Quando os jornais brasileiros noticiaram um rapaz preso a um poste com um cadeado de bicicleta (que segundo as mesmas fontes, era um praticante habitual de atos infracionais), a sociedade brasileira se dividiu: de um lado, sob argumentos individualistas e protecionistas, alguns aplaudiram a atitude, enquanto outros, do lado oposto, repugnaram tal ato, utilizando inúmeros argumentos.

Uma reação em cadeia ocorreu depois da história do adolescente que foi encontrado amarrado num poste. Do sul ao norte do país, uma série de atitudes consideradas por alguns como “desabafo social” ocorreram. Criminosos espancados. Criminosos amarrados e jogados em formigueiro. Um infeliz e mal calculado golpe de arte marcial de alguém que quis ajudar, ato este que levou um criminoso para o cemitério e tornou uma pessoa de boa vontade, a princípio, investigada por crime de homicídio. Em sites de jornais, na área reservada para os leitores, verdadeiras atrocidades eram/são escritas, que até Hitler teria orgulho. Jornalistas utilizando seu direito de liberdade de expressão para expressar, data vênia, uma infeliz opinião acerca das atitudes dos pretensos justiceiros.

A última rodada de atrocidade social foi protagonizada por uma mulher que, por causa de um suposto comentário em uma rede social, foi considerada “bruxa” (sim, em pleno século XXI), e estaria sequestrando crianças para macabros e tenebrosos rituais de magia negra. O povo, sem pensar duas vezes, com seu instinto primitivo ops, nobre e moralista, espancou a pobre coitada até a morte. Mais uma família destruída, pois, segundo a imprensa, a mulher espancada até a morte tinha dois filhos.

Fico imaginando no meu poleiro com meus fies cães companheiros. Sou uma cara de sorte. Eles são animais irracionais, mas são muito dóceis. Verdadeiras crianças puras, mas eles não foram criados para serem assim, são animais. A genética deles passa um instinto de sobrevivência que pode ser cruel, para os olhos humanos. Mesmo assim, com treinamento, muito carinho e bons cruzamentos, temos seres irracionais menos cruéis do que muito ser humano… E nós humanos?  Meus dóceis e fieis cães têm essa desculpa. São animais irracionais e podem pisar na bola um dia, mas e nós seres humanos? Não mudamos em nada, continuamos cruéis e previsíveis.

Já ouvi argumentos tentando dar conta de que o espancamento da pretensa bruxa é culpa de religião. Tão fácil jogar pedra em telhado de vidro… Não é culpa de religião. Vamos parar de tirar “o da reta” do ser humano e encarar os fatos: somos cruéis. Para quem crê em um Deus cristão, só com muita misericórdia e amor d’Ele, para ainda estarmos vivos.

Mag

Uma das garantias fundamentais que o ser humano adquiriu com o passar da história da humanidade é o direito de se defender de acusações e de se considerar inocente até que se prove o contrário. A essência desta garantia começou a brotar na Magna Carta de João Sem Terra de 1215 e continuou a se desenvolver, ganhando novos horizontes, novos detentores, até chegar aos dias de hoje, onde TODOS os seres humanos têm tais direitos. Ironicamente, nos esquecemos disso quando o barco está afundando…

Mas pra que isso? Para que garantir Direitos e Garantias Fundamentais? O país está perdido. Tudo está errado. O Estado não faz seu papel.  Para que habeas corpus, direito à privacidade, direito de garantir a integridade física das pessoas? Vamos pegar nossa espada bastarda e orar para Crom, pois o mundo é dos bárbaros.

Agora você me pergunta: Pássaro, por que você associou isso tudo? Não acho que as coisas estejam ligadas… Eu respondo: pequeno padawan, ainda tenho muito que aprender na vida, mas te garanto que, indiretamente, estudo tudo isso de maneira interconectada. Olhe para dentro de si e filtre esse sentimento todo de indignação e verá de que estou falando. Faça auto-reflexão. No fundo somos falhos, somos egoístas e sempre pensamos em nós mesmos em primeiro lugar. Isso é ser humano…

Chega de dar desculpa vazia para a violência das pessoas “de bem”. Hoje me senti enojado por pertencer a raça humana. Estou cansado dessa “justiça social”… De gente achar que está certo isso. Tudo bem, vivemos num país livre. Em um país livre você pode pensar diferente, mas não pode agir contra a lei. Só para não fugir do tema, segue o tipo penal em evidência:

      “Exercício arbitrário das próprias razões

        Art. 345 – Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:

        Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.”

Mas Harvey, só um mês de detenção? Sim, mas termine de ler a frase e verá que tem a pena da violência junto.

Praticamente como um fenômeno criminológico, tais fatos sociais, podem ser tratados como “copycat“, ou seja, quando ocorre um determinado crime que causa grande repercussão, acaba gerando outros da mesma natureza. Vide, inúmeros casos de atentados em escolas americanas e atualmente essa onda de “justiça social” que ocorre no nosso país. Apenas para não deixar o povo perdido, criminologia é a ciência empírica e interdisciplinar, que estuda o crime, criminoso, a vítima e o controle social.

Mas o efeito “copycat” não é uma desculpa para a população agir assim, mas sim uma forma de olhar o problema.

Para terminar, as sábias palavras de Bill Watterson, através de Calvin e Haroldo