O Manifestante e o Criminoso do século.

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Chupinhado diretamente do GLOBO:

“Prisão. Caio foi detido por volta das 3 horas desta quarta-feira, 12, em um hotel na cidade baiana de Feira de Santana (a 100 km de Salvador). Ele foi levado ao Rio em um voo convencional e chegou ao Aeroporto Internacional do Rio às 8h40.”

“Caio foi levado para a Cidade da Polícia, em Jacaré, na zona norte, onde o delegado da 17.ª Delegacia de Polícia (DP), Maurício Luciano de Almeida, responsável pela prisão na Bahia, concedeu entrevista coletiva.”

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Como todos percebemos, em mais uma espetaculosa cobertura de imprensa, a Polícia Civil do RJ conseguiu efetuar a prisão do maior criminoso de todos os tempos da última semana. Identificado como Caio Silva de Souza, o cidadão “assumiu” ser responsável por acender o rojão que fatidicamente levou a óbito o cinegrafista da Rede Bandeirantes, Santiago Andrade.

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Será que Caio é o mesmo cara que estava com o rojão?

A morte de ser humano algum deve ser banalizada, mas que espetáculo é este que a estamos sendo apresentados?  Bode expiatório ou não, a despeito das teorias conspiratórias, algo vem me chamando a atenção em relação a mais esta morte,  durante os protestos que se espalharam pelo país. A partir de qual momento a mídia importou-se tanto com a violência no decorrer das manifestações? Quando foi criado todo este alarde sobre a morte de um civil dentre as milhares de passeatas que vêm ocorrendo de 2013 para cá? Seria apenas corporativismo ou estamos realmente presenciando uma espécie de formação ideológica em função do estigma e criminalização dos manifestantes que arduamente têm nos representado nos mais variados protestos? Ou será que estamos diante da manipulação da morte de um inocente em função da ilegitimação de um movimento social que demorou décadas para finalmente surgir?

Pode parecer exagero, mas quando vimos algum PM, acusado de ter asfixiado ou cegado algum manifestante, ser preso ou dar entrevista coletiva para a Globo horas após sua detenção? E vamos ser mais francos, em que mundo os “ diabólicos anarquistas” perderiam seu tempo para dar entrevista coletiva à emissora mais odiada pelos críticos do sistema vigente?

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   Não tenho respostas, mas basta observar com um pouco mais de cautela para que alguns véus caiam, e os interesses das classes dominantes, verdadeiros senhores da guerra, venham à tona. Quanto foi pago para todo este circo ser armado e o nosso sujeito ter variado tanto de compleição física e etnia neste curto espaço de tempo? Parece exagero? Não me seria novidade alguma que um bode expiatório fosse obrigado a ali estar, visto que há alguns anos atrás um amigo foi obrigado a testemunhar a favor de um PM após ser parado e ter seus documentos apreendidos arbitrariamente, sob a ameaça de que, se não testemunhasse, seria cobrado depois. Também parece exagero? Assim como o detido é claramente diferente das primeiras fotos, sabemos com muita firmeza, claro como 1 mais 1 são 5, que a ciência já provou que algumas pessoas sofrem grandes transformações físicas após determinados traumas, talvez seja mais fácil cancelar a revista Boa Forma e começar a matar inocentes, em especial se  não estiver a favor do Estado.

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Até pensei em falar sobre  a invencionice ou tentativa vã de sujar a imagem do Deputado Marcelo Freixo e, de quebra, mexer com a opinião pública, no entanto deixarei o título da infeliz notícia postada pelo ridículo G1 e em seguida a resposta do próprio Deputado.

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 Nota de esclarecimento e repúdio:

“Vamos por partes. Ontem (10/02), o jornal publicou manchete tentando me vincular aos dois acusados. Segundo a reportagem, eu os conheceria. Forçaram a barra e usaram uma ligação telefônica ouvida exclusivamente pelo advogado Jonas Tadeu Nunes, mas estranhamente registrada e assinada na delegacia pelo seu estagiário, como prova dos supostos vínculos. Um indício extremamente frágil para sustentar uma acusação grave e irresponsável.
A suspeita, claro, não se confirmou. Fábio e o rapaz que teria deflagrado o rojão, Caio Silva de Souza, não têm qualquer ligação comigo ou com o PSOL. O Globo, em vez de se retratar, publicou hoje (11/02) uma nota pela qual a mãe do tatuador diz “achar que o filho conhecia o deputado Marcelo Freixo (PSOL)”. Acha que conhecia? Eu acho que isso não é jornalismo.”

