Soy loco por ti America – A (nova) classe C vai à Argentina

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Pode soar estranho aos ouvidos das pessoas sãs – pagadoras de seus impostos e devedoras de seus cartões de crédito –, mas eu DETESTO viajar. Não suporto mesmo, acho um saco. Mesmo assim o faço quando surge alguma obrigação, geralmente acadêmica ou então familiar (e, quando ainda trabalhava em redação, cheguei a viajar uma ou duas vezes a trabalho, para cobrir eventos).

Meu argumento contra viajar, no entanto, é simples. Eu já moro no Rio de Janeiro, não tem nenhum lugar no mundo que eu possa querer ver que seja melhor do que a minha terra natal. Mesmo não indo a praia, não gostando de samba e muito menos da Lapa, ainda tem uma pá de coisas aqui que, para mim, fazem da Cidade Maravilhosa muito mais interessante do que qualquer Nova Iorque, Jamaica (especialmente um certo resort) ou Amsterdã. Isso pra citar lugares em que tenho um mínimo de interesse.

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Por isso, sou bem pragmático quando o assunto é viajar: viajo porque preciso, volto o mais rápido possível. Para mim, o próprio conceito de viagem de lazer é absurdo. Viagens de lazer só têm alguma finalidade quando se é mais velho/casado e precisa garantir que nossos filhos limpem nossa bunda quando estivermos senis, ou então, fazer a patroa calar a boca uma vez na vida (e, quem sabe, liberar um pouco de cu mais tarde, dependendo do destino, claro. Ou você acha que vai ganhar um brioquinho de presente indo pra Muriqui?!).

Essas viagens acadêmicas me levaram aos quatro cantos do Brasil e, mais recentemente, à Argentina (ah, as maravilhas de ser nova classe C). Confesso que foi uma situação inusitada. Tendo sido recém-alçado à condição de classe média por indicadores governamentais e privados, estava eu justamente no paraíso da mesma (no caso, da antiga classe média), Buenos Aires. Como já dizia um professor meu, “a classe média pequeno-burguesa gosta tanto de Buenos Aires porque lá é igualzinho a Europa, só que sem moradores de rua e negros, e ainda por cima muito mais barato”.

Realmente, seria muito clichê cruzar a fronteira logo após fazer o mesmo com a linha da pobreza, contudo, lembrem-se, detesto viajar e só o faço para adicionar mais informação na minha Pokédex mais peso ao meu já laceado currículozinho.

Dito isso, é preciso dizer que não estava muito empolgado para ir à Argentina. Particularmente, tendo a desconfiar de qualquer coisa que a classe média, aquela velha de sempre, goste, como os livros do Ali Kammel, a ~~opinião~~ do Olavo de Carvalho, o catolicismo e cupcakes (Por Deus, é o mesmo bolo que a sua mãe/avó faz? Qual a graça de pagar ridiculamente caro por menos comida?!).

Além do mais, na Argentina eles têm aquela língua de bárbaros que não consigo pronunciar e que parece fácil até você dizer que a buceta de alguém está trancada a chaves no Pacífico ou que suas bolas estão pegando fogo. Isso sem contar a clássica “marra” argentina. Isso não significa dizer que eles sejam mal educados, muito pelo contrário, as pessoas são até muito solicitas, só parece que qualquer coisa que eles falam tem uma ponta de (ou muito) sarcasmo. Como se todo o país fosse composto de ex-atores de stand up comedy fracassados (acredito que isso seja um pleonasmo…rs).

Para finalizar, óbvio que eu não poderia deixar de falar do Tango. Ah, o Tango. A nobre arte cênica riopratense. Nossa, não suporto essa merda! Logo que chegamos não se falava de outra coisa; meus caros colegas pareciam fascinados com a ideia de estarmos hospedados na mesma rua de um tal de Café Tortoni, um dos cafés mais tradicionais de Buenos Aires (ou do país, sei lá) que tinha um também tradicionalíssimo show de tango.

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Não deixei transparecer para os amigos, mas essa parada de café tradicional não tinha me animado nem um pouco. Não precisa ter o Tico e o Teco pra saber que tradicional em qualquer país do mundo significa caro pra caralho (e, na maioria dos casos, chato também). Juntando isso ao fato de eu não gostar de tango e nunca ter pisado num café nem no Brasil (EU NEM TOMO CAFÉ!) quanto mais em outro país, decidi ignorar completamente mais essa bela oportunidade de pagar uma conta superfaturada e sair insatisfeito. “Quer saber”, pensei comigo mesmo, “dane-se! Tortoni é o meu piru” (just stating a fact, by the way).

