Metal Gamer – Política X Politicagem

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Olá, Nerds e Nerdas, tudo bom?

Depois de um longo e tenebroso inverno, resolvi escrever algo para a minha coluna que estava carente de texto. Devido ao trabalho e à vida pessoal, fiquei sem tempo e sem criatividade para tal, mas aproveitei o recesso de fim de ano para voltar a usar a criatividade (ou não) e colocar algo interessante (ou não).

É impossível não termos relacionamentos por afinidade e/ou por interesse, senhores. Em ambos, é necessário jogo de cintura para conseguirmos algo e, principalmente, para uma melhor convivência. Desde convencer a namorada a ir ao cinema e assistir o filme que você quer ou conseguir favores no meio profissional, as relações que construímos são importantes meios para se atingir um determinado fim.

Gordon Gekko
Gordon Gekko

Nos dois casos, esbarramos com o ato de fazer política ou, em alguns casos, o ato de fazer politicagem. Para um melhor entendimento, vamos definir o que significa cada um:

Política:

É arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. É a aplicação desta ciência aos assuntos internos da nação (política interna) ou aos assuntos externos (política externa). Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância. (Wikipedia)

Politicagem:

Política que tem por objetivo atender aos interesses pessoais ou trocar favores particulares em benefício próprio. Política reles e mesquinha de interesses pessoais. Refere-se aos políticos adeptos dessa prática. (Dicionário)

Ou seja, podemos resumir política como o simples ato de “fazer o jogo de cintura”, “ceder para evitar brigas ou algum tipo de inconveniente, ir a almoços familiares, aniversários etc” e a politicagem pode ser resumida em só fazer as coisas por interesse, a famosa negociação em que cada um coloca suas fichas na mesa e vence quem tem o melhor blefe ou barganha. O nosso Congresso Nacional é o maior exemplo em que os políticos só agem por meio da politicagem. Acordos são firmados visando poder e benefícios próprios e não para a nação. Nesse caso, fica até difícil separar o que é política e o que é politicagem.

No ramo empresarial há um excelente livro, escrito por Mintzberg, Safári de Estratégia, que identifica 14 tipos de culturas e ajuda a pessoa a identificar qual delas a empresa em que a pessoa atua mais se adapta. Aquela que se assemelha com o texto apresentado é a Escola do Poder cuja estratégia é feita pelo processo de negociação.

O cinema adora abordar esse tema e existem vários filme sobre o assunto. Um filme que é muito bom é o clássico e excelente Wall Street, estrelado por Michael Douglas, interpretando o magnata Gordon Gekko.

Convivemos, como dito no início do texto, com esse tipo de coisa ao longo de nossas vidas, mas, particularmente, acho muito triste, cansativo e desestimulante quando há mais politicagem do que política ao nosso redor. Infelizmente, coisas do tipo acontecem em locais como família e amigos. Sempre fui uma pessoa que faz as coisas porque gosta, claro que, se um dia algo der certo, que bom, mas, até então, é tudo uma grande brincadeira, que deve ser levada a sério e com responsabilidade. Algo simples, como uma reunião familiar, pode se tornar uma verdadeira queda de braço, um jogo de poder e o que deveria ser algo divertido passa a ser um inferno.

Harvey Duas Caras
Harvey Duas Caras

Lamento muito que pessoas precisem se unir a terceiros, formar grupos para ganhar benefícios, poder de decisão etc. Como disse no texto acima, quando se trata de poder, fazemos de tudo: nos unimos a pessoas que não gostamos, fazemos coisas que no fim nos beneficiarão e tais coisas podem ser, e em sua maioria são, banais, como tirar uma pessoa do time de futebol, convencer os irmãos a não contribuir com que um irmão consiga comprar a sua casa própria, etc.

Esses são alguns exemplos que podem acontecer conosco, como disse, coisas banais, mas que, para alguns, é de extrema importância e não cabe a mim tentar saber e /ou entender as atitudes de tal pessoa. Isso porque, como também disse anteriormente, me sinto desestimulado com essas coisas e algo que fazia com prazer deixa de ser prazeroso. Na maioria, prefiro me afastar a me estressar com coisas que não tem o porquê de me estressarem. Eu sei que há pessoas que sorriem para mim e, quando viro, começam a falar mal. Isso, também, nunca me incomodou, porque sei que a minha personalidade é de não se estressar com as coisas, levo tudo na brincadeira, mas é realmente lamentável quando a politicagem começa a reinar no seu convívio social.

