Saturday Night Live, para quem não sabe, é um programa de comédia exibido pela rede norte-americana NBC que já está no ar há 38 anos. O programa, feito no formato de esquetes, é gravado em um teatro, ao vivo, perante um público, cuja reação espontânea é gravada e acaba fazendo parte integrante, muitas vezes enfática, do programa.

Este é o segundo, de uma série de 5 posts, destinados àquele que é um dos mais importantes programas de comédia que já foram exibidos na TV. O primeiro post foi uma breve introdução, contando um pouco sobre a estrutura do programa, comentando sobre suas possíveis influências (quem ainda não leu, pode ler aqui). Este segundo post será uma listagem dos comediantes já falecidos que fizeram parte do elenco ao longo desses quase 40 anos de programa. Será contado um pouco sobre a carreira deles e como a passagem pelo Saturday Night Live impactou suas vidas; o terceiro post falará dos “feridos”, ou seja, dos sobreviventes: no final das contas, veremos que sobreviver ao elenco do programa é tarefa pra poucos.

Gilda Radner.

Membro original do primeiro elenco do Saturday Night Live, Gilda Radner chegou a ganhar um Emmy por sua performance no programa. Sempre muito divertida, tanto no palco, quanto em entrevistas, a comediante, filha de um executivo judeu, manifestou desde cedo seu talento pra comédia. Outra característica marcante na vida da atriz foi sua sua luta contra a bulimia. Foi lançada no programa de rádio National Lampoon, mas alcançou a fama no SNL.

Foi a primeira comediante, pelo menos na televisão Norte-Americana, a sacanear sistematicamente âncoras e repórteres de TV reais. Como escritora, foi uma das responsáveis pela introdução do quadro fixo Weekly Update (que existe até hoje), que é o jornalístico sacana do show. Ficou no programa por cinco anos, saindo em 1980, e começou uma carreira no cinema, em filmes de comédia, por meio da qual conheceu seu marido e companheiro de toda a vida, Gene Wilder.

Gilda Radner fez três comédias seguidas com o seu futuro marido, todas razoavelmente bem sucedidos nas bilheterias. Sua carreira foi interrompida devido ao descobrimento de um câncer ovariano, que, apesar de debelado depois de um duro tratamento de quimioterapia e radioterapia, voltou em 1988, dois anos depois, desta vez de forma fatal.

Gilda Radner ganhou uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood por seu trabalho em comédia. Quem a viu em SNL sabe que qualquer reconhecimento é mais do que merecido…

Michael O’Donoghue

Escritor do grupo original de 1975, Michael O’Donoghue era um cara controverso, de ideias, no mínimo, diferenciadas. Boa parte do humor corrosivo crítico original que o programa jogava contra a própria NBC vinha desse escritor. Ganhou dois Emmys como melhor escritor de comédias, em 1976 e 1977.

Filho de um engenheiro e de uma dona de casa, Michael foi um garoto-problema, com tendências auto-destrutivas e uma força criativa que beirava o bizarro. Assim como Gilda Radner, foi lançado na National Lampoon, como roteirista, e teve seu maior reconhecimento quando foi escalado para escrever pro Saturday Night Live. Escreveu e atuou no esquete de estreia do programa, como um professor de inglês que ensina frases absurdas e sem sentido pra um estudante meio idiota, interpretado por John Belushi.

Sua saída do programa, em 1978, se deu de forma drástica: segundo se conta, ele teria criado uma esquete comparando os problemas do produtor e executivo-chefe da NBC, Fred Silverman, aos de Hitler no final do Terceiro Reich. John Belushi interpretaria o produtor, e a esquete seria realmente grande, com aproximadamente 20 minutos, e muitos cenários. O descontentamento da alta direção da NBC resultou na demissão do escritor.

Devido às suas ideias um tanto quanto não-ortodoxas, e à dificuldade em se articular com outras mídias (o escritor teria recusado até escrever algumas linhas para o programa dos Muppets), O’Donoghue acabou tendo dificuldade em se ajustar ao Establishment. E, alguns anos depois, convidado a voltar ao SNL como escritor-chefe, acabou tendo desentendimentos severos com todos os membros do elenco e outros roteiristas, que resultaram numa nova demissão.

Michael O’Donoghue morreu de hemorragia cerebral, em 1994. Seus amigos relacionaram a hemorragia a um longo histórico de enxaquecas crônicas.

Danitra Vance

Atriz formada pela Webber Dougas Academy of Dramatic Art, Danitra foi a primeira comediante negra a fazer parte do elenco fixo do programa. Comediante mediana, ficou conhecida basicamente por dois personagens recorrentes, que volta e meia apareciam no programa. Não há muito o que se falar dela, já que, graças ao talento mediano, não conseguiu se destacar muito para além dos limites do show.

