Um conto de Natal, Parte I

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Como a novela das 18h da Globo, Flor do Caribe, se passa na capital do Rio Grande do Norte, decidi aproveitar o embalo e tirar do baú este textículo sobre minha breve estada na cidade.

Não há melhor época do ano do que o Natal. Em verdade vos digo, nenhum mês consegue superar dezembro. Na culinária é goleada. Rabanada, chocottone, chester, peru, pernil, tender e até algumas frutinhas para não desperdiçar (afinal, quem não curte comer uma frutinha de vez em quando?). E para aqueles que estão de dieta (ou são moradores de rua, como eu), aquela sopinha sempre vem a calhar. A decoração também não fica atrás. O vermelho e o verde cintilantes como o próprio Sol imperam por toda a cidade. Às vezes acompanhados do dourado ou do prata, eles se fazem presentes nas fachadas, nas paredes, nos telhados, nas calçadas e até nas privadas (papo sério!).

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E o mais importante, o espírito natalino se instaura no coração das pessoas. No natal qualquer grupo de pessoas arranja uma desculpa para trocar pelo menos uma “lembrancinha”. São os colegas de trabalho, os amigos do bairro e da faculdade, o pessoal da igreja, os familiares, os miguxos do falecido Orkut etc. Tem amigo oculto (ou secreto) para todos os gostos e grupos sociais, até o povo que espera busão todas as manhãs faz um. E como já era de se esperar deste blogueiro que vos fala, nesta época de fraternidade e paz entre as pessoas de bem, nada melhor do que uma pequena historinha de dor, sofrimento e desespero para botar água no chopp dessa galera toda.

Aproveitando a ocasião, hoje irei contar como foi minha viagem à Natal, no Rio Grande do Norte. E te aviso, neste post você encontrará mais angústia e aflição do que nas letras de My Chemical Romance, Simple Plan e Good Charlote juntas. Lá na ponta do País, no distante Nordeste – terra de beleza incomparável, seca implacável e gente miserável – que quase ficou com os holandeses. Se bem que aí seria outro país, tipo Nova Amsterdã do Sul. Pelo menos ia ser mais barato viajar pra lá para se drogar, comer prostitutas numa manhã de quarta-feira numa pracinha infantil e praticar vários abortos (não que eu seja fisicamente capaz disso, mas uma vez em Roma…). E o melhor dessa filial sul-americana, é não ser obrigado a ver todo o resto daquele negócio decrépito que chamamos respeitosamente de Europa.

Voltando aos tupiniquins ou, no caso, aos tupinambás… Viajando para Natal aprendi o quão verdadeiramente cruel pode ser a expressão “padecer no Paraíso”. Pois não se enganem por este relato, a cidade de fato tem todas aquelas coisas que os programas de turismo adoram: água limpinha – transparente de perto e azul meio topázio de longe –, uma mata verde semivirgem (como quase tudo hoje em dia) e as mais diversas maravilhas naturais, inclusive as tais dunas onde boa parte da novela o Clone foi gravada (e Tieta também). Enfim, tudo aquilo que todo mundo está louquinho para ver… MENOS EU.

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Natureza definitivamente não é meu forte, principalmente praia, principalmente mata, principalmente qualquer coisa que não tenha sido feita pelo Homem e que não polua para existir. Para se ter uma ideia, eu, enquanto carioca orgulhoso que sou, só fui à praia por aqui umas cinco vezes (ou menos). A última vez há uns dois anos e todas elas arrastado por amigos.

Agora, as pessoas devem chegar à conclusão óbvia que qualquer símio com um prego enferrujado na mão chegaria: por que raios você foi lá, hein, seu estrupício?! Simples, o dever me chamou.

O ano era 2008. Eu era um jovem pesquisador criado a base de ovomaltino e leite com pera que ainda achava que iria revolucionar o mundo fazendo pesquisa em Comunicação (Sonha!) e que no futuro iria ser presidente do país (era a época da eleição do Obama e eu estava empolgadaço com isso, claro, sendo eu também um ~~intelectual~~ negro nascido no Quênia).

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Sendo assim, o ensejo da viagem à Natal foi a apresentação de um artigo (meu primeiro!) que fiz em conjunto com meus colegas de iniciação científica. Como nem são malandros, os ilustres doutores acadêmicos da Comunicação (e de qualquer outra área) geralmente marcam seus eventos e convenções em cidades litorâneas, semiparadisíacas e coincidentemente sempre na baixa temporada. Pobrezinhos, ter de viajar às custas de suas respectivas universidades (só a  passagem e a diária, claro) para um local que tem Sol e água a temperaturas terrivelmente agradáveis durante todo o dia. Que suplício! Mas tudo em nome da Ciência…das Humanas pelo menos (ou seriam Sociais Aplicadas?).

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E quem sou eu para reclamar?! Talvez a única pessoa que realmente não se importa com nada disso e que precisou percorrer o caminho de um rio ao outro (de Janeiro ao Norte) de ônibus!

Continuando este relato sádico de degradação psicológica e destruição das noções mais elementares de fé, personalidade, caráter e humanidade, agora vem a melhor parte, por assim dizer, o trajeto em si. Porque não pensem que sou algum fresco que só por causa de algumas adversidades vai ficar choramingando por 5019 caracteres, com espaço incluso (agora 5053).

Existem poucas coisas na vida que você pode dizer de verdade, de todo o coração, que são piores que a morte. Viajar num ônibus por aproximadamente 56 horas definitivamente é uma delas.

Continua…

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 2 comentários

  1. Marlon Master

    Eu como bom Potiguar que sou estou esperando para ler a segunda parte.

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