Infelizmente, o Governo, da mesma forma que os empresários da Copa, parece ter adorado a morte deste pobre repórter, visto que até a nossa ilustre Presidenta veio a publico informar que a Polícia Federal também se incumbiria das investigações, dizendo-se “triste e revoltada” com o acontecimento. Então Presidenta, por favor, ilumine este pobre Iluminerd: quer dizer que quando a senhora não pronuncia ou se omite é devido à pouca importância do caso, ou à pouca revolta que o mesmo provoca em Vossa Excelência?

Click na foto caso queria ver o vídeo de como ficou o pobre aposentado Sr. Tasman, morto atropelado após fugir da PM no mesmo dia do fatídico acidente com o rojão.
Clique na foto caso queria ver o vídeo de como ficou o pobre aposentado Sr. Tasman, morto atropelado após fugir da PM no mesmo dia do fatídico acidente com o rojão.

 Destacaram-se helicópteros, além de um enorme efetivo para a captura do criminoso mais procurado no país, e, dessa vez, não estou falando do Sr. Maranhão ou outros políticos que sujam a nacionalidade brasileira. Todo este aparato foi destacado para capturar apenas um jovem, enquanto a mesma polícia que deveria estar sendo investigada devido ao uso excessivo da força nas manifestações, sequer responde criminalmente mesmo após a identificação de seus agentes. E, só para piorar, alguns até foram poupados de qualquer punição devido aos bons serviços prestados durante a JMJ de Nossa Santidade o Papa!

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Só queria entender o porquê de em momento algum ser citada a morte de outro cidadão neste mesmo dia e local? Por que ninguém mencionou o atropelamento do idoso Tasman Amaral Accioly, de 63 anos, ocasionado pela quantidade absurda de bombas de efeito moral e gás lacrimogênio lançadas pela PM? Seria pelo simples fato de ele ser um ambulante sem cheiro e sem sabor? Tasman não era gente? Matá-lo não feriu a democracia? Ou, quem sabe, precisamos de mais corpos para que finamente os meios de comunicação façam o seu papel ou meramente cumpram o seu código de ética?

Será que a mídia quer assumir tão obviamente a sua disfunção em serviço prestados ao telespectador, ao expor o quão podre pode ser através da prática da desinformação, manipulação ou distorção dos fatos? Mesmo que muitos acusem o indivíduo ou o movimento que ele representava, será que alguém questionou qual é o interesse da Globo em fixar tanto este tópico, quando a própria Bandeirantes não se pronunciou tantas vezes? Será que esta emissora não gostaria de deixar às claras que seus profissionais vão a campo sem o mínimo de equipamento de proteção individual? Afinal, já é o segundo cinegrafista morto em dois anos.

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E voltando a este assunto, por que a morte do cinegrafista Gelson não foi tão explorada quanto a do cinegrafista Santiago, visto que ambos morreram no cumprimento do dever e de forma violenta?

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 Mais nojento ainda é ver o jornal O DIA ou O POVO e suas capas obscuras falando sobre o crime contra a democracia, pelo fato de ser o primeiro jornalista morto na cobertura de um protesto… Se não me falha a memória, não seria por acaso em função dos mesmos protestos, da mesma luta pela liberdade de imprensa e democracia, que alguns jornalistas perderam a visão ou foram mutilados, neste último ano, em função de balas de borracha disparadas pela polícia?

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Quantos outros repórteres tiveram equipamentos e membros quebrados devido às cassetadas dos mesmos agentes da Lei? Quantos foram presos ou torturados em menos de um ano, pelo crime de defender o nosso direito de manifesto?

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Por favor, vamos parar de hipocrisia. Inclusive os colegas do Meia Hora, que desta vez não usaram de sua criatividade mórbida para copiar uma imagem engraçadinha da internet e ganhar todo o crédito por isso…

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  Isso não deve nem ser chamado de jornalismo. É por esta e algumas outras razões que não se faz mais necessário o diploma de jornalista para exercer a função, afinal, para deturpar fatos, omitir e influenciar a opinião de terceiros não é preciso nem caráter.

