Já aviso, o texto é longo… Mas vale a pena (claro!).

Seguindo a minha série de textos sobre vídeos no Youtube (porque eu acredito na produção de conteúdo segmentado e em vídeos on demand), aqui vai mais um sobre a suposta profissionalização do serviço – lembrando que ainda não estou me referindo ao conteúdo.

Recentemente, assisti a um vídeo de um dos youtube gamers que acompanho respondendo a acusações sobre o uso de bot e sobre montar uma espécie de cartel para dominar o Machinima Brasil – se ele não tivesse postado isso, talvez nunca soubesse sobre os bastidores… Para entender melhor a questão, assisti aos vídeos de acusação e de defesa e li comentários sobre os fatos. São muitos achismos, opiniões e mimimis. Para tratar o tema, decidi criar um esquema mais claro, separando o que é fato e o que não é – na verdade, fiz isso para facilitar a confecção do texto…

No entanto, mais importante que descobrir a verdade, é o nosso entretenimento. Finalmente, temos um conteúdo diferente no meio gamer! Chega de Minecraft, Vlogs de pessoas criadas pela avó ou livestreams inúteis. Agora temos novela!

Modo Objetivo

Retirando-se a gordura inútil e as acusações sem prova, o que fica, de fato, no centro da questão, é uma história de complô contra uma pessoa (merecidamente ou não). Rio Hunter, um youtuber das antigas, perdeu seu emprego no Machinima como responsável pelo conteúdo do canal brasileiro da empresa norte-americana. Sua dispensa foi resultado de uma “solicitação” de alguns youtubers. A lista não está clara, mas podemos citar Monark, Leon, Venom, BRKsEdu e MxDeegan.

Este grupo, notadamente forte em função do tamanho de seus canais, entrou em contato com o presidente do Machinima e pediu a saída de Rio Hunter (Anderson). De fato, Monark admite que entrou em contato com o Machinima afirmando que se Rio continuasse, ele sairia da network – BRKsEdu também admite ter entrado em contato com o Machinima.

Cedendo ao pedido deste seleto grupo, Anderson foi mandado embora. Isso ocasionou sua dor de cotovelo e uma onda de acusações criminosas. Inclusive, fatos ocorridos em meados de 2011 voltaram à cena – Leon acusou Anderson de fraudar o número de views e favoritos de canais. Vídeos explicativos, opiniões e gravações estão sendo publicados. Anderson os acusa de montar uma “panela” que impede canais pequenos (ou que eles não gostem) de crescerem no Youtube e afirma que foi mandado embora injustamente. O grupo, por sua vez, afirma que Rio Hunter é um criminoso e prefere não trabalhar com ele.

No fim, são acusações sem provas contundentes de ambos os lados. A justificativa dada pelos youtubers para a repulsa da contratação de Rio é bem fraca, pois se baseia, aparentemente, em um vídeo de um gringo que analisa as estatísticas de Rio Hunter. Monark, em seu vídeo-resposta, cita apenas esta prova. Se há outras, não se sabe oficialmente.

Modo Fifi

Neste modo, permito-me a liberdade de interpretar o que está acontecendo.

Primeiramente, preciso admitir que estou adorando essa confusão… Depois de um ano acompanhando estes canais, que não evoluíram em termos de conteúdo, finalmente algo de diferente está acontecendo.

Peço aos youtubers envolvidos que façam suas respostas – como Monark fez. Não apenas para suprir meus desejos de barraqueiro, mas também para não deixar lacunas. As acusações de Rio Hunter e suas gravações, além do surgimento de diversos outros canais acusando-os da mesma coisa, são bastante fortes e lógicas…

Sendo assim, seguem minhas especulações…

A presença de Rio Hunter incomodava de alguma forma os youtubers. A princípio, o problema começou com Leon, em 2011, e se espalhou para os outros. A questão só voltou à tona quando Anderson conseguiu o cargo no Machinima. A partir daí, penso em algumas justificativas para a atitude do grupo:

1. A “panela” acredita, com base primeiramente nas afirmações de Leon, que Anderson realmente não é uma boa pessoa e cometeu fraudes no Youtube;
2. A “panela” tem medo dele porque sabe demais sobre os esquemas de formação do oligopólio e/ou uso de bots;
3. A “panela” usou o fato como desculpa para tentar romper o contrato com o Machinima e criar uma rede própria.

