Agora é Tarde 2.0 – Rafinha Bastos no país de Danilo Gentili

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Opa, foto errada!
Opa, foto errada!

Já é clichê dizer que a tv é uma concessão do Estado. E o que dizer da exigência de alguns quanto a seu potencial caráter educativo, em oposição a outros que a vêem no papel de simples entretedora? Eufemismos e celeumas à parte, creio que todos concordam que televisão é um negócio.

O Agora é Tarde, desenvolvido e apresentado por Danilo Gentili e equipe, tornou-se um formato vitorioso de talk-show, que vinha levando há alguns anos originalidade e graça às madrugadas da TV aberta. A ida de Gentili para o SBT, onde fará nascer seu novo rebento no próximo dia 10 de março, revelou que, ao menos atualmente, a Rede Bandeirantes é detentora do formato, e que pretende continuar a explorá-lo sob o comando de novas cabecinhas.

AH, agora sim!
AH, agora sim!

A reestreia do programa se deu na última quarta-feira de cinzas, com Rafinha Bastos à frente. Se você não viu, culpe a terrível ressaca provocada por aquelas batidas vagabundas servidas prontas no copo de plástico que você comprou impulsivamente por já estar sem discernimento suficiente para desconfiar da qualidade das mesmas após alguns dias de folia momesca (uf!).

Se você tava de boa e assistiu, talvez não concorde comigo, mas é que tive a impressão de que Rafinha está menos incisivo (quiçá uma sutil modificação no personagem que ele já garantiu vestir, ou mesmo a supressão dele).

Tudo começou com o humorista apresentando as novidades do Agora é Tarde, que incluem as vinhetas e criativos cenários (como os do fundo, que parecem mostrar um prédio com mulheres se movimentando, trocando de roupa e sabe-se mais o que), fazendo piadas quanto ao motivo de sua saída anterior da emissora, e sendo alvo delas (como a que o aponta como um simples tapa-buraco).

Tal introdução também valeu como aquele conhecido recurso criador de climas, nunca abandonado na abertura de talk-shows: Causos e comentários engraçadinhos sobre os assuntos correntes. Rafinha, entretanto, logo levou tudo aquilo para o apoteótico final com um número musical.

E é quando começamos a notar a ótima banda de André Abujamra, fazendo um som bastante consistente, não só nesse número, mas em outras participações ao longo do programa. Destaque para quando Rafinha pediu a eles uma música para strip-tease, e a turma entregou algo realmente sexy, e não somente uma levada de guitarra qualquer.

Recentemente, a Band divulgou a nova fase do Agora é Tarde, incluindo em sua programação um clipe musical no qual Rafinha Bastos parodiava a canção “I Will Survive”, invadindo os programas da emissora e dançando com o elenco deles. Não sei se a banda de Abujamra participou da gravação do clipe, mas posso dizer que ela é uma promessa que soa apetitosa.

Além da luxuosa figuração de Marcelo Mansfield, também retornou o quadro ‘Passou na Tv’, espécie de costura, por vezes temática, de cenas ridículas ou absurdas transmitidas pela televisão. A narração apoplética continua a mesma, e continuará fazendo suas sobrancelhas saltarem.

A estrutura clássica dos talk-shows americanos já havia sido trazida ao Brasil dois séculos atrás (ou décadas, não lembro bem) por Jô Soares, e Danilo Gentili também a copidescou para desenvolver o seu Agora é Tarde, que, porém, ia por um caminho mais imprevisível e anárquico. E esse caminho parece ter sido abandonado por Rafinha Bastos nessa nova fase, o que ameaça de extinção a característica que fez o Agora é Tarde se tornar um verdadeiro humorístico pós-moderno travestido de programa de entrevistas.

Entretanto, essa é apenas uma primeira impressão. É cedo para dizer, mas minha aposta é a de que o humor, que continuará tendo espaço no programa, virá mais enquadrado, divergindo do tom anterior, principalmente quanto à opção de manter personagens fixos.

