Revista # 12f – Godzilla e o golpe de vista

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Aliás, golpe de vista é o carvalho. Foi propaganda enganosa mesmo.

Concordamos que não é nem um pouco profissional começar texto com “aliás”, e menos ainda redigir sob efeito da ira. É que é difícil manter o controle quando as coisas saem irremediavelmente do controle, e uma espécie de Hulk razoavelmente letrado se apossa de você.

Quando pessoas inteligentes e admiráveis escrevem em veículos respeitáveis ou levantam os braços e gesticulam enquanto argumentam sobre as qualidades de um filme que está por vir, você pode acreditar. Você pode confiar que haverá belas imagens movimentando-se a 24 quadros por segundo, tornando maravilhoso um saco de pipocas mais caro que alguns álbuns de HQ da Panini.

E, principalmente, quando você assiste a um trailer como foi o do Gojira, suas fichas pulam do bolso e, à sua revelia, apostam-se todas num esperado e estrondoso sucesso de bilheteria, a coroar o surgimento do que parecia ser a mais nova obra de arte da cultura pop.

Sim, pois não acompanhei as notícias, o eventual marketing viral e coisa do tipo, mas vi o trailer, e confesso que ele me fisgou. Primeiro, pelo design arrojado e pela fotografia em tons cinzentos e vermelhos, e depois pela temática adulta.

O clima sombrio e sério dele me deixou positivamente tenso. A presença de Brian Cranston, o “protagonista” de Breaking Bad, e de Aaron Taylor-Johnson, o Kick-Ass e futuro Mercúrio de Os Vingadores 2, me valeu como uma chancela, e havia ainda Ken Watanabe.

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Quando da estréia do filme, houve uma reportagem na tevê em que o ator que vestiu o primeiro traje de Gojira era entrevistado. Durante a matéria, ficamos sabendo que o filme original japonês era uma alegoria. Godzilla nasceu como representação do temor que os nipônicos sentiam de ter suas cidades devastadas novamente por uma ação irracional. O monstro radioativo equivalia às bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

O trailer desse novo filme levava a crer que o conceito original seria retomado. Ou melhor, que seria atualizado para a era das incertezas e do fatalismo. Ajustado para esse momento em que permanecemos relativamente imobilizados perante o terrorismo e as guerras irrefreáveis do presente.

No trailer, o monstro praticamente não aparecia, mas os efeitos de sua presença se sentiam em toda parte. A humanidade, assistindo a tudo, parecendo interferir mas, na verdade, atuando apenas para minimizar as consequências. Godzilla era, no mínimo, uma força da natureza, algo impossível de conter, e era esse o diferencial do longa, o seu trunfo.

Todavia, tudo não passava de uma armadilha dos marketeiros de Hollywood: O filme é bastante convencional. Bem produzido, com excelentes efeitos, mas não cumpre o que promete.

Não é o pior filme do mundo, tanto que está arrecadando milhões e ganhando uma continuação, mas teria sido melhor fazer um trailer mais condizente com as características da história e à narrativa linear e modorrenta da trama.

Pois não mostra o monstro como poderia ser. Pior ainda: Exibe-o como uma espécie de herói da Terra, algo como um Capitão Planeta sem os adolescentes com anéis. É capaz do Gojira voltar quando estrear Transformers 4 só para dar um pau nos Decepticons a fim de manter o “equilíbrio do planeta”.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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