Pensando as manifestações – Por Thiago Matiolli – Parte Final

Você está visualizando atualmente Pensando as manifestações – Por Thiago Matiolli  – Parte Final

Sob gritos de “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”, o mesmo brado que sai dos pulmões da torcida brasileira nas arquibancadas em jogos do Brasil, o número de manifestantes, que já era ascendente, sofre uma explosão e, segundo estimativas questionáveis, 65 mil pessoas vão à rua em São Paulo. No Rio, estima-se um total de 100 mil pessoas; e outras cidades do país, quiçá do mundo, vão também à rua em apoio ao movimento iniciado pelo Movimento do Passe Livre. Inspirados, provavelmente, por um comercial de uísque, muitos são levados a crer que o gigante acordou. Mas é preciso entender tudo isso melhor.

ogiganteacordou

O gigante que acordou, como bem analisado nas redes sociais, é homem, branco, de classe média, despolitizado, machista e racista. Afinal, manifestações e gente na rua, há, desde sempre, no país: contra as remoções originadas pelas obras da Copa do Mundo; a luta pela manutenção do Museu do Índio e da Aldeia Maracanã; contra o genocídio negro nas periferias; os índios se manifestando contra a violação de suas terras e sua cultura; e várias outras. Mas, pelo perfil acima apontado, das manifestações, ele não é de homens brancos e de classe média. E quando ele acorda, talvez não um gigante, mas um mostro, palavras de ordem são ressignificadas.

A última vez que o "gigante" acordou...
A última vez que o “gigante” acordou…

“Veeeeem, veeeeem, veeeeem pra rua vem, contra o aumento”. O “contra o aumento” é suprimido, o problema não é mais o aumento das tarifas, mas a corrupção e a política. Nunca foi só pelos 20 centavos, mas isso não significava que era com pautas vagas e abstratas como a corrupção, não ser por 20 centavos queria dizer que era por direitos sociais, por mobilidade urbana e transporte público de qualidade. A pauta da corrupção e contra os políticos é alegremente defendida pela mídia, que é o grande ator que ganha força política com a crítica desqualificada feitas aos políticos.

“Oooooh,o povo acordou, o povo acordou, o povo acordoooou”. Esta palavra de ordem era cantada nos primeiros atos e foi mantida com os agregados ao movimento, os mesmos que cantam seu orgulho em ser brasileiro, com muito amor. Mas o sentido muda. O povo que havia acordado, eram aqueles poucos milhares que tinham um foco em sua luta. Agora, um monte de recalcados, sem saber direito o porquê se veem como povo e deixam de ver Malhação durante um dia e vão para as ruas com rostos pintados para tirar foto e postar no Facebook ou no Instagram. Sem saber direito, vão pra rua também cantar que ele, como parte do povo, acordou. Mas, como cantado nos atos do dia 18 de Junho e circulado nas redes sociais, a periferia nunca dormiu. E aqui vale a pena resgatar outras palavras de ordem cantados na Avenida Paulista no dia 18:

policia-asfalto-e-favela

            “Nacionalismo é o C*, esse país é racista sanguinário”

            “Fascistas, fascistas, não passarão”

            “Porque a alegria, a PM mata pobre todo dia”

            “Um patriota, um idiota”

            “Fora PM o mundo”

            “Ei patriota, isso aqui não é propaganda da copa”

Palavras de ordem entoadas por um grupo menor, que queimou algumas bandeiras do Brasil, num tom anti-nacionalista. Reconhecendo-se o papel do nacionalismo na ditadura brasileira ou mesmo nos regimes fascista e nazista, de Mussolini e Hitler.

“Sem violência, sem violência”. Entoado, incialmente, contra a polícia, por conta de sua reação truculenta no três primeiros atos, é ressignificada quando o monstro, não o gigante, efetivamente, acorda. Vídeos mostraram manifestantes entoando essa palavra de ordem, quando eram sistematicamente atacados por policiais, de modo desarrazoado. Na semana seguinte, a palavra não era apenas contra a polícia, mas voltado para os próprios manifestantes, ganhando o mesmo sentido de uma nova palavra de ordem “sem vandalismo”.

É preciso qualificar o que é o vandalismo. Montagens nas redes sociais, os tais mêmes, apontam elementos interessantes como: fazer a Revolução Francesa pode, mas pichar e tomar a bastilha não; ou, reunificar a Alemanha pode, mas quebrar o muro de Berlim já é vandalismo.

Essas chamadas captam nossa atenção para o fato de que, por um lado, falar em “manifestações pacíficas” é uma redundância. Afinal, as manifestações tendem a ser pacíficas em si. Por outro lado, o fato de que, muitos dos atos violentos não são vazios de sentido político e voltados para elementos simbólicos que estruturam o mundo contra o qual se critica, por exemplo, o ataque à ALERJ, aos carros e símbolos da FIFA, ou a veículos dos meios de comunicação em massa e mesmo aos pardais na Av. Presidente Vargas. Não há vandalismo puro e simples, esvaziado de sentido. Há aí mais um forte conteúdo simbólico que vem à tona – após anos de silenciamento e descontentamento represado que só pode ser realizado através de ataques a estes símbolos de tudo o que está errado aí.

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Deixe um comentário