O primeiro filme a que assisti no festival deste ano foi incômodo o suficiente para expulsar da sala um terço da plateia ao longo da projeção.
O desespero da adolescente Honggui, que aguarda o retorno de seus pais tanto quanto a chegada de sua primeira menstruação, acompanha todo o filme, como uma nuvem escura.
Para buscar trabalho, seus pais a deixaram com parentes numa pequena aldeia há quase uma década. Este é um fenômeno social que já abrange atualmente cerca de 60 milhões de crianças chinesas. Honggui cresce sem figuras paternas e parece flutuar acima, ou abaixo, dos acontecimentos, sem envolver-se verdadeiramente com ninguém. Sejam os tios, colegas de escola ou seu melhor amigo.
Apenas uma pedra na qual foram entalhados caracteres, formando um carimbo, a faz esquecer por alguns momentos do sangue menstrual cuja chegada aguarda ansiosamente. Esse sangue é ao mesmo tempo símbolo de submissão e poder, orgulho e vergonha, no filme de Huang Ji, que venceu o Festival de Roterdã deste ano.
A violência ao qual o sangue está historicamente vinculado surge melancolicamente na trama, direto e cortante. Não há como ficar impassível frente ao procedimento médico-hospitalar sugerido, por exemplo.
Não apenas Honggui, mas todos os demais surgem em cena sombrios, como pálidas sombras do que poderiam vir a ser. Seus rostos, todos borrados, escondem o que há por dentro. Para além do sangue que os une e separa.
Nota: 7,5.
*Ainda há sessões do filme na quarta-feira (3/10).