A atriz foi vítima de câncer de mama, contra o qual teve uma vitória parcial em 1990, quando fez uma mastectomia. Infelizmente, o câncer voltou três anos depois e ela perdeu a guerra, vindo a falecer.

John Belushi

Filho de imigrantes albaneses, John Belushi também foi cria da companhia National Lampoon. O ator foi escalado pra participar em um episódio do programa de rádio National Lampoon’s Lemmings (os paus-mandados da National Lampoon), que seria uma crítica aos “hippies” de Woodstock. Seu papel no programa impressionou o pessoal da companhia e ele acabou sendo efetivado. Aliás, esse programa da National Lampoon revelaria ao SNL não só John Belushi: Dan Aykroyd, Chevy Chase e Bill Murray também saíram da trupe.

Ao longo dos anos de SNL, John Belushi firmou uma longa e íntima amizade com Dan Aykroyd, e, nos intervalos das temporadas do programa, gravou aquele que seria seu trampolim pra carreira no cinema: Clube dos Cafajestes (National Lampoon’s Animal House). Aliás, a amizade com o multitalentoso Dan Aykroyd renderia bons frutos a Belushi. Aykroyd deu a ele o papel principal no seu primeiro grande sucesso, Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers), e tinha pensado originalmente nele pro papel do mulherengo e sarcástico Peter Venkman, que acabou sendo interpretado por Bill Murray em Os Caça-Fantasmas (Ghostbusters). Além disso, o comediante estava caindo nas graças de grandes diretores da época, como Steven Spielberg, que o escalou pra sua comédia, 1941 – Uma Guerra Muito Louca, e tinha outros planos pra ele, que também foram interrompidos.

O comediante, que tinha um estilo de vida frenético e regado por drogas, acabou morrendo em consequência de uma overdose de Speedball, que era uma mistura de cocaína e heroína. Na época de sua morte, ele tinha ainda alguns projetos de filmes e músicas engrenados tanto com Dan Aykroyd como com alguns cantores, e que acabaram sendo adiados ou interrompidos, devido à morte do ator. Uma triste perda.

Phil Hartman

Nascido em Ontario, Canadá, Phil Hartman se formou em Design e chegou a fazer capas para discos de bandas de rock. Contudo, a comédia era o seu verdadeiro destino. Depois de entrar, de maneira impulsiva, em um grupo de comédia chamado The Groundlings, acabou criando com o ator Paul Reubens um personagem muito popular nos EUA, o Pee-Wee Herman. Paralelo a isso, fez inúmeros trabalhos de dublagem para desenhos animados dos mais variados, como Smurfs, Scooby-Doo e Os Simpsons, por exemplo.

Fez um teste pra equipe de Saturday Night Live, no qual demonstrou uma variedade de personagens que tinha criado, e acabariam sendo usados no show. Inclusive, a época em que Phil Hartman entrou no programa era de crise: em meados da década de 1980, o programa amargava índices constantemente baixos de audiência – que culminaram na demissão de todo o elenco (Robert Downey Jr. dentre outros) e na volta do produtor Lorne Michaels (que havia saído alguns anos antes) – e isto criou a grave expectativa de cancelamento do Saturday Night Live. Phil Hartman, assim como Jon Lovitz, Dana Carvey, e toda uma nova equipe de roteiristas, foram escalados para dar a volta por cima.

O resultado disso foi que Hartman ganhou o Emmy de melhor roteirista no ano de 1989. Além disso, muitas de suas imitações ficaram famosas, como a do então presidente Bill Clinton (reconhecida pelo próprio presidente como a melhor, que deu ao comediante uma foto autografada), Frank Sinatra, Barbara Bush, Charlton Heston (essa imitação eu também vi. Hilária…) e Ronald Reagan. Hartman era conhecido por todos do programa como “A Cola”, pois era um pau pra toda obra, ajudando todos os colegas nas mais diversas situações possíveis, e, muitas vezes, ficando em segundo plano pra que seus colegas brilhassem. Hartman ainda começou uma carreira no cinema que vinha, aos poucos, decolando, mas que foi abreviada por sua morte.

Phill Hartman foi assassinado, enquanto dormia, pela própria mulher, Brynn Hartman, em 1998. Usuária de cocaína, diz-se que ela vivia frustrada, por não conseguir sucesso algum em sua carreira de atriz, enquanto o marido vivia um momento de carreira ascendente. Horas após matar o comediante, Brynn se matou.

Até semana que vem, com a 3ª parte.