Iluminamos – Your Name (Kimi No Na Wa)

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Primeiro quero te falar que, se ainda não viu o filme, não leia esse texto! Os spoilers vão acabar com a experiência, e podem até atrapalhar a tua percepção. Vai lá ver (tem na Netflix), e volta aqui para ler e trocarmos ideias hehe

 

 

Para ser bem sincera, eu amo filmes clichês e fáceis. Não sou uma grande fã das produções cheias de reflexão, de plot twist chato que só agrada quem gosta de filmes cheios de subjetividades e enigmas. “Se fosse pra resolver mistério, eu era da turma do Scooby Doo” haha (embora também tenha meus momentos cults). Então, quando vi a sinopse de Your Name (Kimi No Na Wa), imaginei que seria algo do estilo “Se Eu Fosse Você”, o que logo me atraiu, por pensar ser um filme leve e divertido, com aquela boa dose de romantismo. E realmente é uma obra divertida e romântica, mas não tão simples. O filme é baseado no livro homônimo, de Makoto Shinkai, que também é o responsável pela adaptação para o cinema.

A história começa mostrando a vida da adolescente Mitsuha, que mora numa cidade interiorana, Itomori, e odeia a cidade e sua rotina simples. Mitsuha vem de uma linhagem de sacerdotes de um antigo culto pagão local, tradição na qual ela é iniciada pela avó, junto com a irmã caçula. Depois da morte da mãe, o pai se afastou do templo, e virou prefeito da cidade, ato que não foi aceito pela avó das crianças, causando uma ruptura na relação familiar.

No meio desse dilema entre ser a filha do prefeito, e mantenedora de uma tradição religiosa, o único desejo de Mitsuha é viver em Tóquio, na agitação da cidade grande. E vemos Taki, um jovem, também do ensino médio, que leva exatamente a vida que Mitsuha deseja, mora em Tóquio, trabalha, frequenta cafés… No entanto, durante o sono, eles começam a trocar de corpos três vezes por semana, fato que, durante o filme, vai sendo associado à passagem do cometa Tiamat, e também ao deus Musubi (cultuado pela família de Mitsuha).

Nessa troca de corpos, um vai se envolvendo com a vida do outro, resolvendo situações, alterando relações, o que nos faz pensar em como é fácil resolver os problemas alheios, e no quanto é difícil lidar com os nossos. Para que a interferência não seja prejudicial, eles estabelecem “regras de convivência”, mas é visível a diferença de personalidade, o que traz cenas bem divertidas. É possível haver relação mais íntima do que, literalmente, habitar o corpo do outro? Logo a ligação deles vai ficando mais forte, e eles vão se apaixonando. Mitsuha decide ir à Tóquio encontrar Taki, que está num encontro com uma colega do trabalho (encontro que a Mitsuha arranjou), mas sua mente está dispersa, e ele decide ligar pra Mitsuha, mas não consegue.

E aí, o filme que eu achava ser uma versão de “Se Eu Fosse Você” se transforma numa confusão.

O cometa Tiamat, cuja órbita é de 1200 anos, na última passagem, um pedaço havia fragmentado e caído na região onde, futuramente, foi fundada a cidade de Itomori. A nova passagem causou uma distorção temporal, adiantando os eventos em Itomori em 3 anos, em relação a Tóquio. Como não é uma obra de ficção científica, essa distorção é explicada apenas de forma mística, atribuindo a causa ao destino que “costura os fios do tempo”. O que se une pelo destino, não se separa em definitivo, o tempo é capaz de juntá-los novamente. Sem conseguir falar com Mitsuha, Taki decide ir até ela pessoalmente. E então, descobre que na noite da passagem do cometa, há três anos, outro pedaço havia se dividido e caido bem ao lado da última cratera, destruindo totalmente a cidade, matando cerca de 500 pessoas, entre elas Mitsuha, seus amigos e sua família.

Nessa hora, já bateu o desespero e eu pensei “ah não, final triste não!”.

Taki começa a se questionar se tudo que viveu foi apenas um delírio, imaginação, mas os indícios mostram que não. Ele se lembra de quando estava no corpo dela, da ida ao templo, onde ofereceram ao deus um saquê fermentado com a saliva de Mitsuha, contendo uma parte de sua essência. Ele vai até o local, e bebe o saquê, pedindo ao deus que lhe dê uma nova chance. E novamente eles trocam de corpos. Taki faz um plano para salvar a cidade, mas tudo começa a dar errado, e ele volta para seu corpo. Mas, Mitsuha continua com o plano de sobreviver e salvar seus amigos.

O tempo passa, e Taki não se lembra de Mitsuha, mas sente sua vida incompleta, e vive procurando “algo”. Ele vê os amigos dela numa cafeteria, e tem a impressão de conhece-los, mas não consegue lembrar.

Até que eles passam um pelo outro, e sentem uma atração imediata, a sensação de se conhecerem. Porém, passam direto.

Para além do conceito de destino, o filme me fez pensar sobre oportunidades perdidas por falta de atenção, por não olhar para o lado e não ver o que está acontecendo ao redor. A maioria das pessoas tem essa sensação de vazio, e vive numa eterna procura, por amor, por liberdade, por felicidade. E muitas vezes deixa essas oportunidades passarem, por estar focado demais em outras coisas.

A obra traz boas lágrimas (eu, pelo menos, quase desidratei), e se, na vida real, não temos deuses que consigam fazer o tempo voltar para repararmos as coisas, sempre podemos contar com o tempo para nos consertarmos, e assim, não perder o que há de bom em estar vivo.

Hypolita Prince

"Nerd" por acaso, e ainda não satisfeita com a denominação. Escrevo sobre feminismo, e outros assuntos que me interessem. Não os desenvolvo tanto quanto gostaria, mas é por preguiça de organizar as ideias nos textos.

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