Olá, Iluminados.
Certo dia, tive minha atenção chamada para um post onde rolava uma discussão sobre encadernados do Thor. Crente de que iria ler a opinião de outras pessoas sobre a extraordinária fase de Walter Simonson, descobri que, na verdade, o assunto era o arco O Renascer dos Deuses do mui estimado e grandessíssimo filho de uma p{}t@ J. M. Straczynski.
Movido por minha curiosidade mórbida (que, felizmente, não chega ao ponto de me interessar por sequer passar os olhos em alguma “obra” do – desculpem a palavra – Liefeld), resolvi dar uma conferida nesse material e… Putz! Tem muito de Camelot 3000 ali!
Mas organizemos as coisas um pouco.
Arthur Pendragon é uma figura mítica na Inglaterra, aparentemente baseada em uma ou mais pessoas reais. Sua lenda, como todo fruto da mais pura tradição oral, possui diversas versões, possuindo alguns pontos em conflito. Num apanhado geral, ele se tornou rei da Bretanha após retirar de uma pedra (ou receber de presente de uma sacerdotisa) a lendária espada Excalibur. Ao seu lado estava Merlin, um mago que garantia o apoio dos pagãos ao novo rei. Assim, ele pacificou os saxões e fundou Camelot, de onde sediou os seus Cavaleiros da Távola Redonda (cuja figura principal era Lancelot, que seria, segundo algumas versões, primo de Arthur).
Sob a influência de sua esposa, Guinevere, posteriormente, Arthur permitiu o aumento da influência da Igreja Católica, rompendo o equilíbrio com os seguidores das religiões não-cristãs e provocando tanto a ira de sua meio-irmã Morgana como o desaparecimento de Merlin. Mais uma vez, a Bretanha mergulhou numa era de trevas, principalmente depois que Arthur descobre que é um Summers a traição de sua esposa com Lancelot. O pior é que isto termina caindo no conhecimento do povo por artimanhas de Mordred – filho de Arthur com Morgana (sim, ele também era sobrinho de Arthur).
Aparentemente influenciado por diversas lendas bíblicas, o rei resolve ordenar uma busca pelo Santo Graal, acreditando que tal descoberta colocaria um fim à situação calamitosa em que se encontrava. Mordred, então, tenta derrubar o pai, mas morre o enfrentando, deixando Arthur tremendamente ferido. Segundo algumas versões, ele desaparece junto com sua irmã em uma barca em direção a Ávalon, local místico, escondido pelas brumas, prometendo retornar no dia em que a Inglaterra precisasse dele novamente. Esta é a lenda, basicamente.
Aproveitando este gancho, o roteirista Michael W. Barr (Batman – O Filho do Demônio) e o desenhista Brian Bolland (A Piada Mortal), entre 1982 e 1985, teceram uma trama extremamente interessante que, se posso dizer assim, inspirou J. M. no seu primeiro arco com o filho de Odin.
No ano 3.000 (sério??????!!!!!!!??????????), a Terra está sob ataque de forças alienígenas. A Inglaterra cai, mas os cidadãos buscam a todo custo fugir para a França, onde uma resistência tenta ser organizada. Entre estes estava Tom Prentice, que vê seus pais morrerem durante seus esforços de evasão. Desesperado, ele é perseguido até Glastonbury Tor, onde esbarra em uma tumba, da qual surge o Rei Arthur, cumprindo a promessa de retornar quando a Inglaterra (e, no caso, o mundo) precisasse novamente dele.
Depois de informar Tom que sua morte na verdade era apenas um sono curativo ao qual tinha sido induzido por Merlin, Arthur parte até Stonehenge, de onde liberta o citado mago da prisão em que fora colocado pela bruxa Nyeve. Juntos, os três partem em busca dos Cavaleiros, que se encontram reencarnados em novas identidades, esquecidos de suas vidas passadas. Após retirar Excalibur de uma pedra em plena Assembléia da ONU, eles encontram Guinevere como uma piloto de combate da resistência terráquea (cena em que Merlin utiliza truques jedi para invadir a base), Lancelot como um milionário francês, Kay como um vagabundo endividado, Percival como um neo-humano (criatura em que eram transformados os criminosos condenados, desprovida de inteligência e vontade própria), Galahad – filho de Lancelot – como um guerreiro samurai, Gawain como um pai de família sul-africano (e negro) e Tristão…
Bom, Tristão reencarnou como uma mulher. Ao ser despertado, o antigo cavaleiro revolta-se com sua condição, principalmente por não ver mais reconhecidas por seus companheiros nem pelo seu rei suas qualidades de guerreiro. A situação piora ao encontrar Isolda, seu grande amor, reencarnada. Não demora para que Tristão-Tristã termine se tornando um elo fraco dentro da renovada Távola Redonda.
