Revista # 800 – Mapa : Voyeurismo, narcisismo ou cinebiografia?

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Como num sonho recorrente em que se percebe um fio condutor, um elemento repetido, reconhecível, capaz de, numa leitura posterior, criar uma unidade, pôr um sentido em todo aquele caos, encontrei algo comum a todos os Festivais do Rio de cinema de que participo.

Um filme pessoal, construído por vídeos autobiográficos, amadores ou não, que contam um recorte da história do próprio diretor.

Ao longo desses anos, já me deparei com produções que reuniam vídeos gravados desde o nascimento até a maturidade, vídeos de filmadores compulsivos, capazes de registrar até mesmo discussões ou foras de suas amadas, e mesmo gravações de momentos íntimos, de revelação de orientações sexuais ou de venda de virgindade.

No Festival do Rio 2013, a tradição (recém identificada) continua com Mapa, um filme-diário do diretor León Siminiani, no qual o espanhol narra a viagem feita à Índia para tentar distanciar da dor provocada pelo término do seu namoro.

A diferença dessa obra para as assistidas em outros Festivais do Rio é que essa foi desenvolvida por um diretor profissional. Não que Siminiani seja um às da sétima arte: Ele mesmo se apresenta como um cineasta fracassado que terminou como diretor de seriados infanto-juvenis na televisão, mas é inegável o domínio da técnica, pelo uso de aparato profissional e mesmo efeitos bastante criativos.

A viagem física e emocional do diretor é documentada como uma obra em construção, cujos caminhos ele incessantemente questiona, tentando encontrar um sentido em tudo aquilo, mostrando suas escolhas aos espectadores de forma divertida e bem-humorada, na forma de textos que surgem na tela, cortes, edição e narração.

É de uma sensibilidade rara e incrível simplicidade quando um efeito de caneta ou lápis “risca” a lua, representando seu desejo de esquecer sua amada Luna.

Um brilhante exercício de narrativa, no qual Siminiani aparece pouco, e quase sempre na forma de uma silhueta, e acompanhamos os demais “personagens”, todos pessoas reais, incluindo sua ex-namorada, que questiona a veracidade daquela filmagem da vida real, dúvida legítima e comum neste tempo de reality-shows full-time.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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