Particularmente, sou aquele outro tipo de turista (que também é um mala, diga-se de passagem), aquele que não gosta de visitar atrações “para turistas”…. E prefere frequentar os estabelecimentos comuns, onde a população vai todo dia. As padarias, os mercadinhos, os botequins, os bairros com menor IDH e maior taxa de homicídio, enfim, todo e qualquer lugar onde você pode ser vítima de violência física ou sexual, perder todo seu dinheiro ou arrumar confusão por ser estrangeiro… Quanto mais fuleiro, mais autêntico. Para se ter uma ideia, morando no Rio, nunca fui ao Corcovado e não tenho a mínima vontade de ir. Aliás, evito a Zona Sul como o Eike Batista evita custear empreendimentos com o próprio dinheiro.

Contudo, pra não dizer que não falei de flores, fiz a visita guiada de La Bombonera, que também é bastante tradi$ional, se é que vocês me entendem, mas não tanto quanto o resto das coisas pra se fazer. Até pensei em assistir um jogo do Argentinão, o evento só não coube na minha estadia apertadinha de quatro dias. Imagina só, ir pra Resistencia, a quebrada das quebradas, ver um jogo do Sarmiento, isso que eu chamo de Dia de Tristeza, Mano Quietinho.

 

O ponto alto da viagem, porém, não foi esse. Sendo uma fã aviadado ávido de música clássica, e um turista mais do que enjoado, como pode ser comprovado pelo relato supra-apresentado, eu não poderia simplesmente deixar Buenos Aires – provavelmente  a capital sul-americana da música de concerto, e lar do Ultra Motherfucka Humiliation Teatro Colón –, sem assistir um espetáculo no mesmo. Aliás, esse foi um dos motivos de não ter conseguido ver o futebol (coisa de viado, ninguém precisa me dizer).

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Legal que nem precisei recorrer aos cambistas, embora essa fosse uma boa experiência no meu manual de como ser um turista “descolado”. Em minhas andanças flaneurísticas hipsters, passei cedo na bilheteria e comprei ingressos no Paraíso, justamente a seção mais barata e mais absurdamente elevada do Colón (daí o nome), no que creio ser o sétimo nível da casa. Ainda que a ideia fosse “conhecer o local” sem pagar o exorbitante preço da visita guiada (coisa de turista otário e pseudo-cult que só quer tirar foto do teatro, não preciso nem dizer…rs), o balé até que foi muito agradável e, se eu fosse usuário do foursquare, teria dado check-in na apresentação.

*Zé Messias é o viajante mais insuportável da face da Terra. E autor dos seguintes Best-sellers (no sul do Sudão), “Guia do junkie food turístico: coma rápido, morra jovem”, “Cinco lugares ideais conhecer gente bonita, inteligente e ryca….SÓ QUE NÃO”, “Como fugir das roubadas dos seus amigos” e “Lugares que conheci e não faço a mínima questão de ir”. Numa próxima oportunidade ele pretende contar sua homérica viagem até Natal, no Rio Grande no Norte.

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 5 comentários

  1. Mariana Costa

    Saudades, Buenos Aires! <3
    Tirando aquele trem de madeira assustador e fedido, gostei muito da cidade e ainda pretendo voltar lá.

    1. José Messias

      não suporto, e se não me controlo, sou o pior acompanhante possível, só fico reclamando e me recuso a fazer tudo o que todo mundo quer fazer….rs

  2. Frankito, Índio Apaixonado

    “a classe média pequeno-burguesa”

    A classe média é composta de assalariados ou profissionais liberais. Não pode ser burguesa. Burguesia são os proprietários. No caso da pequena, são os que possuem pequenos negócios.

    1. José Messias

      pô parceiro, esse não é um trabalho acadêmico, esse é um texto opinativo de “pretenso” teor humorístico (a graça, claro, vai do gosto do freguês), sendo assim, a expressão pequeno-burguesa é empregada de acordo com seu uso corriqueiro, na linguagem coloquial, na qual ela é uma expressão tão comum quanto usar burguês e playboy como sinônimos..
      Se eu tivesse tentando fazer um tratado de sociologia, provavelmente procuraria um termo mais preciso. Embora, uma vez que estejamos tratando das disparidades entre os próprios trabalhadores assalariados (por exemplo, parece que a tal classe C seja composta por renda brutas de 3 a 15 mil reais), a expressão não se mostra tão equivocada assim;

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