Nada mais direi, para não privá-los do prazer de ler esta obra com olhos virgens!
Ao contrário de V de Vingança, esta é de leitura bem mais fácil e empolgante (embora, claro, não tenha a mesma qualidade, mas isso é outro aspecto). É um filme de ação, mas dos bons. Barr ainda mistura diversas referências históricas e comportamentais ao longo da série, aproveitando várias deixas e entregando um resultado além do satisfatório. É muito bem sacada a forma como ele explora a nova condição de Tristão, que se auto-preconceitua, se recusando a consumar sua paixão por Isolda por não ser mais um homem. A tensão entre os cavaleiros por motivos étnicos também é muito bem trabalhada. Claro que hoje estas questões não são mais encaradas de forma como na época da publicação original, mas ainda são interessantes. Talvez o único porém em todo o roteiro seja justamente o envolvimento de Lancelot com Guinevere. É difícil de acreditar que, com tanto em jogo, o casal mais uma vez cometesse os mesmos erros e colocasse tudo a perder. Talvez Barr quisesse apenas mostrar que uma vez corno, sempre corno algumas coisas são imutáveis.
Fala de Brian Bolland é fácil – estamos aqui diante daquele que eu considero seu melhor trabalho. O nível de detalhes, a riqueza das expressões faciais, os cenários perfeitos (não só da Terra futurista como do planeta alienígena), as roupas (o traje de Guinevere é capaz de heterossexualizar o Ckreed!)… Mesmo o ar meio retrô que ele dá a este futuro funciona. Bruce D. Patterson e, principalmente, Terry Austin (arte-finalista de John Byrne em sua fase a frente dos X-Men) não simplesmente acrescentam tinta, mas excelência ao lápis de Bolland.
A série saiu aqui no Brasil em diversas formas, sendo que das duas primeiras vezes pela editora Abril – como parte do mix da revista Superamigos (a mesma que tinha Esquadrão Atari e O Guerreiro, quem aí é velho o suficiente se lembra?) e depois em uma minissérie em quatro edições. Formatinho, cheio de cortes e papel de baixa qualidade.
Anos depois, em 2005, foi lançada em um encadernado pela Mythos. Apesar de finalmente termos a obra completa em mãos, é lamentável a baixa qualidade da impressão (o cheiro de tinta da minha edição até hoje me deixa mutcho lôco!) e a completa ausência de extras. Sem falar do desanimador preço de R$ 59,90!!!!!!
A melhor edição nacional foi lançada em 2010 pela Panini, com 324 páginas em formato americano e capa dura.
Bicho, largue estas merdas de Aranha do Slott e Novos 52 e leia uma boa HQ de ação, inteligente sem ser pedante e movimentada sem ser vazia. E descubra de onde certos gênios tiram suas ideias.
Post originalmente publicado em Macacos robôs Zumbis do Inferno.
ótimo post Jota! E já comprei até um cueca nova pra tirar a foto com meus livros que ganhei da promoção desse lindo site!!!!!!!!!
Olha só, quem apareceu!
Presente!!!!!!!!!!!
Você venceu? Mas recebeu?
NÃO RESPONDA!
Mandou bem. Camelot 3000 é excelente e inesquecível pra quem a leu na época da primeira publicação. Não tinha me tocado na inspiração do Straza nessa história, mas até que faz sentido o paralelo.
Acho que é porque o Straczinsky, de repente, acelerou a coisa e ficou meio “esquecível”. Mas acho o primeiro arco dele no Thor bom.
É isso, Jotinha. Quando não está mimizando os “novos tempos”, o senhor manda bem.