Para aqueles que não sabem, segue uma singela lista com os mortos do último protesto:

  1. Cleonice Vieira de Moraes, em Belém (PA), vítima do gás lacrimogêneo lançado pela polícia militar;
  2. 13 mortos na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré (RJ) – neste caso, a imprensa sequer se deu ao trabalho de informar todos os nomes;
  3. Marcos Delefrate, de 18 anos, em Ribeirão Preto (SP), atropelado por um carro que furou um bloqueio de manifestantes;
  4. Valdinete Rodrigues Pereira e Maria Aparecida, atropeladas em protesto na BR-251, no distrito de Campos Lindos, em Cristalina (GO);
  5.  Douglas Henrique de Oliveira, de 21 anos, que caiu do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte (MG), por ter sido acuado pela polícia militar;
  6.  Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, atropelado por um caminhão que fugia de uma manifestação, numa ciclovia próxima à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na altura de Guarujá (SP);
  7. Paulo Patrick, de 14 anos, atropelado por um táxi durante manifestação em Teresina (PI)
  8.  Fernando da Silva Cândido, ator, por inalação de gás lançado pela polícia, no Rio de Janeiro.
  9.  Tasman Amaral Accioly , atropelado por um ônibus, ao tentar fugir da polícia, na mesma manifestação em que o cinegrafista Santiago foi atingido – sobre esta outra vítima, nenhuma linha na imprensa.

Precisaram de um bode expiatório e, aproveitando-se da fatalidade da morte de um cinegrafista, muitos comemoram a perda da legitimidade popular das manifestações! Redes de TV dedicam parte do seu oneroso horário apenas para solidificarem a guerra contra os manifestantes, agora chamados de Black Blocks. Em breve, veremos nossos amigos, familiares e outros conhecidos repudiando atos e protestos, devido à morte de gente inocente, como se isso não tivesse ocorrido antes, pelas mãos do próprio Estado.

E para fechar o caixão, olhem isso:

“O senador Jorge Viana (PT-AC) ocupou nessa tarde a tribuna do plenário para defender a aprovação do regime de urgência para o projeto que tipifica o ato de terrorismo no Brasil. Para o senador, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, foi exatamente isso: consequência de um ato terrorista.

O projeto de lei 499/2013 da Comissão Mista do Congresso para a Consolidação da Legislação Federal e Regulamentação de Dispositivos da Constituição Federal está pronto desde o ano passado para ser votado pelo plenário do Senado, mas precisa que seu regime de urgência seja aprovado.

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A criminalização do direito de contestar é o real esvaziamento da própria democracia. O que vemos aqui é a reprodução da antiga tática maquiavélica de dividir e conquistar, afinal a repressão direta não se faz eficiente em face da segregação social, onde, separados em “camadas” ao invés de lutar contra a causa, lutamos um contra o outro, na barbárie das consequências.

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Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

Este post tem 6 comentários

  1. gabymolko

    Juro que eu ia ler o texto inteiro e comentar meu parecer até chegar a esta frase “É por esta e algumas outras razões que não se faz mais necessário o diploma de jornalista para exercer a função”… Não Vitor, não é POR ESTA RAZÃO que não temos mais direito ao diploma.

    Não temos direito ao diploma por uma manobra política de desmoralizar a nossa função na época em que mais e mais jornalistas estavam levando ao público as denúncias contra o Sarney. Nessa hora é fácil esquecer, não é?!?

    Concordo que tem muita coisa errada nessa história, muito interesse mal explicado, muita acusação sem fundamento, MAS isso não dá o direito de ninguém generalizar qualquer que seja o lado.

    E esse foi o erro do movimento DESDE O COMEÇO, pessoas atacando jornalistas e meios de comunicação como se eles fossem os inimigos, passando a mão na cabeça de uma tal “Mídia Ninja” que não demorou muito e sucumbiu aos interesses da própria.

    Os erros policiais durante esses protestos foram inúmeros e enormes, inclusive fui vítima de alguns deles, mas os erros aconteceram dos dois lados. Se ao menos o movimento parasse e assumisse que errou, que matou quem não deveria ter sido morto, que estava ali para mostrar a causa, todo o resto do argumento fosse ouvido. Agora, ficando no alto de uma razão inexistente acima de um corpo de um cara que morreu trabalhando, fica difícil.

