Literatos: O Caso Helena

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Fala, meu povo famigerado por livros, mas que pena por acesso à cultura popular! Hoje, falaremos sobre um dos mais novos romances policiais a pintar na praça…e com certa exclusividade! Então, para sanar a curiosidade de muitos, a resenha tratará sobre O Caso Helena, de Günther Miranda!

Felizmente, a literatura policial nacional vem passando por um processo de renovação interessantíssimo, resgatando diversos estilos, como em  Suicidas, de Raphael Montes, O Anjo, de Ricardo Reyes – uma oba ao estilo de Ian Fleming – e o afamado “B.”, de Ricardo Labuto – que remete ao noir No entanto, suprindo nossa carência do clássico gênero whodunnit – abreviação de Who Done It? (do inglêsQuem Fez Isso?), o tipo de romance policial em que há vários suspeitos para um crime – Gunther Miranda retrata  uma ótima trama perfeitamente descrita no seio do militarismo (Aeronáutica) carioca, a Base do Galeão!

Rápido, rasteiro e envolvente, o autor,  que responde nesta obra por Hamza Ahmad, nos traz a investigação do ex-sargento da aeronáutica – atual inspetor da 9ª DP – Marlos Wagner sobre o homicídio da Capitã Intendente Helena Marinho, da Base Aérea do Galeão. Sobre o enredo em si, como de costume, deixo-lhes a orelha da obra assinada por Ricardo Labuto Gondim:

O livro policial é, fundamentalmente, um jogo. Como o autor se acha mais esperto que você, elabora uma narrativa sedutora e quase sempre embute algum tipo de trapaça. O ás na manga do jogador. O dado viciado. Se você não percebe o ardil, o autor vence a partida e isso é ótimo: a vitória de quem escreve é o prêmio de quem lê romances policiais.

“O Caso Helena” propõe um tipo diferente de jogo. É claro que o autor tem os seus recursos. Gunther Schmidt de Miranda escreve para ganhar, mas conta a história por um único ponto de vista: o do policial civil Marlos Wagner. É com ele que você irá trabalhar passo a passo na investigação. Marlos não tem o gênio extraordinário de Sherlock Holmes. Nem a ciência ilimitada de CSI. Marlos é um gaúcho a serviço da policia do Rio. Ele só tem malícia, método e um caráter inexível (“Eu não desisto nunca!”). Mas não é esse o diferencial do livro. Como seu personagem, o autor é policial. Todas as coisas que você não quer ver, ele já viu. Enfrentar a violência que você teme é a rotina dele. Talvez por isso, Gunther Schmidt de Miranda tenha um estilo tão direto e áspero. Na gíria dos “puliça”, seco como “chumbo cru”. Talvez por isso, o livro esteja carregado de verdade. E, talvez por isso, a capitã intendente Helena Marinho seja assassinada na Base Aérea do Galeão logo na primeira página. Sem preâmbulos ou embromação. O resto é dúvida. E o mais que atormenta o dia a dia de um país cruel. A única certeza é que você vai querer jogar.

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No tocante às críticas, sinceramente, faço questão de assumir a surpresa que tive ao a ler este título. Não que menosprezasse o estilo ou o autor, contudo, faz muito tempo que não leio algo que bebe da mesma fonte dos grandes clássicos e, principalmente, tendo o Rio de Janeiro e suas Instituições Militares como plano de fundo.

Além de tratar de questões como homofobia e sucateamento de instituições públicas, o enredo é bem construído e as reviravoltas da trama acontecem em seu clímax. Não que o autor esteja imune a erros, como todos nós não o somos, entretanto, é raro ver a perícia de um verdadeiro Policial Civil – ex-integrante da CORE – sendo posta no papel com tanta didática. Fato este que serve aos demais escritores para fonte de estudo, como pode ser visto nos exemplos seguir:

“(…) Notou as Inscrições CBC – 9 mm – 10(…) fabricada pela Companhia Brasileira de Cartuchos no ano de 2010.”

“Reparou que a espoleta também era dourada e assim deduziu: esta munição é original, não recarregada.”

Ora, quando nos explica o passo a passo de uma investigação feita por um policial. Ora, ao trazer mais detalhes técnicos, o autor faz duras – e cabíveis – críticas a FAB (Nepotismo, sucateamento da estrutura, falta de médicos legistas, perícia criminalística e balística), expondo boa parte da lama que parece contaminar uma das mais afamadas Forças brasileiras, algo pouco comentado pelos meios de comunicação.

Assim, para deixá-los com mais vontade de conhecer a obra, separei algumas frases, a princípio bobas, mas que ao serem ditas por um ex-sargento se tornam de grande relevância:

Vejo que a Força Aérea ainda tem uma velha mania: premiar o incompetente com promoções.

O militar brasileiro não sabe nem fazer guerra, ainda quer fazer investigação?

Não à toa que o coletivo de burros e soldados é tropa.

Essa é a Força Aérea: nosso militarismo que desde a Segunda Guerra não sabe o que é um confronto é muito babaca e defasado

Por fim, gostaria de afirmar que esta obra faz jus a um lugar cativo na estante de qualquer fã do gênero, afinal, além de ser um produto nacional, realista e contemporâneo, nos remete aos bons e velhos tempos da clássica literatura policial.

Para os interessados, o lançamento do livro (Editora Verve) ocorrerá na quarta-feira (04/06/2014), às 18h, no Centro Cultural Da Justiça Federal no Rio de Janeiro, localizado na Av. Rio Branco, 241 – Centro.

 

Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

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