninos e meninas? Para conduzi-los nessa farsa polêmica, peço-lhes que fechem os olhos por alguns instantes. Imaginem que estamos de volta aos anos 90, quando o Fitness surgia com frescor quase alucinógeno, e frequentava corações e mentes de yuppies a donas de casa desesperadas.

Em 1995, estreava aquela novelinha caça-talentos da Rede Globo, Malhação. A ginástica estava definitivamente na moda, assim como as pochetes.

Pouco antes, em 1994, numa academia de ginástica de Miami, um personal trainer chamado Daniel Lugo, insatisfeito com sua posição na cadeia alimentar, e convicto de que sua constituição física exemplar era a prova de que merecia vencer na vida e viver o sonho americano, cooptou outros musculosos locais para aplicar um sórdido golpe financeiro em um empresário frequentador da Sun Gym.

Voltemos para 2013. Estou falando do novo filme do diretor de Transformers e Armageddon, Michael Bay, Sem Dor, Sem Ganho. E também da série de reportagens escrita pelo jornalista Pete Collins para o Miami Newtimes.

Sim, como o próprio filme faz questão de ressaltar algumas vezes durante a projeção, em meio a situações absurdas, beirando o surrealismo. Aquilo tudo é uma história real. De como uma gangue formada por fisiculturistas sequestrou, torturou e extorquiu um frequentador da academia, e de como essa mesma gangue, para conseguir mais dinheiro para meter o pau, chegou a assassinar outras duas pessoas, cortando seus corpos em pedacinhos para impedir a identificação.

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Conhecem a história: Leonardo DiCaprio não pôde interpretar o protagonista de Boogie Nights e indicou o amigo Mark Wahlberg. Bem, o carinha vem fazendo bonito na tela grande desde então. O que mais podemos dizer de Os Infiltrados, O Vencedor, e mesmo Os Outros Caras, em que há um tipo similar de humor perfumando o ar?

Mark criou um Daniel Lugo cínico, aproveitador e covarde, extraindo do papel um charme que, à primeira vista, soa impossível, porém provável, posto que o Daniel real convenceu e enganou muitos durante certo tempo.

Precisei forçar a Oráculo a me revelar de onde eu conhecia o ator Anthony Mackie, que se tornará o Falcão nos próximos filmes da Marvel Studios. Ele era o Papa Doc, o gangsta rapper que é esculachado pelo B-Rabbit de Eminem durante a batalha final de rimas em 8 Mile: Rua das Ilusões.

Em Sem Dor, Sem Ganho, Mackie torna-se Adrian Doorbal, melhor amigo e também uma espécie de capanga de Lugo. Doorbal mostra-se uma pessoa limitada, mental e fisicamente. Tacanho e usuário de esteroides, sofre de impotência e parece encontrar alegria na dor alheia.

Ao exaltar as qualidades do filme, não pretendia fazer um desfile de seus atores ou personagens. Prometo que logo paro com isso, mas não encontramos tipos assim tão interessantes nas produções hollywoodianas atuais.

Tony Shalhoub, o eterno detetive Monk, vive Schiller, o empresário encaçapado pela volúpia golpista da gangue. Um tipo arrogante, sacana e impulsivo, que conseguiu ao final dar a volta por cima, talvez por pura sorte.

Entretanto, o cara que merece os maiores aplausos é indubitavelmente Dwayne Johnson, anteriormente conhecido como The Rock. Acredite quando lhe disserem que o cara está um monstro.

Mais musculoso do que nunca, ele está um gigante. Um gigante em cena. Seu personagem dúbio, que segue as ordens de Lugo para torturar Schiller ao mesmo tempo em que se afeiçoa à vítima, é extremamente simpático, quase religioso, e possui uma inocência que explica a razão principal de integrar aquela gangue: a amizade que nutre pelos outros dois, que o acolheram.

Entre o vício em cocaína e o deslumbramento pela vida de luxos, ao lado de uma stripper sexualmente voraz, o grandalhão exibe genuína brejeirice e uma alegria irradiante que se destaca em meio a toda a sordidez decalcada da história real ali contada.

Sem Dor, Sem Ganho não é uma comédia, ou talvez seja, como dizem, uma comédia de ação. Prefiro pensar nela como uma comédia de erros. Ou num daqueles filmes da sessão da tarde de antigamente, ou melhor, como naqueles filmes tão irreverentes e sem concessões que só conseguem passar na madrugada, em Sessões de Gala e Corujões da vida.

Anotem, amiguinhos: Sem Dor, Sem Ganho tem peito para tornar-se um Cult. Um peito bem malhado.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem 3 comentários

  1. Egon - Caça-fantasmas/dragões/

    Filme bom do Michael Bay? não consigo arranja palavras, isso num pode ser verdade, num pode

    1. José Messias

      Essa foi minha reação ao ler a crítica também….rsrs
      Saiba que entre os próprios Iluminerds gerou discussão, essa provavelmente foi a crítica mais polêmica já postada…ahuahaua

  2. Quando vi o primeiro trailer, há muito tempo, achei o filme interessante, e fiquei até assustado com o tamanho do The Rock. Mas só bem recentemente é que fui saber que era dirigido pelo Michel Baía, e isso me deu uma grande desanimada. Para mim filme dirigido por este cara é algo difícil de engolir, desde A Rocha que ele não faz nada que eu goste.

    Como já perdi muito dinheiro vendo filmes dele no cinema, vou deixar este para quando passar na Tela Quente, dublado e com cortes.

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