Antes e Depois: Puella Magi Madoka Magica – um mangá de moça só

Você está visualizando atualmente Antes e Depois: Puella Magi Madoka Magica – um mangá de moça só

397594-mahou_shoujo_madoka_magica_2002205_superNa cultura japonesa, o mangá é um produto cultural cuja importância para o mercado interno e externo é tanta que, para autores como Paul Gravett, a comparação mais precisa de sua influência e penetração não seria com a indústria dos comics norte-americanos ou a indústria literária de qualquer país, mas com Hollywood.

Em termos de popularidade interna e potencial de exportação cultural, a indústria do mangá só rivalizaria com o cinema estadunidense. Ao mesmo tempo, no quesito técnico, os dois apresentam muitas similaridades também. Não estou pensando propriamente na linguagem dos planos, cortes e caracterizações e na influência mutua que eles possuem entre si em termos de estilo, mas na diversidade dos temas, formatos e narrativas. Ou seja, assim como o público do cinema é bastante diversificado e amplo, gerando uma infinidade de gêneros e mobilizando/retendo audiências expressivas (milhares e milhões de pessoas), o mangá, guardando as devidas proporções, alcançaria sucesso similar.

Pensando nisso, resolvi aproveitar a série de sucesso de nosso querido Iluminerd Gustavo Audi, Antes e Depois, e, alterando um pouco a sua dinâmica/proposta original, usá-la para falar de um pouco da minha expertise, a cultura japonesa. Aproveitando o lançamento no Brasil do mahoushoujo (literalmente, garotas mágicas em japonês) sensação de 2011, Puella Magi Madoka Magica, pela editora New Pop, resolvi quebrar meu voto de não assistir animes – algo que comentei brevemente nas resenhas de Fairy Tail e K-On, para fazer uma comparação apropriada da obra.

Como os iluminados leitores que acompanham a coluna do Audi sabem, a dinâmica do texto consiste basicamente em apontar/descrever/falar sobre suas impressões de um trabalho em dois momentos diferentes (antes e depois) dentro de um determinado período de tempo, geralmente, sua primeira impressão e sua opinião atual. É basicamente uma regra dos 15 anos sem a coisa dos 15 anos. No entanto, aqui a brincadeira realizada será diferente, ao invés das opiniões serem separadas no tempo, elas vão ser separadas por outra obra. Deixe-me explicar…

Costumeiramente tendemos a pensar na obra impressa como referencial de qualquer “arranjo transmidiático” (uma obra que se estende por diversos formatos), sobretudo o audiovisual. Contudo, de uns tempos pra cá temos visto uma inversão dessas práticas, com games, seriados e filmes dando origem a versões em quadrinhos e livros (como Lost, Assassin’s Creed, Prince of Persia, os novos Star Trek e Man of Steel e suas versões em romance, entre outros). Obviamente, essas iniciativas não são uma novidade em si, mas sua popularização é que pode ser considerada recente. No Japão, isso também é verdade, e, ao contrário do que se pensa, animes e games também dão origem a mangás de sucesso, tanto quanto o inverso, que seria o mais usual. O caso mais evidente sendo a franquia Pokémon, de 1996, o game transformado em animação e a partir daí migrando para outros meios.

Madoka-Magica-Prime
Da tela da TV pro papel. Madoka não ganhou um, mas quatro adaptações em mangá. Madoka Magica, contendo a história do anime. dois spin-offs Kazumi Magica e Oriko Magica, e ainda uma versão alternativa da história – mais feliz, creio. Isso sem contar jogo, o longa que estreia agora em outubro e um livro. A maioria facilmente “encontrável” em inglês, animes e mangás, talvez em português com fansubbers e scanlations.

Dessa forma, para abordar o mangá de Madoka Magica lançado no Brasil, achamos que seria essencial expressar nossas impressões antes de assistir o anime, que foi o que gerou toda a comoção e o culto a obra que persiste até hoje, e depois de ter assistido ao mesmo, para, entre outras coisas, aferir se o investimento e as expectativas em relação a obra se justificam, uma vez que infelizmente não temos um mercado para animação tão consolidado quanto o de mangás.

