Revista # 9 – Não é um iluminamos sobre Nosferatu

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Hutter é um romântico. Colhe flores no jardim de sua casa e entrega-as à esposa que, emocionada, pergunta-lhe porque matou flores tão belas, recebendo em troca um abraço e um sorriso franco de quem acha graça disso.

Hutter é um incauto, e não vê que a cena que inaugura Nosferatu não é menos que um prenúncio do que está por vir. A morte do que é belo. Silenciosa e rápida. A morte como transformação, como mudança.

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Todavia, Hutter é um capitalista, e o verde do dinheiro que pode ganhar com a venda de um palacete em frente à sua casa a um proprietário de terras da Transilvânia mais que dissolve o negrume das névoas que se apresentam.

Hutter, sem demora, beija a esposa e parte, sem desconfiar que sua viagem atiçará um incêndio que somente o conhecimento poderá apagar.

Numa hospedaria da Transilvânia, na qual as camas são altas para evitar o assédio de ratazanas, há um pequeno livro substituindo a Bíblia. Um livro tal como um manual, embora adotado pelo, como já dissemos, incauto Hutter como conto de fadas. O livro trata de fantasmas muito particulares, os vampiros, que banqueteiam-se do sangue das pessoas.

Conde Orlock é o pássaro da morte. Sua visão é a de um ser inexplicado: aparenta a fragilidade de um velho e a repugnância de um animal doente. Seus movimentos são rígidos e curtos, havendo algo de muito terrível e inevitável neles.

Orlock assina os papéis da propriedade. A volúpia demonstrada pela fotografia de Ellen, a esposa de Hutter, que pende do pescoço do incauto, é a tradução literal do interesse do conde na cidade de Wisborg, na qual será um horror inesperado, desconhecido.

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A bordo de um navio segue o caixão de Orlock, os demais tripulantes jamais chegarão a Wisborg, somente o que consideram a peste negra, que silenciosamente elimina seus cidadãos, anunciada por um tambor marcial.

As noites sucedem-se cada vez mais ameaçadoras, e, por mais escuras que sejam, as sombras continuam lá, como grutas, prisões, becos sem saída.

Abandonado à própria sorte na Transilvânia, Hutter retorna aos braços de sua amada, portando o pequeno livro, como uma praga que insiste em deixar a plantação.

Graças ao que há de mais elevado no Céu, Ellen, atormentada, resolve confiar em sua própria fé, e chega ao fim da leitura do terrível exemplar, sabedora do que é necessário para encerrar aquele mal.

No crucial momento em que desejava ter com o pescoço oferecido de Ellen, Nosferatu encontra a luz, e ela não lhe cai bem. Uma armadilha exitosa, todavia a pobre moça não resiste a ela.

A Hutter restará chorar no leito de morte de sua esposa, sentindo a dor de um mal ancestral, a violência da morte.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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