Pensando as manifestações – Por Thiago Matiolli – Parte I

Você está visualizando atualmente Pensando as manifestações – Por Thiago Matiolli  – Parte I

A revolta da salada, ou a revolta das ressignificações, as palavras de ordem que vem movimentando o Brasil.

revolta-da-salada-sao-paulo-sp-16-06

Nas últimas semanas, as ruas do país foram ocupadas por milhares de pessoas, em sua maioria, jovens, mas quem circulasse junto a elas, se veria entre pessoas de várias idades, muitos trabalhadores, professores universitários,  crianças e outros que já haviam participado de movimentos sociais e políticos em outras décadas.

O estopim para toda essa manifestação foi o aumento das tarifas de metrô e ônibus em São Paulo de R$ 3,00 para R$3,20. Frente a isso, o Movimento do Passe Livre de São Paulo, organizou sua militância em torno de uma luta pela revogação desta elevação da tarifa. O MPL não é nenhum iniciante neste processo de luta, ele nasce no Fórum Social Mundial, 2004, e já comemora quase dez anos de vida. Ele é embalado pela Revolta do Buzu, na Bahia em 2003 e das manifestações em Santa Cantarina, 2004, por conta também do aumento de ônibus. Mas, desde o início, a luta nunca foi apenas por conta de 20 centavos, mas sempre houve uma pauta composta pela questão da mobilidade urbana e dos transportes públicos.

24409.38744-I-Vinagre-SP

Assim, ocorrem os três primeiros atos, em um movimento ascendente de pessoas aderindo à causa e respondendo ao chamado feito pelos manifestantes de ir para a rua, o conhecido: “Veeeeem, veeeeem, veeeeem pra rua vem, contra o aumento!”. No terceiro ato, houve algo em torno de 8.000 pessoas, um aumento com relação ao segundo ato (o primeiro e segundo atos, respectivamente, em 06 e 07 de junho, reuniram em torno de 5.000 pessoas[1]). Até então, as manifestações tinham cobertura da mídia que a rechaçava calorosamente, vide editoriais da Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. Outro a rechaçar com uma análise foi o celebrado cineasta pseudo-cronista e analista político de um mundo que só existe em sua cabeça, como  se vivesse no desenho animado “Fantástico Mundo de Bob” ou do antigo “No mundo da lua”, Arnaldo Jabor, que viria a se retratar dias depois. Sempre apontando a violência e o vandalismo das manifestações, desconsiderando seu potencial político.

O terceiro ato é realizado na véspera do dia dos namorados. Em que pese seu caráter comercial, no dia 12 diversos casais de namorados aproveitam para celebrar o sentimento que os une e faz feliz. Assim, o dia dos namorados antecede o quarto ato contra o aumento das tarifas de ônibus e metrôs, e, na quinta-feira 13, acabou o amor e algumas ruas da cidade de São Paulo viraram o inferno. Neste dia, parafraseando a famosa série de filmes de terror protagonizadas por Jason e sua máscara de Hóquei, milhares de pessoas, com suas máscaras de Guy Fawkes ou não, protagonizam um momento histórico.

133511

O que fez a quinta-feira 13 um dia de terror foi a truculência policial, que não só ultrapassou os limites do ordinário e da violência necessária, mas também transcendeu as ruas para as telas de computador por meio das redes sociais de todo o mundo. O registro da reação repressiva e violenta da polícia sem um motivo claro por câmeras e celulares dos manifestantes trouxe à tona a realidade dos ataques policiais, não como resposta a agressões dos ativistas mas como o início da violência, com imagens de jovens sentados nas praças, nas ruas sem oferecer nenhum grau de violência, sendo covardemente atacados por balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Ficou claro, então, que a violência não tinha origem nos jovens, mas na polícia. E uma nova palavra de ordem surge: “sem violência”. No quinto ato contra o aumento, já inflado pela mudança na cobertura midiática aos movimentos, os manifestantes constatam: “Que coincidência, não tem polícia, não tem violência”.

protesto_sp_violencia_policial

Mas não só o registro da violência policial levou à guinada na cobertura da mídia e aceitação da opinião pública dos movimentos, a ação desnorteada da polícia vitimou alguns jornalistas, dois deles – cujas fotos circularam em redes sociais – foram atacados com tiros de borracha nos olhos. O ataque contra os meios de comunicação pela polícia foi outro elemento essencial para que jornalistas e os meios de comunicação passassem a endossar o movimento. E daí, o endosso passa a ser um esforço fortíssimo para ressignificar o movimento e construir sua pauta.


[1]     Segundo excelente texto sobre o ocorrido: http://www.viomundo.com.br/politica/o-aviso-de-incendio-soou-a-esquerda-diante-do-gigante-verde-amarelo.html

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem 5 comentários

          1. toddy

            hauhauhauhauha

Deixe um comentário