    1. Don Vittor

      Fala querida Gaby,

      Confesso-lhe que não sabia sobre esta manobra pró-Sarney, no entanto, quando digo aos demais colegas que um jornalista sem postura ética não é um jornalista, na verdade é um elogio a profissão. De que vale um diploma acadêmico quando você não cumpre com o seu código de ética? Sinceramente, gostaria que os péssimos profissionais que enganam o povo com paradoxal imparcialidade não fossem jornalistas, todavia, ainda temos muitos deles por ai. Hoje qualquer um pode exercer tal profissão, e tenho certeza absoluta que não é devido as linhas editoriais tendenciosas – o que é uma lástima – , pois a cada dia que vejo um jornalista formado agir feito um lacaio em função do dinheiro, perco a fé na profissão que nos presenteou com Décio Sá, Vladimir Herzog, Rodrigo Neto de Faria e Roberto Saviano – este ainda vivo – … Pode ter certeza que fico tão triste quanto você.
      Sobre o trabalhador que foi morto, por que não falaram nada sobre o Sr. Tasman? Ele também era trabalhador, vivia naquele ponto e eu passei por ele um hora antes dele ser atropelado… O Santiago morreu? Sim! E ele é mais uma vítima! Mais uma vítima da corrupção deste país imundo, afinal, ele não foi morto por ser cinegrafista, e muito menos por vontade daqueles que querem mudar o país. Ele morreu, pois estava ali tentando exercer sua profissão quando um rojão explodiu e o acertou de maneira fatídica…Uma vida que se perde. Um movimento que perde seu poder de legitimação, enquanto, seus amigos jornalistas abdicam da razão para a existência de a tal passeata para “sensacionalizar” os culpados.

      Sabe quem curtiu isso? O edu paes, o barata, o cabral, a fifa e todos os outros que conseguiram mais uma vez desmoralizar uma insurreição popular em função de casos isolados.

      1. gabymolko

        Em nenhum momento disse que Sr Tasman não deveria ser mencionada, não só deveria como é um direito de todos saberem o que aconteceu com ele.

        Porém o que me incomoda é que todos estão ignorando o fato que, independente de quem fez, alguém se posicionou relativamente perto e atrás do cinegrafista e acendeu um rojão, assumiu sim o risco de machucar alguém. E esta pessoa tem que ser punida assim como todos os policiais que agiram errado durante as manifestações. TODOS tem que pagar pelo que fizeram.

        1. Don Vittor

          Sim, estamos de acordo. Mas não podemos ter um peso e duas medidas, visto que o possível agressor está respondendo por homicídio doloso, enquanto no Brasil vários outros vão a julgamento por homicídio culposo. Devemos culpar a todos de maneira igual, sem distinção econômica-social e interesses políticos.

          1. Dr. Housyemberg Amorim

            Ele está respondendo a homicídio com dolo eventual, Vittor. Trata-se do seguinte: o promotor acredita que os dois sabiam que aquilo poderia matar alguém, mas não apontaram para o cinegrafista, seguindo o que ambos confessaram.

            O que é mais interessante é que o rapazinho não foi capturado, ele se entregou. Foi ele que ligou, foi ele que ficou esperando, etc. etc.

            Sobre os jornalistas e sua perda de função, são alguns fatos relacionados. Tem o problema do Maranhão, um ataque sistemático realizado à família Sarney e que estava dando resultados, teve também o ataque aos baianos Magalhães que também começava a dar resultados – ambos relacionados com a Globo. Daí, deu no que deu, né?

          2. Dr. Housyemberg Amorim

            Esclarecendo mais uma coisa. O jovem que aparece na foto (o branquinho) se chama Tomaz Cesario Martinelli. O rapaz publicou recentemente essas fotos em que aparece um rapaz branco de camisa cinza e calças jeans. Afirmou ser ele o referido rapaz, dizendo que não fora ele a soltar o rojão.

            Certo, ele tem o direito de declarar inocência, uma vez que, aparentemente, ele, no momento em que o jornalista está estendido no chão, foi até o grupamento policial solicitando ajuda. Porém, cabe a Polícia Civil chamar o garoto para interrogatório, pois é um dos envolvidos no caso.

            Só este fato, por si só, derruba a seguinte notícia: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/perito-confirma-que-caio-souza-lancou-rojao-que-matou-cinegrafista.html

            A pergunta é como um perito confunde um mulato com um moreno claro, seria daltonismo ou algo mais? Fica a provocação no ar…

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