Zumbis no Big Brother… Cara, é uma ideia boa demais pra dar errado.
É noite de eliminação no Big Brother inglês. Enquanto milhares de pessoas se aglomeram diante da casa onde os participantes estão confinados, a equipe de produção do programa, comandada pelo grosseiro Patrick (Andy Nyman), trabalha apreensiva com a possibilidade de que o programa saia do ar por conta da cobertura de um tumulto que está causando um crescente número de mortos no Reino Unido.
Alheia ao problema temos Kelly (Jaime Wintone), que trabalha nos bastidores do programa em funções pouco importantes (tipo entregar cafezinho) e está mais preocupada com os problemas que atravessa no seu relacionamento com Riq (Riz Amed). Ela o está traindo pela primeira vez em quase cinco anos de relacionamento e se sente dividida entre a culpa e a vontade de aproveitar o proibido.
Não demora para que a onda de calamidade chegue ao local: na verdade, há um surto zumbi acontecendo, se espalhando rapidamente, mesmo na área remota onde estão os estúdios do Big Brother. Rapidamente os mortos-vivos atacam os espectadores e membros da produção e se multiplicam, sem que os participantes do reality show imaginem o que está acontecendo do lado de fora. Kelly, porém, consegue chegar à casa e contar os fatos, alegando que o local do Big Brother se tornou, possivelmente, o último sítio seguro em toda a região. Enquanto isso, Riq descobre que a namorada está viva ao ver a transmissão do Big Brother na TV e decide alcançar o local a qualquer custo.
Dead Set foi exibida no Reino Unido pelo Canal E4 no fim de outubro de 2008 e não demorou a chamar a atenção dos fãs da temática zumbi, principalmente pelas boas soluções adotadas pelos produtores para compensar o baixo orçamento do programa.
Uma das boas sacadas do roteiro é justamente apostar nos estereótipos que qualquer pessoa que já teve o desprazer de assistir o Big Brother conhece tão bem: temos o bombado burro que se acha o máximo, a loira má gostosa que se vale de seus atributos, a loira burra e chorona, os representantes de minorias que usam isso o tempo todo a seu favor, o imbecil mais velho que se acha um sábio…
Dead Set é inglesa e temos o prazer de ver o humor britânico: eles sabem ser mordazes, ainda que nas entrelinhas para não perder o ar “elegante”. Boas cenas se passam nos bastidores do programa, principalmente quando ouvimos os comentários desdenhosos do produtor Patrick contra todos os participantes e como ele se sente à vontade para incitar conflitos entre eles. Também nos bastidores, vemos uma crítica sutil ao comportamento de Kelly, que é incentivada por uma amiga a manter o “relacionamento fora do relacionamento” com uma pessoa que, claramente, não passa de um mero sedutor que não busca maiores conseqüências nos seus relacionamentos. Ver o comportamento dela diante de Riq demonstra que, mesmo diante do fim do mundo, as pessoas continuam sendo como sempre são: desonestas.
A série foi produzida pela Zeppotron, empresa ligada a Endemol, proprietária intelectual do Big Brother. Por isso, não é de se espantar que Dead Set use o nome, a idéia e – pasmem! – a apresentadora do programa “verdadeiro”, Davina McCall. Mas, apesar do que algumas pessoas pensam, ela não foi exibida pelo mesmo canal: o Big Brother inglês é exibido pelo Channel 4.
O programa até provocou uma pequena discussão com Simon Pegg (ator e co-roteirista de Shaun of the Dead e inspiração para o heróico Hughie Mijão, de The Boys), que lamentou que a série tenha optado por uma versão dos zumbis vistos em Extermínio (que sáo rápidos e barulhentos) em vez dos lentos e balbuciantes (ou silenciosos) consagrados nos filmes de George Romero. Brooker encerrou a discussão em um longo post, onde justificou a escolha por uma questão de ritmo: era necessário que o surto se espalhasse rapidamente, para evitar que as pessoas ficassem receosas de sair de suas casas e se dirigirem aos estúdios do Big Brohter a fim de assistir in loco a eliminação de mais um participante.
Claro que chega um momento em que a falta de grana pesa e fica meio chato ver tantas cenas escuras, filmadas de longe ou com a famigerada “câmera no ombro tremendo”. Tudo pra evitar focalizar diretamente os zumbis (o preço das lentes de contato, por exemplo, assustou os produtores). Mesmo assim, a história e uma boa quantidade de referências a filmes clássicos do gênero garantem a diversão até o fim.
Com cinco episódios que somam pouco mais de duas horas, Dead Set pode ser assistido como um filme, de uma única tacada. Vale a pena.