Não sabe o que é Zero Charisma, nunca ouviu falar? Então, senta aí, pega um sacão de batatas fritas e um garrafão de refri que irei te contar.

Zero Charisma é o título do que promete ser o filme mais revelador e mais engraçado da subcultura atualmente conhecida como nerd que se tem notícia. Gravado no estilo documentário, o longa promete ser o equivalente ao Borat dos excluídos sociais desta década de 2010. Caso vocês não gostem de Borat ou Brüno (e existe esse tipo de gente no mundo, infelizmente), posso garantir que não só Zero Charisma tem uma pegada levemente diferente que pode agradar os detratores do filme de Sacha Baron Cohen – que o chamam de apelativo, entre outras coisas –, como talvez seja o único produto de entretenimento contemporâneo que vai conseguir ao mesmo tempo agradar os nerds xiitas de antigamente, aqueles que ainda torcem o nariz com a própria menção do termo nerd, e os ditos novos nerds “deslumbrados”, a geração The Big Bang Theory – aqueles pra qual a indústria é voltada atualmente.

Em primeiro lugar, fazemos questão de nos referir à produção por seu nome em inglês, Zero Charisma (Zirou Querisma), pelo simples fato de ela não possuir um título oficial em português. Mas dá pra entender que a tradução seria Carisma Zero, ou, conhecendo os estimados responsáveis pelas adaptações brasileiras, “Um maluco no RPG”. Aliás, sendo um filme independente, de baixíssimo orçamento e pouquíssima projeção mesmo em seu país de origem (embora tenha ganhado o prêmio do público do hypado festival indie SXSW), ele dificilmente passará da linha do Equador, pelo menos não de maneira oficial. Embora, de certa maneira, se espere que este humilde textículo que lhes apresento possa ser o catalisador de um efeito cascata que vai culminar na sensibilização das distribuidoras nacionais e subsequente lançamento do filme por aqui (nem que eu tenha que utilizar todos os polpudos recursos do Iluminerds – uns R$ 4,50 – para lançar o filme eu mesmo).

Sem mais delongas. Na trama, Scott (Sam Eidson), mestre de RPG e seu grupo de amigos, vê sua liderança e influência diminuídos quando eles aceitam um novo integrante em seu círculo. No caso, um típico “nerd da nova geração” – descolado, popular com as garotas, boa pinta e que utiliza roupas da moda. Para Scott, Miles não passa de um poser, um hipster que se interessa pelos hobbies nerds apenas por eles estarem na moda, mas acontece que o rival é realmente bom – joga RPG tão bem quanto ele e discute de igual para igual sobre temas como cronologia de história em quadrinhos, literatura fantástica, ficção científica, entre outros. Ao ver sua posição ameaçada, Scott passa a ser tornar cada vez mais irracional, ficando a beira de um colapso nervoso que faria Um Dia de Fúria parecer um show da Clarice Falcão.

Entrei em contato com esse filme quando ainda era um projeto num desses sites de crowdfunding da vida (IndieGoGo). No trailer feito para a ocasião (um pouco diferente da versão final), há algumas tiradas tão geniais e engraçadas que não é de se espantar que eles tenham conseguido dez mil dólares a mais do que os quinze mil pedidos. Num desses momentos, a definição de Scott para a cultura nerd é tão contundente que chega a arrancar lágrimas do mais casca grossa dos antissociais.

Como nem todos estudaram na School of English Aprendization de Massachussets Ohio, separei algumas das melhores falas deste primeiro trailer.

Wayne: Scott é o maior Mestre de Dungeons and Dragons de todos os tempos. Seu comprometimento, sua atenção aos detalhes, sua paixão….toda sua vida se baseia em D&D!

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Scott: Quem colocou esse Homem-Aranha #16 junto desta saga da X-Force? Eu sei que eles fazem um crossover, mas…

Gerente da loja: Scott, você nem trabalha mais aqui!

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Avó de Scott ao ver o neto e os amigos, todos barbudos e na casa dos 30 anos jogando RPG: “Eu choro pelas mulheres da sua geração!”

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Wayne: Todo mundo gosta do Miles, ele é esperto, é engraçado e ainda conseguem nomear todos os aliens de Star Trek em ordem alfabética.

Scott de boca cheia: Qualquer um pode fazer isso!

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Miles: Eu vou seduzir essa elfa com meu carisma alto.

Scott: Ela é uma sacerdotisa suprema de Pell’Or, ela fez voto de castidade. Você precisa tirar um 20.

Miles gira o dado e tira 20.

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Scott: “Ele não é um de nós, Wayne. Pessoas como nós criaram esta cultura durante um século de opressão e solidão. E agora? Agora ela está sendo cooptada por um bando de neo-nerds hipsters babacas por puro lucro”. – Sem dúvida, a melhor tirada de todas. Zerou a vida! (no sentido figurado, o da gíria, e não de que a vida dele não vale nada…rs)

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Avó: Quando seu avô tinha a sua idade ele já era casado, tinha dois filhos e uma casa que ele mesmo construiu.

Scott: Mas ele também não era um bêbado?!

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Depois dos créditos:

Scott: Você acha que minha vida é apenas fantasia, Ulrick?

Ulrick (personagem medieval imaginário): acho que não sou a melhor pessoa pra te dizer isso, meu rapaz.

Curiosamente, entre o vídeo de arrecadação e o filme final ocorreram algumas mudanças, os amigos continuam os mesmos, mas os atores que interpretam Miles e a avó mudaram, entre outras coisas. E o resultado pode ser conferido aqui.

Dá pra perceber que Zero Charisma possui bastante potencial e, mesmo que aparentemente tenha ocorrido algum tipo de “suavização” na crítica a cultura geek atual entre a fase de projeto e o resultado final, pelo material divulgado até o momento, já vale uma exibição em terras tupiniquins. Ainda assim, na remota probabilidade de alguma distribuidora se interessar, a produção pode demorar um bom tempo pra chegar por aqui. Isso porque o filme ainda não estreou oficialmente nos EUA (será lançado em outubro), foram realizadas apenas exibições exclusivas em festivais. Nem na internet vazou aquele camrip esperto, o que quer dizer que vai ser bastante complicado estabelecer algum tipo de base de fãs que justifique o lançamento do filme e até mesmo de a obra estar disponível para download, esperemos que a situação mude a partir do dia 11 de outubro.

Página Oficial:  https://www.facebook.com/zerocharismamovie