Iluminamos/Álbum Novo: O Terno – 66 (The Fight of the Iluminati II)

Você está visualizando atualmente Iluminamos/Álbum Novo: O Terno – 66 (The Fight of the Iluminati II)

Provavelmente choverão torpedos, bombas napalm e mísseis teleguiados, isso se não resolverem me trollar com um saco de estrume. Mas não tem jeito, durante minha estadia escrevendo nesta coluna podem esperar posts polêmicos, quase contraditórios. Quem tentar buscar qualquer nexo causal entre os álbuns aqui “iluminados” ficará para sempre perdido no vortéx adimensional da eternidade, uma vez que a única regra que os une é a seguinte: música boa de verdade. Som honesto, feito por quem sente música do dedão do pé ao último fio de cabelo, que os carecas não se sintam excluídos.

Essa defesa prévia teve um porquê, já que o descoberto de hoje é – O Terno.

Não se deixe levar pelo look “wannabe John Lennon” do Vocalista Tim Bernardes, nem pelo baixo Hofner à la Paul McCartney, cujo dono é Guilherme Peixe, sem contar o bigodinho safado do batera Victor Chaves. Os caras Q-U-E-B-R-A-M! Sem mais.

Meu contato com a banda foi na Mostra Livre de Artes (MOLA, 2012) que rolou no Circo Voador no início de Novembro. Lá estava eu com meus brothers, curtindo mais o clima do evento do que as musiquinhas mais ou menos que a produção tentava nos empurrar goela abaixo. Por sinal, manifesto aqui minha revolta; O MoLA, PARA MIM, soou como uma grande farsa. Todo o enaltecimento da entrada gratuita até antes das 21h, não passou de uma belíssima estratégia para deixar o público circunscrito às dependências do Circo, das 21h às 3h, alienado da boa cerveja, “2 por R$ 5,00”, vendida lá fora, forçando-nos a dar R$ 6,00 no álcool enlatado. Sem contar a incapacidade de matar aquela larica da madrugada com os nem-tão-saudáveis-mas deliciosos-e-gordurosos quitutes que a Lapa oferece. Para reforçar meu discurso, bastava ver o tempo de espera entre uma banda e outra, ouso afirmar, que era exatamente o tempo de encarar a fila do banheiro feminino e comprar uma ficha no caixa.

Enfim, lá estava eu com meus amigos quando subiu ao palco um magricela, com roupas que o deixavam mais vareta ainda, e seus comparsas. Puseram-se a tocar, sequer dei bola, pensava ser mais uma cria MTV. De repente me bate à cabeça, “caralho que timbre de guitarra bonito”, soltei o comentário para o grupo. Ouvidos atentos, nos entreolhamos, descemos apressados, era preciso ouvir aquele som de perto. Alguns empurrões e umas cinco indies mortas depois, ficamos frente ao palco.

A voz era de taquara rachada. Afinada certinha no tom, cantava letras engraçadas em versos metrificados. Os acordes, um mix de passagens jazzísticas em tempos quebrados complementadas por licks rock’n’roll potentes, dignos de Black Sabbath e Led Zeppelin. O batera aprendeu a técnica suprema com Mitch Mitchel e desenvolveu mais um braço e pernas, tudo bem que o Mitch tinha seis, mas o garoto vai chegar lá. Peixe, numa das músicas, só (e este só introduz ironia) criou uma linha de baixo que na verdade simulava um backing vocal “quartando” o vocal do Tim.

Sempre fui à favor de ouvir as ondas sonoras de um amplificador reverberando por todos os cantos possíveis, principalmente dentro do meu corpo, fazendo esses jovens ossos tremerem de alegria, a sentar e ouvir um mp3 comprimido no conforto da cadeira que, provavelmente, leva a marca do seu traseiro, uns magros, outros mais fartos. O Terno me deu esse prazer, os caras tocavam alto!

Meu irmão, a guitarra do Tim cantava, como cantava. O cara saturou aquele Meteoro 50 watts, numa cabine 2×12, plugada à sua semi-acústica Hofner mais seus 35 pedais, e o groove que seus comparsas armavam para ele brincar de Guitar
Hero era fortíssimo. Não é deboche, neste dia ganhei uma inspiração viva a quem olhar, um cara com pegada de verdade no instrumento, que sabe como produzir o som. Que toca guitarra com vontade!

O momento Everest da noite, sim, foi lá que essa música me levou, aconteceu quando eles apresentaram uma releitura do Canto de Ossanha de Baden Powell e Vinicius de Moraes.

Aquilo para mim foi de uma sensibilidade absurda, completamente inesperado, o suingue, o feeling, a originalidade. Quando não havia mais pelos no corpo a serem arrepiados, as glândulas se comoveram e fizeram descer as lágrimas. Chorei de alegria por ouvir um som tão bonito. Meus amigos, uns de olhos fechados, outros boquiabertos.

Mais para o fim do show eles se lançaram numa jam, daquelas que duram mais que o esperado e quando se vai ver a música de quatro minutos já está na casa dos sete, beirando oito, improviso total, do jeito que tem que ser. Tim solou loucamente, lisergia pura, o groove baixo e batera, presente, pulsante, vivo. Só de lembrar me arrepio. Tive o impulso de gravar no celular para ouvir depois. Me contive, gravei no coração.

Felizmente alguém postou no youtube, infelizmente o áudio está uma merda. Liguem as caixas bem alto que talvez salve.

Não sei se todos que estavam no Circo captaram a honestidade e força daquele som, expressões faciais confusas surgiam, pessoas que provavelmente não entenderam porquê o guitarrista pôs-se, durante quatro minutos ininterruptos, a fazer barulhos estranhos com sua guitarra. Mais triste que isso, foi ver o baixista, “Peixe”, indignado por, mesmo em meio aos gritos de bis dos espectadores, não poder tocar mais devido ao cronograma apertado do evento. Diga-se de passagem que a próxima banda era Malu Magalhães. Diga-se em evidência que o palco ficou mais de meia hora vazio.

Não esperei para vê-lo ser preenchido. Metemos o pé, matamos uma larica, compramos um CD.

Administrador Iluminerd

A mais estranha figura nesse grupo: não posta, não participa de podcast, mas foi ele quem uniu todas as pessoas dessa bagaça...

Este post tem um comentário

Deixe um comentário