O que é:

Em Puella Magi Madoka Magica, a protagonista, Madoka Kaname, uma típica garota sonhadora e inocente – não à toa caracterizada com a cor rosa (se liga na semiótica!) – tem um estranho sonho em que outra adolescente enfrenta um perigo desconhecido ao mesmo tempo em que um bichinho engraçado, uma mistura de raposa com coelho (ou Kero-Chan com Mokona), assiste a tudo. Como a outra menina está visivelmente tomando uma surra de pau miúdo perdendo, o bichinho, posteriormente identificado como Kyubei, começa a falar com Madoka pedindo que ela faça um contrato com ele e se torne uma garota mágica. Já em sua escola – acordada, diga-se de passagem – qual não é sua surpresa ao encontrar a tal “menina de seus sonhos” (entendam como quiserem) e descobrir que ela se chama Homura Akemi e é a nova aluna do colégio. E o melhor, Homura não só não estranha os olhares estranhos de Madoka como os devolve e parece já a conhecer, inclusive sabendo seu nome sem que ela tenha dito.

121149-puella-magi-madoka-magica-puella-magi-madoka-magica
Wallpaper com imagem extra, ou seja, de fora da trama. Ah, como seria bom se a história tivesse corrido assim…rs

Não preciso nem dizer que a aluna nova é de fato uma garota mágica, que se veste de preto justamente para demarcar como ela é sombria e tem um passado cheio de sofrimento e mistério, e seu caminho e o da protagonista se cruzam novamente ao Madoka interceptá-la enquanto ela atacava justamente Kyubey (!!!!). Nessa ocasião, ela descobre ao mesmo tempo que se seu sonho foi real, garotas mágicas existem, e mais, que sua cidade corre muito perigo, por conta das temidas “bruxas”, as antagonistas naturais das garotas mágicas. Na trama, “bruxas” são entidades malignas que se alimentam de emoções humanas negativas (dor, desesperança, sofrimento, desespero etc.), elas possuem representações corpóreas e podem também efetivamente ferir e matar, mas são meio que amorfas (não são tipo as vilãs de Sailor Moon, mas tipo as manifestações das cartas Clow só que mais horripilantes e nada fofinhas). Contudo, sua principalmente forma de agir, segundo a própria história, é influenciar negativamente as pessoas geralmente levando a suicídios, acidentes suspeitos ou massacres.

puella 5
O bichinho é uma espécie de Mefistófeles na trama, fazendo contrato com as garotinhas ao realizar um pedido em trocas de serviços aparentemente eternos. Como a história, ele pareça ser fofinha, mas acho que ele esconde algum segredo sombrio, tipo aquele final alternativo de Caverna do Dragão em que Mestre dos Magos é o demônio

Sabendo de tudo, ela e sua amiga Sayaka Miki, que é caracterizada com azul pra mostrar com ela é meio “moleque”, mas meiga no interior, logo em seguida conhecem outra garota mágica, Mami Tomoe (T_T), e passam a sofrer um leve “assédio” de Kyubey pra se tornarem também combatentes das bruxas. Elas ainda descobrem que era justamente esse o motivo da agressividade de Homura e de seu ataque, a jovem não queria que as duas se envolvessem no mundo da magia, o qual só traria tragédia, dor e morte, o que elas descobrem posteriormente do pior jeito.

Antes:

mahou-shoujo-madoka-magica-2002211Devo dizer que o que me direcionou ao mangá foi meu fraco por garotas fofinhas. Lolicon declarado, esperava mais uma história água com açúcar cheia de menininhas com vestidinhos de babados e lacinhos coloridos. Por isso, foi uma ótima surpresa descobrir que há uma trama mais densa por trás dos babados e laços, que até se fazem presentes em profusão, mas de maneira nenhuma podem ser considerados o foco de Madoka Magica. A temática, no entanto, pode não ser a mais original, “a perda da inocência”, estando presente em 97,56% dos mangás do gênero, mas a execução, sem dúvida, faz valer as 12 dilmas cobradas pela editora New Pop. Além do mais, a edição em si é muito bem feita. O tankobon conta com primeira página colorida, ilustrações nas capas internas (não sei se esse é o nome dessa parte do outro lado da capa cartonada), e o papel do miolo é off-set, só o formato que poderia ser maior (11,3 x17,7) e as capas não tem orelhas. A título de comparação, a JBC, por exemplo, atualmente cobra R$ 11,90 pela maioria de seus mangás e não tem uma paginazinha colorida sequer (exceto Genshiken e outros mangás acima de R$ 11,90) e o papel é o Brite 52g.

