Ode ao Fim da MTV

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No dia primeiro de agosto de 1981 nascia a primeira Music Television do mundo, a MTV Americana (ou como muitos chamam, A Matriz). A primeira imagem desta TV foi uma montagem da chegada do homem à Lua carregando uma bandeira com o símbolo da emissora seguido da locução de John Lack: Ladies and gentlemen, rock and roll.

Nove anos depois, a MTV já estava lançando sua terceira versão, a primeira na TV aberta. Em 20 de Outubro de 1990, nascia a nossa MTV, a MTV Brasil. Com a função de ser uma rádio na televisão, seus primeiros programas eram extremamente musicais e seus VJs eram como locutores de rádio em vídeo. O primeiro clipe exibido pela emissora foi Garota de Ipanema de Marina Lima e, acredite, este foi um grande passo para a televisão brasileira em muitos aspectos.

É fácil falar dos impactos musicais no Brasil, mas a nossa MTV foi além disso. Antes de seu surgimento nós tínhamos dois problemas:

a) Videoclipes (que já eram comuns fora do país) só eram exibidos no Fantástico (que inclusive produziu o primeiro clipe brasileiro), em um programa da TV Gazeta chamado Clip Trip, no Som Pop da TV Cultura e no Clip Clip também da TV Globo. Essa escassez de música na televisão funcionava mais ou menos como a falta de música pop na BBC; a música pop (nacional e internacional) era bem mais difícil de ser descoberta e a programação das rádios era controlada pelas grandes gravadoras.

b) Nós tínhamos essa cultura de que televisão era feita por gente velha ou rica ou ambos, o que fazia com que a nossa mídia engatinhasse e as faculdades de comunicação social (especialmente RTV) se esvaziassem.

Logo no seu início, a MTV criou dois programas que foram extremamente importantes para acabar com esses dois terríveis hábitos que tínhamos: Lado B e YO!

O Lado B – com a apresentação de Fábio Massari (O Reverendo ou A Enciclopédia Musical Viva) – era um programa focado em música alternativa, o que trouxe muita coisa nova e diferente para as lojas de discos e inferninhos espalhados por São Paulo.

O Yo! era especializado em rap e hip-hop. Sua primeira intenção era cobrir apenas o cenário internacional, porém a dificuldade de conseguir material e a pressão do público fez com que o programa focasse mais no cenário nacional. Uma das razões de você conhecer Racionais MCs ou ter pelo menos ouvido falar do Sabotage é esse programa ai.

Já em 1991 a MTV também passou a dar voz ao heavy metal com dois programas apresentados pelo Gastão – Fúria Metal e Gás Total – e para a música eletrônica com o histórico AMP MTV.

Em 1995, rolou o primeiro VMB, estabilizando ainda mais a cultura do videoclipe dentro do país, coisa que permitiu grandes produções como Segue o Seco, da Marisa Monte, Diário de um Detento, dos Racionais MCs, A Minha Alma d’O Rappa e, hoje, Chefe de Quadrilha da ConeCrew Diretoria.

Ao longo dos anos, a MTV foi perdendo essa função de rádio televisiva e virou de fato uma televisão; seus programas comportamentais e campanhas de conscientização faziam parte de seu calendário. Foi com a MTV que muitos jovens começaram a discutir dentro de casa a homossexualidade, o sexo e a necessidade da utilização de camisinha.

A MTV também foi pioneira na interação com o público com programas como o clássico Disk MTV (virando Top MTV no futuro) e o game Garganta & Torcicolo no Paraíso das Ovelhinhas apresentado pelo João Gordo.

Ainda falando de interação, enquanto as emissoras ignoravam a Internet, a MTV importava o Overdrive, dando espaço ao conteúdo online e a produção feita pelos telespectadores.

Um dos momentos mais legais de todos, na minha humilde opinião, foi a canção dos dez anos da MTV. Era o momento de ouro da MTV.

Em meados de 2007, a MTV entrou numa crise existencial e desistiu de passar o que a fez ser o que é, música. Isso durou pouquíssimo, mas foi o suficiente para mudar completamente a visão do telespectador sobre a emissora. Também foi nessa época que o investimento pesado no humor foi feito no canal.

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Nascida no começo dos anos 90, faço parte do que chamam de geração Music Television, e a minha história com a MTV começou pelos dias de 1998.

Nesta época a TV já tinha cara definida, opinião formada, VJs novos e programas consagrados; eu era uma criança. Lembro que liguei a TV certo dia e, mudando os canais, descobri o número 12. ♪Take on me, take me on…♪ e lá estava eu achando que assistia a algum desenho maluco numa língua qualquer. Também nesta época enquanto meus amigos tinham Xuxa e Eliana, eu tinha a Britney Spears entediada na escola cantando no ginásio e dançando com uns caras que ela encontrou no corredor. Bons tempos.

Os anos foram passando e madrugadas a dentro eu ia assistindo, clipe atrás de clipe, programa atrás de programa, aos 10 eu já sabia qual era a importância de se usar camisinha sem nem saber o que era sexo direito.

Tive a imensa oportunidade de conhecer aquele prédio no bairro Sumaré por dentro em meados de 2005 e, num fatídico dia, tive a sorte de conhecer um rapaz que me levou pra dentro de um dos estúdios mais legais da época, o do Jornal da MTV, e foi ali que eu tive a certeza que televisão era a minha vontade.

Por causa destes momentos acabei fazendo amigos e aprendendo lá tudo o que hoje coloco em prática na faculdade e aprendi com os melhores.

A questão é: todos nós – estudantes de RTV/audiovisual/comunicação social ou não – temos uma história com a MTV, a Abril tem uma história com a MTV, e vê-la saindo da TV aberta é como perder um sonho, é como perder aquela sensação que muitos tiveram ao vê-la: dá sim para fazer diferente.

Faço deste meu post como ex-autora e sempre-leitora do Iluminerds um agradecimento a todos que fizeram, fazem e farão a MTV, para os que idealizaram e para os que idealizam, para os que saíram e os que ainda vão entrar nesta TV.

E após as luzes se apagarem, eu espero que a memória ainda reste.

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Gaby Molko

Paulista, musicista, jornalista, detalhista, sessentista, comentarista, imediatista e polemista.

Este post tem 3 comentários

  1. toddy

    Muito bom Gaby, conheci a MTV bem no início dos anos 90, e aquilo era mesmo um sonho para os jovens da época! O Garganta e Torcicolo era muito louco, depois o RockGol que era algo sensacional, mas como um ótimo sonho, tudo terminou! Sorte de quem viu a MTV na sua melhor época, eu vi, e me sinto muito feliz!!!

  2. Ultra Pessimista

    Talvez o problema foi exagerar no humor, ninguém pode ser engraçaralho o tempo todo, eu adoro programas e documentários que falam de musica mas sem levar na galhofa como a MTV fazia.

  3. Luiz Felipe Oliveira Champloni

    Convenhamos que os problemas da MTV eram muito mais sérios do que simplesmente terem parado de passar videoclipes.

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