A terceira justificativa é bem subjetiva. Cheguei a ela através da interpretação de fatos: os youtubers unidos são os maiores do Brasil; eles querem faturar mais com seus canais (aumento do CPM); e Leon, Monark e Venom planejam abrir uma empresa juntos.

Posso estar completamente errado, mas, como os envolvidos não apresentam nenhuma prova de verdade, o que nos resta é especular…

Modo Corporativo

Qualquer infração (moral ou legal) deve ser reportada e investigada. Se uma alegação não surte efeito após destacada, provavelmente não apresentou justificativa ou prova suficientes para isso. Assim, permanece no campo subjetivo. Em toda esta “novela”, as acusações graves (fraude) deveriam ser investigadas. Se nada for comprovado, bola para frente. Acusar e espalhar sem provas reais ou vereditos oficiais (do Machinima ou Youtube) está errado. Antes da galera toda (panelacraft e Rio Hunter) jogar as fezes no ventilador, deveriam ter realizado uma investigação (sindicância) completa.

Sobre a formação de um grupo fechado, isso não é problema de fato. Pessoas se aproximam por diversos motivos, inclusive para parcerias profissionais. Da mesma forma que pequenos podem se unir, grandes canais também. O objetivo derradeiro é aumentar as visualizações.

As relações são criadas por diversas razões: interesses financeiro ou profissional, afinidade pessoal, sorte etc. A união desses youtubers grandes não fere em nada esta dinâmica. O mundo corporativo é feito de alianças. Infelizmente, quem fica de fora sempre se sentirá prejudicado. Um diferencial neste caso é que no Youtube os excluídos ainda possuem voz e podem usar as mesmas ferramentas que os incluídos para protestar.

De qualquer forma, unir-se para derrubar alguém sem provas suficientes (pelo menos, é o que oficialmente chega a nós usuários) não é corporativismo, é sacanagem. Se eles possuem provas verdadeiras e não opiniões e especulações, então que as apresentem.

Modo Profissional

Este é o outro lado da profissionalização, aquele que envolve dinheiro e o que há de mais primitivo no comportamento humano: sobrevivência.

Era previsível que canais monetizados passassem a se preocupar com o retorno financeiro. É natural. Tentar agradar ao público a fim de conseguir maiores lucros é válido. Assim como agrupar-se para crescer – é o somatório de competências a serviço de um conteúdo mais agradável.

A profissionalização monetizada, por outro lado, também traz ambição, mesquinharia e safadeza. E não estou afirmando que a Panelacraft é assim. Entretanto, a própria existência da novela, independente de quem estiver certo, é a prova de que o Youtube entrou definitivamente para o mundo profissional/corporativo – acordos, fofocas, intrigas, sacanagens, acusações, aperfeiçoamento…

O que fica no final disso tudo não são o jogo de interesses, acusações e o lucro exagerado, mas a imaturidade de muitos dos envolvidos em lidar com o assunto. Essa imaturidade (reflexo da pouca idade e experiência no mercado de trabalho) está presente tanto nos youtubers quanto naqueles que os assistem – basta olhar os comentários e vídeos-resposta, é um show de idolatria desmedida, ignorância e cegueira racional.

Enquanto isso, nós, usuários, podemos nos deliciar com as trapalhadas desta trupe mais que animada! Afinal, eles estão ganhando muito bem para ficar só gravando gameplay (e alguns nem se dão ao luxo de fazer uma edição mínima)…