O exemplo mais recente que lembro está em Batman: O Cavaleiro das TrevasNo filme, temos o tensionamento dessas duas formas de se fazer política. Por um lado, Harvey Dent, James Gordon e Bruce Wayne tentam arquitetar um plano para ampliar o relacionamento político de Dent com o fim de torná-lo uma figura pública de importância maior na cidade. Para tanto, promovem festas, debatem ideias e auxiliam Dent em suas investigações. O que pode parecer, num primeiro momento, politicagem, nada mais é do que política em sua maneira mais clara, pois o objetivo do trio é fazer com que Gotham se torne uma cidade mais segura.

Os mafiosos da cidade constituem o outro lado da moeda. Todo mafioso, por excelência, é uma hábil manejador das práticas da politicagem. Na cena em que temos a reunião dos mafiosos, pouco antes de o Coringa aparecer, vemos que a discussão é astuta – todos estão preocupados com suas famílias e com o roubo de portentosos dólares de suas mãos. O problema é que não se trata de família, mas de lucro individual – todos os chefes perderam dinheiro com a ação do Coringa e, por isso, resolveram (até momentos antes do mesmo dar as caras) que a melhor maneira de reaver seus lucros seria matar o Coringa. Já o Palhaço, o Bobo, o Joker, entende mais os meandros da politicagem do que qualquer um.

Nesta cena, há uma verdadeira aula de politicagem...
Nesta cena, há uma verdadeira aula de politicagem…

Ora, se a politicagem visa num primeiro momento a recompensa individual a todo o custo, é torna-se claro que seu objetivo último seja o caos, o terreno do Palhaço do Crime. Dessa forma, para promover o caos, o Coringa consegue persuadir a todos a deixá-lo vivo (com uma bomba acoplada ao corpo) e ainda promete que seus lucros aumentarão, desde que sigam o seu plano. A cabeça de um mafioso, então, pensaria: “Bem, vou ter mais capital sem fazer esforço e, ainda por cima, terei o meu principal inimigo morto? Muito tentador…” Tentador é a palavra-chave, pois, numa segunda análise é possível perceber que o Coringa nada mais é do que um sociopata no grau 1 do Índice da Maldade do Dr. Stone. Ou seja, o negócio é potencialmente uma furada, mas se pode aproveitar até que ele se torne, não é mesmo?

Agora, o que mais me chamou a atenção no filme é sua cena final. Harvey Dent tem sua alma corrompida, a transformação pela qual passa é inimaginável para todos nós. Imagine você viver em dor e essa sua dor ser causada, em parte, pela perda da mulher amada. Imagine ainda que o motivo da morte de seu amor seja simplesmente o fato de que você estava tentando fazer as coisas da maneira correta, pelos meios próprios da política, e um coscuvilheiro consegue acabar com a minha plataforma política (lado profissional) e minhas aspirações pessoais. É claro que iríamos surtar. Portanto, não é Harvey Dent que se torna um adepto da politicagem.

O Comissário de Polícia James Gordon e o vigilante Batman é que se tornam, ao final de Batman: O Cavaleiro das Trevas, os novos mafiosos de Gotham. Eles transferem rapidamente uma preocupação de ordem pessoal – “Não posso combater o crime para sempre numa cidade corrupta” ou “Eu sou aquilo que Gotham precisa” – em algo aparentemente social, como falar de família, por exemplo – “Nós temos de preservar a imagem de Dent como herói”. Sob esse prisma, Batman não se sacrifica, mas concede ao Coringa a vitória em busca de algo que só interessa a ele e a Gordon – uma mudança radical no combate à criminalidade de Gotham. Nesse sentido, as forças do bem são corrompidas e passam a agir como as forças do mal da cidade. O grande vencedor em Batman: O Cavaleiro das Trevas não é outro que não o Bobo, o Palhaço, o Alcoviteiro, Aquele que comeu a Tia do Bátema, o Coringa.

Gordon, seu grande filho da...
Gordon, seu grande filho da…

Reitero, nesse momento, o que disse acima – política é algo necessário para o convívio social, é algo sem o qual a sociedade seria basicamente mantida a tiros e assassinatos generalizados. A politicagem, em larga escala, é aquilo que permite que tiros e assassinatos generalizados seja a ordem do dia. Em menor escala, a política é aquilo que nos permite reconhecer no outro algo de valor e ceder quando há algo que nos aflige. A politicagem é seu exato oposto, é a maquiagem de ceder, é a malandragem da ajuda, pois sempre, infelizmente, seu objetivo final é a rápida garantia de que o indivíduo será beneficiado – ou seja, é seguir o ditado: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Espero que todos aprendamos a ser políticos e esqueçamos, ou tentemos combater, a politicagem de cada dia.

Abraços.

Leonardo Delarue

Nerd clássico, nascido na década de 80, que gosta de video-game e heavy metal. Só escreve o que gosta, sem bases para sustentar suas teorias e/ou argumentos.

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