A paciência é uma virtude. E, cavalheiros (quiçá damas) como vossas senhorias, que mantiveram-se firmes, disfarçando o sono e enfado provocados na carta anterior, agora poderão finalmente libertar-se de sensações há muito guardadas, e participar, ainda que à distância, da catarse que pretendo aqui estimular.

Pois, como ia dizendo, tentei novamente atualizar para o Windows 8.1, e dessa vez, em que pese o tempo despendido ter sido enorme, e quase fielmente o mesmo, tudo terminou bem.

Ao menos foi o que concluí, num primeiro momento, ao observar um botão situado na mesma extremidade de ecrã que o velho botão Iniciar. Teria retornado o filho pródigo dos sistemas operacionais?

Toquei-o com o cursor, e, decepção como nenhuma outra!, só o que se sucedeu foi a alternância entre a tela inicial com aplicativos Metro e blocos dinâmicos e o desktop. Ou seja: Um embuste para os incautos que aguardavam o fim de suas inseguranças – imaginei.

Tristeza não tem fim, dizia o Poetinha. Estava correto: Certo tempo depois, ainda recuperando-me do choque de ter sido ludibriado por um programa pelo qual paguei com parte do couro das minhas costas, pressionei o local indicado para ligar o micro. Ao invés da tela inicial, uma outra, pedindo-me, não, mandando-me inserir minha senha da Microsoft.

Todo aquele sangue quente e incrementado de plaquetas, glóbulos, oxigênio que circula em silêncio pelas nossas veias, indolor, passou a queimar-me por dentro, tal foi a fúria que invadiu-me a carne. De um momento para o outro, meu pequeno e inofensivo notebook tornara-se uma peça da engrenagem Microsoftiana. Eu, que há tempos abrira mão de qualquer tipo de entrave ao meu próprio acesso ao computador, sem senhas, sem escolha de usuários etecetera.

Isto não era admissível: não me fora dada escolha, e me apreciaria ter uma. Ao digitar minha senha no campo indicado, eu estava online, sob a tutela daquela empresa. Minha máquina, sob seus auspícios, automaticamente conectada à loja online, ao Skype, e a todas as pontocom valorizáveis da Nasdaq, vez que imprevisíveis as aquisições de empresas.

De pronto, busquei na grande rede ajuda profissional. Nada de mercenários ou hackers, o auxílio veio na forma do moderno oráculo, que conduziu-me ao “Fórum dos usuários HP” (?), de onde tirei os ensinamentos necessários a adentrar a seção de “contas de usuário“, e desmarcar a opção que impõe o uso de senha ao usuário do PC.

Bastava reiniciar, e pronto!, nada mais de senhas a atormentar o juízo de um geracional low profile. Todavia, amarga foi a surpresa: Continuava a exigir senha. Após isso, disparei para todos os lados (a hipotética carabina) : Criei novo usuário, que passou a exigir também, a sua própria senha. Apaguei-o em seguida, e continuei matutando, e pesquisando, e lastimando, serpenteando por recônditos quase ocultos do sistema operacional, até que a providência me levou a uma seção tão surpreendente quanto obscura, envolvendo a criação de um usuário novo, com a opção, não aconselhada pela Microsoft, de entrar no computador sem a inserção de um livre-conduto fornecido pela empresa.

Agarrei a chance como o náufrago à garrafa arrolhada flutuando diante dele. Em questão de segundos, ao rufar de tambores, fui do inferno ao céu. Apaguei a conta da Microsoft no notebook, e desmarquei a opção de ingresso com senha na nova conta de usuário. Foi o suficiente, o dia estava salvo, como diria o locutor de Townsville.

Embora resista como as juntas que doem com a chegada da chuva, o Windows 8.1 continua vivo neste micro em que digito essas inacreditavelmente descartáveis linhas. É seguro que o trarei à serventia em dois tempos, ou encontrarei um meio de defenestrá-lo daqui.

(Aliás, durante o escrevinhar desse imbróglio, descobri, graças ao Info Exame, que clicando o novo botão Iniciar com a tecla direita do mouse, surge uma tela que sobremaneira ajuda a diminuir a sofreguidão: De novo a opção de acessar o Painel de Controle!, e até mesmo a de Desligar!, faltando somente a lista de programas, mas, ah!, que frescor já se obtém com tal descoberta!).

Aos que sobreviveram a esta jornada de rancor, ingratidão e algum encantamento, meus sinceros agradecimentos. Estou convencido de que ponderarão um tanto antes de atualizar seus sistemas operacionais, caso sejam vossas altezas idosos sem atração pela tecnologia ou adolescentes impressionáveis que creem em lendas urbanas e campanhas de doação de centavos a cada compartilhamento de fotos via Facebook.