Pessoas em Lugares (Festival do Rio 2014)

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É o encontro de Chaves com David Lynch. Mais do que um filme, é uma experiência daquelas que só encontramos no Festival do Rio.

Ela começa na estranha sinopse contida na revista de programação, que define o filme como caleidoscópico, o que efetivamente é. Passa pela sala de exibição, a menor do circuito Estação em Botafogo, com apenas 68 lugares apertados, nem todos preenchidos, e aparência de cineclube.

E a experiência culmina no filme propriamente dito, que, a despeito de parecer uma sucessão de vídeos em VHS, realmente envolve pelo absurdo das situações, pela construção dos personagens e pela total imprevisibilidade.

A narrativa é fragmentada, por vezes enigmática, apresentando perguntas e colocações, cujas cenas muitas vezes terminam bruscamente, como se mudássemos de canal numa hipotética televisão.

Evoca Chaves pela tosquice da filmagem, pelas cores esmaecidas, e, principalmente, pela inocência cínica de seu humor. Cenas como a do rapaz que está sempre disposto a ensinar desconhecidos a realizar tarefas simples como beber água ou caminhar são absolutamente geniais, a ponto da simples aparição de seu personagem provocar gargalhadas na plateia.A liás, além de Chesperito, senti um quê de Monty Python, pela coragem demonstrada pela trupe do filme, que inadvertidamente utiliza o humor como forma de questionamento.

David Lynch também está nas entrelinhas, na estranheza da fotografia, no visual de personagens e cenários e em dada simbologia que surge em diversos momentos. Um dos personagens, um sério engravatado, chega a aparecer magicamente no meio de um palco em que o público desata a rir dele, que percebe que suas roupas estão desaparecendo.

No instante seguinte, a plateia se cala, mas os risos ainda ecoam. O desconforto é total. Alguém lembra do Teatro do Silêncio, em Mulholland Drive – A Cidade dos Sonhos? A sensação de estranheza e deslocamento permeiam os segmentos, que alternam comédia com dramas domésticos, metalinguagem, encenações de poesia e discussões filosóficas – sobres zumbis, inclusive.

Pessoas em Lugares, como uma livre e bela diversão surrealista, é uma experiência imperdível.

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Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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