Leiloaram os telefones da Chefatura de Polícia e da Batcaverna
Leiloaram os telefones da Chefatura de Polícia e da Batcaverna

Nesse primeiro momento, a intervenção do humor no novo Agora é Tarde se deu por meio da longa participação de Gustavo Mendes, como a Presidente Dilma, tornando Rafinha escada para suas piadas. A personagem também interagiu com cantores e celebridades no carnaval de Salvador, com tiradas escatológicas e gags.

E, pinçado do elenco do extinto Saturday Night Live, que o próprio Rafinha chegou a encabeçar na Rede TV, vimos a convocação de um ainda tímido Marcos Gonçalves, para fazer mímica de música para o entrevistado da vez. Sem falar nada, e com movimentos precisos e expressões hilárias, o humorista me deu a impressão de ser a arma secreta do programa.

É tudo improviiiiso... vamo improvisáá. Pam pam pam pam pam pâm
É tudo improviiiiso… vamo improvisáá. Pam pam pam pam pam pâm

Por fim, Luan Santana sentou no sofá de Rafinha sob gritos histéricos de suas fãs, deixando Rafinha com uma invejinha fake. Após perguntas monótonas e gracinhas só me veio à cabeça o atual Jô Soares. Ah… Bateu uma saudade da espirituosidade do Sr. Gentili, que tinha o mérito de não se levar a sério – e nem o entrevistado, a não ser quando desejava.

Ok, mas vamos dar uma chance ao Rafinha: Se o programa não é mais o que era, não é culpa dele: Seu estilo é realmente diferente do de Danilo Gentili, embora eles sejam amigos, sócios em empreendimentos voltados para o humor, e tenham sido revelações do CQC. E é natural que, embora tenha assumido um programa que já possuía nome e fãs, Rafinha queira dar sua cara (a tapa).

E é isso. Enquanto cato milho escrevendo estas mal traçadas e aguardando a inesperada publicação deste texto, os dias e os programas se sucedem, e talvez Rafinha já tenha conseguido imprimir sua personalidade ao novo Agora é Tarde (ou tenha sido expulso da emissora tentando), mesmo que isso signifique deixar de fora toda a iconoclastia da fase de Gentili, pois, afinal de contas, disso não ficaremos órfãos, uma vez que Danilo vem aí com o seu The Noite (e só não continuará o mesmo se o Seu Sílvio não quiser).

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem 4 comentários

  1. Ainda não vi a versão nova com o Rafinha. Se seguir o que ele vinha fazendo no programete “8 minutos com…”, que o Rafinha produz em seu canal do Youtube, vai ser um interessante, porém convencional, programa de entrevistas. Diferente do Danilo, que é realmente uma grande revelação como entrevistador.

  2. Tio Fodôça

    achei uma merda…ficou forçado e descaracterizado, pois Rafinha nunca foi o cara do humor descolado, e sim do humor agressivo e gratuito, coisa que nao tem nada a ver com o formato. E o Mansfield é um traíra.

  3. Vilipendiador Unperucked

    Eu vi o segundo dia, quando a entrevista foi com o Lobão.
    Achei pura e simplesmente uma bosta. Fizeram uma brincadeira antiga em que duas duplas tentavam adivinhar os desenhos que um dos parceiros fazia para outro em uma prencheta.
    Porra! O Gugu fazia isso nos ANOS 80. Até tive esperança de que alguma zoação ou algo diferente fosse acontece. Nada. Foi igual brincadeira colegial. Pra completar, eu cochilei antes do programa acabar.

    Talvez o Rafinha precise encontrar seu lugar ainda e precise de mais tempo. Até pq, concordo com o Fodôça. O Rafinha mandava bem no “Proteste Já” do CqC.
    Vamos ver se melhora. Até pq, para o bem dos profisisonais, TEM que melhorar.

  4. Rodrigo Sava

    …E assisti ao terceiro programa, ao menos parte dele, e curti o freestyle que Rafinha, Guimê e Marcos Gonçalves mandaram. No mais, estou torcendo para que o Rafinha encontre o tom pro programa, inclusive cedendo algum espaço ao seu lado bronco…

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