Post do Leitor: Maggot Brain Funkadelic

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Fala galera que curte um bom som, mas na Hora H não morde a fronha! Hoje, devido a bombástica ascensão do site, Cof cof! , apresento-lhes João Viegas.
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Existe uma máxima, se você é do tipo que crê nelas, que diz, “tudo na vida tem dois lados”. No funk dos anos de 1970, a banda também tocava assim. Em um corner tínhamos James Brown, sempre elétrico, com seus vocais energizados, performance inconfundível e aquele penteado escroto. No outro lado, igualmente negro, do funk… (Atenção, faço aqui um parênteses, uma vez que essa coisa de tudo ter duas extremidades pode ser bem abrangente. Vejamos: poderia ser esquerda direita, cima baixo, mau e bom, bem ou mal, mal mau ou bem bom. Sem contar que, não raro, nos depararmos com mais de duas extremidades, três, às vezes quatro, às vezes até vinte; os dados de D&D, por exemplo. Obviamente, estamos a tratar de coisas materialmente palpáveis, uma vez que análogas às coisas existem as situações, as quais em nada perdem no número de lados que podem manifestar, sendo estes extremamente sutis ao número de pessoas envolvidas).

Dizia eu sobre James Brown no seu canto… acontece que, em termos funkeléticos, James Brown era um sujeito tranquilo, de cabeça boa, provavelmente ia à missa todo domingo. O perigo de verdade morava na cabeça de seu evil twin, doppelgänger, clone alienígena, sósia do multiverso, Mr. George Clinton, o verdadeiro pai do P-Funk, o funk psicodélico!

 A carreira do cara começou nas horas vagas. Ele era liricista da famigerada Motow Records e, para ganhar o pão nosso, passava o dia alisando cabelos numa humilde barbearia, daquelas que todo gueto tem, tipo a do seriado O Maluco no Pedaço, que foi, provavelmente, onde eles, o Will Smith e o George Clinton, arranjaram aqueles penteados ridículos.  Acontece que as letras que Clinton escrevia eram não usuais demais para uma gravadora mainstream. Quem colocava para tocar Marvin Gaye, não ia dar play logo em seguida em:

“Chocolate City Uh, what’s happening CC? They still call it the White House. But that’s a temporary condition, too.”

Não só os cortes de cabelo de Will Smith foram influenciados por Clinton. Aqueles 4 adolescentes de L.A. que gostavam de colocar meias nos pirus, afim de aquecê-los enquanto tocavam nus, conhecidos como Red Hot Chili Peppers, gravaram um dos seus melhores discos sob os suingados mandamentos de George. Foi ele quem assinou a produção do Freaky Styley. Clinton era a maçã podre que corrompeu as outras. Um verdadeiro inovador. De tempos em tempos, no mundo da música surgem umas criaturas assim, dominadas pela mentalidade “olha, esse som tá legal, mas já foi feito antes! Tentemos algo diferente, ô homem do baixo, liga esse teu amplificador de ponta a cabeça para ver se os graves ficam invertidos também!”.

Vejamos nosso reverendo Eddie Hazel! Diretamente do Brooklyn, New York, criado em New Jersey, desde guri o cara já não largava a deusa de 6 cordas. Tinha apenas 17 anos quando foi recrutado pelo louco mais gênio de todos para o seu projeto de formar uma big band de funk-rock – o Funkadelic-Parliament. Bombardeados pelos tambores groovicos sincopados de Tiki Fulwood e pelas linhas de baixo encaixadíssimas e pulsantes de Billy Nelson, além de terem se comprometido a uma rígida dieta à base de doces e ervas, foi assim que os caras alquimizaram o seu terceiro e mais influente disco, Maggot Brain (traduzindo, Cérebro de Vermes). Segue a capa.

É assim que mesmo que você vai ficar depois de ouvir este disco. Na realidade, sua bela face já se encontrará destorcida após a primeira faixa do álbum, um solo de guitarra de nove intensos minutos, gravado em um take só, de prima, daqueles para fazer Jimi Hendrix aplaudir de pé. Se pudesse descrever este solo em uma única palavra, ela seria: “Uma verdadeira transposição cerebral alucinógena caleidoscopicamente subvertida em notas musicais extraterrestres”. A verdade é que ir mais a fundo, e tentar explicar qualquer coisa além, produziria, senão, um dicionário verborrágico no melhor estilo mendigo pinguço de boteco hipster às altas horas da madruga! Por falar em Hendrix, a história desse solo é a seguinte. Eddie Hazel havia tomado um LSD antes da gravação, George Clinton, em seu visionarismo ímpar falou “Eddie, sola metade da música achando que sua mãe morreu, a outra metade você sola percebendo que, na realidade, ela está são e salva.” Assim foi feito.

 As inovações de Clinton não encerraram por aí,  perspicazmente ele criou toda uma “mitologia” própria, mais ou menos como a do J. R.R . Tolkien. Só que essa não se passava na Terra Média. Segundo a lenda, Starchild, a Criança-Estrela, aterrissou a Motherhsip na Terra para trazer o Holy Funk sagrado de volta ao Mundo. A nêmesis de Starchild é o Sir Nose Devoid Funk, que é o responsável por disseminar as energias negativas através da Placebo Syndrome, enfermidade que deixa as pessoas incapazes de dançarem e sentirem o groove do funk.

O Holy Funk, explicado no primeiro álbum da banda, Mothership Connection, seria uma energia cósmica de mesma origem que o próprio Big Bang, sendo responsável por trazer todos os bons sentimentos. No decorrer dos discos lançados pelo Funkadelic-Parliament essa temática será recorrentemente trabalhada e desenvolvida. Pode parecer que esses absurdos surgiram depois que um viciado em crack resolveu ler a Bíblia, entretanto, o universo paralelo de George Cliton é tudo menos um apanhando de ilusões superficiais. As alegorias são análises satíricas do nosso estilo vida moderno em diversos aspectos. O próprio poema introdutório ao solo de Maggot Brain já levanta essa questão. Não vou explicar, mas sim deixar que o leitor faça sua própria interpretação.

Descascando, descascando, a filosofia de Clinton é bem simplória e pode ser compartilhada com qualquer pessoa que busque uma visão quase compreensiva do universo, a qual inclua um Deus que dança e pregue que sacudir bem os quadris, com suingue e malemolência, claro, é crucial para manutenção da fé, assim como o rosário o é para os Católicos. Importante mesmo são seus álbuns; verdadeiras jornadas groovicas e experimentais capazes de arrancar um sorriso e molejo de qualquer um. Sem mais. Por sinal, o álbum tá todinho aí no Youtube!

Administrador Iluminerd

A mais estranha figura nesse grupo: não posta, não participa de podcast, mas foi ele quem uniu todas as pessoas dessa bagaça...

Este post tem 4 comentários

  1. Victor Vaughan

    Em um mundo onde eu cultuo o deus do Metal, que está acima de qualquer mesquinharia, porque não abrir o panteão com as boas-vindas para o deus do Funk!?! Salve George Clinton, grande avatar do molejo e swing!

    1. João Luiz Viegas

      Ah rapaz, nem falo que meu primeiro CD da vida, aos 12 anos, foi o Virtual XI. Ganhei um discman de natal só para proteger os familiares dos solos do Murray!

  2. Edu Aurrai

    Cara, esse disco é realmente fenomenal, um soco na cara de nego que só fazer música merda. Ter no carro é imprescindível.

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