E o melhor, são só três volumes já finalizados no Japão, então, creio eu, não há desculpa para não fazer uma forcinha e apostar num título relativamente desconhecido, mas que certamente vai surpreender até o maior machoman fã de Narutos e One Pieces da vida. Diria mais, é uma ótima pedida para não iniciados na apreciação da cultura visual nipônica. O mangá tem drama, garotas kawaii (sem fanservice ou imagens apelativas, para não ofender as moiçolas incautas), ação, suspense e até terror, o pacote completo para fisgar mesmo quem nunca ouviu falar de Goku, nosso senhor e salvador, ou que nunca mandou um “ai, ai, ai, Yukito” de olhinhos fechados no escurinho do quarto.

happy
Há doses cavalares de fofuras também. Aqui as heroínas em suas roupas de garotas mágicas

Depois:

Assisti quatro dos doze episódios da série animada, pois eles correspondem justamente ao primeiro volume do mangá. Pode parecer uma boçalidade para o leitor habitual de mangá, mas a primeira diferença que se sente em relação as duas obras é a colorização. Obviamente, não estou fazendo este comentário apenas por um ser em preto e branco e o outro colorido. Até porque o bom leitor de mangá consegue ver as diferentes cores nas variações do preto e dos cinzas.

Visualmente muito estimulante, o anime tem na aparição das bruxas seu ápice. Tudo ocorre numa paisagem meio onírica, feita como uma espécie de colagem misturando elementos animados em diferentes estilos e outras formas de arte como recortes e sobreposições, dando um efeito surrealista muito bonito (e até macabro, com alguma boa vontade). Isso mostra que não basta apenas ter uma história interessante pra virar uma “febre instantânea”, é preciso um diferencial, neste caso, a arte do estúdio Shaft – os mesmos de Maria Holic e de Negima!?, versão alternativa do mangá homônimo.

Nutbladder_puella_magi_madoka_magica_-_03_7ec0e521-mkv-00012
A “bruxa” está solta

Não foi possível, por motivos óbvios, comparar o resto da narrativa para procurar por possíveis discrepâncias (estou esperando sair o #2 pra assistir o resto do anime), contudo nos parece que as coisas devem continuar bem fieis uma vez que os criadores são os mesmos. Quem assina o anime e o mangá é o Magica Quartet (não confundir com o Quadrado Mágico do Parreira), um pseudônimo de Gen Urobuchi (roteiro), Ume Aoki (design de personagens), Akiyuki Shinbo (direção) e Iwakami Atsuhiro (produção).

Embora os traços do artista Hanokage combinem com a história e façam justiça ao original em termos de caracterização e de ação, ele não consegue efetivamente transpor a identidade visual que seria o diferencial de Madoka (até porque é difícil fazer uma colagem numa edição de papel). Não só nas cenas das bruxas, a composição estética da animação se deixa ousar um pouco mais, trazendo cenários mais tradicionais mesclados com moldes menos convencionais, como a “escola de vidro” onde os personagens estudam. Lembrando sempre que, nos mangás, os cenários, retículas e demais trabalhos de acabamento e pano de fundo geralmente são conduzidos pelos assistentes e não pelo próprio artista – ou seja, é um trabalho mais mecânico e padronizado do que o desenho principal da página.

puella_magi_madoka_magica-10-homura-witch
Experimentalismo até a última ponta

O mangá, por outro lado, por poder ser contemplado de maneira mais pausada, permite que se aprecie mais as passagens dos quadros, o que inclui as cenas de ação, que, pelo menos nesse primeiro volume, parecem mais “inspiradas” – no sentido de melhor trabalhadas – e um pouco mais brutais do que no anime.

Serviço:

Como foi dito, o mangá foi lançado pela NewPop e pode ser encontrado em bancas e comic shops custando modestas 12 birimbadas no fosquete (ou seja, dá pra pagar com vale-cultura do Minc ou com Bolsa Família).

Thank_you_for_watching_the_end
Agradecimento kawaii dos autores ao final do anime

O anime também é fácil de encontrar legendado na internet, inclusive em alta qualidade (1080p, a chamada qualidade de Blu-ray), motivo que me levou até ele em primeiro lugar. Ele pode ser encontrado até no Uol Mais.

Mahou Shoujo Madoka Magica episódio 1 

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 3 comentários

  1. toddy

    Parece um pouco as guerreiras mágicas, só que mais dramático! Não sei se conseguiria assistir, sem chorar feito uma menina! ótimo post Zé

Deixe um comentário