Um brinde à subliteratura

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Def. subliteratura
sub.li.te.ra.tu.ra
sf (sub+literatura) Literatura reles; literatura ruim ou ridícula; literatice.

Um lembrete: como sempre, ao final do texto você encontrará informações gerais sobre o livro e, o principal, onde comprá-lo sem sair de casa.

É à subliteratura, supradefinida, que Bukowski dedica sua última obra escrita em vida. O título do livro: Pulp.

Henry Charles Bukowski é um artista no sentido mais profundo dessa palavra. Dono de uma obra extensa e de conteúdo inquestionavelmente fantástico, este alemão, criado nos EUA,  foi e continua sendo um ídolo para várias gerações de jovens. Seus textos falam de sua vida problemática, o que talvez tenha despertado o interesse do público adolescente ao longo dos anos. Seu pai era um soldado americano que, digamos assim, estava muito longe de ser um pai normal. Bukowski não se deixou abater pelas adversidades de sua vida problemática e escreveu tantos livros quantos foram as surras recebidas do pai. Trabalhou até os 49 anos nos Correios, já que, inicialmente, sua obra não era muito bem recebida pelos editores. Não é qualquer um que aceita publicar um texto contendo sexo barato, porres épicos e cenas do cotidiano. Seu principal desejo – tornar-se um escritor famoso – foi alcançado ainda em vida. Bukowski viveu 73 anos, morrendo em 1994 devido a uma leucemia. Seus romances publicados no Brasil até hoje foram: Cartas na RuaFactotumMulheresMisto quenteHollywoodPulp. Ele também possui contos, poesia e obras de não-ficção publicadas em terras tupiniquins.

A história do pequeno romance Pulp (são apenas 175 páginas), razão de ser desse post, gira em torno de Nick Belane, um detetive particular de 55 anos. Bukowski permeia toda sua narrativa com observações sarcásticas sobre a vida. É impossível não se identificar com alguma delas. Frases como as que elenco a seguir são uma constante no livro.

  • “E o cara na livraria parecia estar entre os quarenta e cinquenta. Logo, era isso aí. Não era Celine. Ou talvez tivesse descoberto um método de vencer o processo de envelhecimento. Era só ver os astros do cinema; tiravam a pele do rabo e grudavam na cara. A pele do rabo era a última a enrugar-se. Andavam todos, nos últimos anos de vida, com caras de bunda. Celine faria isso? Quem quereria viver até os 102 anos? Só um idiota.” [pág 16]
  • “Esperei que anoitecesse, fui de carro, estacionei na frente. Bom bairro: um lugar onde a gente não tem condições econômicas de morar.”[pág. 133)
  • “Voltei para casa, entrei e abri uma garrafa de uísque escocês […] De qualquer modo, eu estava deprimido e me sentei numa cadeira com a garrafa ao lado. Não liguei a televisão, descobri que quando a gente está mal essa filha-da-puta só faz a gente se sentir pior. Uma cara chata após a outra, parece não ter fim. Uma procissão interminável de idiotas, alguns famosos. Os cômicos não tinham graça, e os dramas eram de quarta classe. Não havia muita alternativa para mim, exceto o escocês.” [pág. 145]
  • “Tomei uma vodca com tônica. Uma noite calma no inferno. Enquanto a terra ardia como um tronco podre e cheio de cupim.” [pág. 170]

Ao longo do livro, Nick, o melhor detetive de L.A. (Los Asnos, em suas próprias palavras) tem de resolver quatro mistérios misteriosos (com redundância, por favor). Para melhor expô-los, organizei-os por tópicos (*cuidado o conteúdo a seguir contém alguns spoilers moderados):

  1. Celine é mesmo Celine? – Dona Morte contrata Nick para resolver esse mistério. Você não leu errado. É realmente a Morte. Ela é uma das coadjuvantes da história. Só que não espere uma Morte estereotipada.
  2. Cindy Bass está traindo seu marido? – Jack Bass, o marido traído, contrata Belane para conseguir prova das traições. Não podemos esquecer do preço padrão cobrado pelo serviço, 6 dólares a hora.
  3. Jeannie Nitro, a alienígena de Zaros, deve sumir da vida de Hal Grovers. – O próprio Grovers, que trabalha na Funerária Silver Haven (nome sugestivo para uma funerária), procura nosso protagonista para que ele resolva o problema.
  4. Onde está o Pardal Vermelho? – Esse é o grande mistério da trama. E é o complicado serviço que John Barton lhe delega.

Sem querer estragar o prazer da leitura desse genial livro, darei uma pista para a solução do último caso. Dona Morte será de grande ajuda nesse processo. Aliás, ela está presente ao longo de todo livro até a última página.

Finalizada esta humilde resenha, fica a dica para os interessados em boa literatura, mesmo que em uma obra relativamente curta – sou daqueles que acham que quanto maior o livro, maior o prazer em lê-lo. Esta obra de Bukowski pode ser um excelente passatempo tanto para uma viagem de ônibus como para uma tarde chuvosa. Se você mora longe e lê rápido, sugiro que se utilize do ônibus para a leitura. O tempo perdido será melhor aproveitado.

Resumo da ópera
Título: Pulp
Autor: Charles Bukowski
Miolo: 175 divididas em 51 capítulos.
Editora: L&PM POCKET

Onde comprar:
Americanas
Submarino 
Saraiva
Siciliano
Livraria Cultura
Estante Virtual

Administrador Iluminerd

A mais estranha figura nesse grupo: não posta, não participa de podcast, mas foi ele quem uniu todas as pessoas dessa bagaça...

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