Iluminamos: O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy)

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Quando fui ver o filme que dá título a esse post de maneira totalmente despretensiosa, no longínquo ano de 2010, não esperava nada além de um filme que falasse sobre os Beatles. Mas, filme sobre os Beatles temos de sobra. E, com certeza, diferentemente das músicas da banda, filmes sobre eles não são garantia nenhuma de sucesso, muito menos de qualidade artístico-cinematográfica.

Apesar de ser mais um na seara, O Garoto de Liverpool já entrou na minha lista dos melhores filmes (não só sobre os Beatles, mas dentre todos). O filme tem como personagem principal apenas um dos Beatles – John Lennon -, mas isso não quer dizer que não vejamos lá também Paul e George (não sei se Ringo apareceu, até porque ele só entrou na banda mais tarde). No entanto, é a adolescência conturbada de John o grande fio condutor do roteiro. Sua criação pelos tios, sua relação disfuncional com a mãe, suas lembranças traumáticas da infância, seu comportamento intempestivo. Tudo está lá. E muito bem retratado por todos os atores.

Aliás, falando no elenco. Não conhecia nenhum dos atores pelo nome. O rosto do ator que interpretava o Paul era o único que não me era estranho. Fui procurar no Google e vi que seu nome é Thomas Sangster e que ele já interpretou papéis em  Simplesmente AmorA Última Legião e Nanny McPheeTambém graças ao Google descobri que O Garoto de Liverpool foi baseado no livro Imagine This: Growing Up With My Brother John Lennon e que a diretora do filme é Sam Taylor-Wood. Outro rosto conhecido (não por mim, mas pelo público em geral) é o de Aaron Johnson. Ele já participou de filmes famosos como Bater ou Correr em Londres, O ilusionista e Kick-Ass: Quebrando Tudo.

Saindo dessa digressão do parágrafo anterior, me detenho a história do filme. Não que eu vá conseguir me lembrar de todos os detalhes importantes dele. Esse é um dos maiores problemas dos grandes filmes: por serem vários na história do cinema, você nunca se lembrará de todos os diálogos e cenas dignos de lembrança. No entanto, tentarei fazer o melhor possível.

No início do filme, vemos a relação de amizade e companheirismo entre Lennon e seu tio George, que era um verdadeiro pai para ele, embora não se entendesse tão bem com Mimi, sua esposa e tia de John. Esse relacionamento é interrompido ainda na adolescência com a morte de George, e é o segundo grande trauma de Lennon. Acredito que o primeiro tenha sido o abandono da mãe.

 A partir desse fato, temos o desenrolar da história. Lennon se rebela na escola e contra sua tia. Ele também busca e consegue encontrar sua mãe, graças a ajuda de um de seus amigos. E é através da mãe que ele conhece o rock’n’roll e Elvis Presley, passando a adotar também o mesmo penteado de seu ídolo. Sua mãe, Julia, era claramente bipolar e tresloucada, o que talvez tenham colaborado geneticamente para a loucura criativa de seu filho. Em uma de suas frases no filme ela resume o que seria o rock e mostra um pouco de sua personalidade:

“Rock’n’roll significa sexo.”

Julia também ensina o filho a tocar banjo. Nessas cenas, em que ele está refugiado na casa de Julia após ser suspenso da escola e ter escondido o fato de Mimi, vemos seu desenvolvimento musical e seu talento. O tempo é acelerado para mostra rapidamente a evolução de seu domínio do instrumento.

Ao final da estada na casa de sua mãe (seu padrasto praticamente convence sua mãe a expulsá-lo de lá), Lennon retorna a casa de sua tia. Após falar com ela que deseja ser um astro de rock, Mimi sai com John para comprar-lhe seu primeiro violão. Este lhe é retirado posteriormente após Mimi ver seu boletim da escola. Porém, John consegue o violão de volta, pedindo dinheiro emprestado de sua mãe.

 Me superei na chatice com esse parágrafo.

 

Fazendo uma pausa no relato da história, para mim o diálogo mais interessante do filme foi esse:

Por que Deus não me fez Elvis? John Lennon

Porque estava guardando você para ser John Lennon. Julia

Não sei se antes ou depois de conseguir seu violão, mas John faz uma convocação aos seus amigos mais próximos de colégio para que formem uma banda de rock. Ao que todos dizem que não sabem tocar nenhum instrumento, Lennon rebate dizendo que não é necessário saber fazê-lo. Depois disso, eles se reúnem e começam a tocar sob o nome The Quarrymen (anterior a The Beatles).

 

Uma outra cena legal é quando Paul Mcartney pede para entrar na banda. Por ser mais velho, John inicialmente desdenha dele. No entanto, após vê-lo tocar e ouvindo os seus amigos da banda, ele aceita Paul na banda. É Paul, aliás, que traz George Harrison para o grupo. Tanto George quanto Paul possuíam, pelo que vemos no filme, uma habilidade musical superior a de John. É Paul aliás quem ensina teoria musical a John e incita-o a criar composições próprias para a banda.

É ainda retratado outras brigas de Lennon com sua tia e com sua mãe, a reconciliação das duas, os primeiros shows com Paul e George na banda, escaladas em ônibus urbanos, dentre outras coisas, e não necessariamente na ordem enunciada. SPOILER ALERT! Encurtando a história, ao final, temos o velório da mãe de Lennon, que morre atropelada. Fato este que acabou por unir ainda mais John e Paul, já que este também havia perdido sua mãe anos antes. Já a última cena se dá com o anúncio de John para Mimi de que ele e sua banda viajarão para Hamburgo por dois meses ou mais (pela primeira vez, Mimi demonstra seus verdadeiros sentimentos por John ao abraça-lo afetuosamente). Seria o começo do sucesso internacional e dos Beatles como conhecemos hoje. Já no descer dos créditos, como não poderia deixar de ser, visto o contexto do filme,  saio da sala de cinema ao som de “Mother”.

 Post Scriptum

A trilha sonora escolhida foge um pouco do lugar comum. É preciso ser fã para conhecer todas as músicas tocadas no filme. Há ainda as músicas que não são dos Beatles mais que faziam sucesso nas décadas de 50/60. A trilha sonora completa pode ser conferida aqui. Veja também o site britânico oficial do filme.

Administrador Iluminerd

A mais estranha figura nesse grupo: não posta, não participa de podcast, mas foi ele quem uniu todas as pessoas dessa bagaça...

Este post tem 6 comentários

  1. Jason Campelo

    Parabéns pelo artigo, Fausto. Apesar de não concordar com o seu julgamento de que este é um “grande filme” (posição pessoal, tendo a achar filmes biográficos produtos de “quase-má-fé” por se apoiarem na presunção de que haja qualquer paralelismo entre esta narrativa ficcional e uma suposta “realidade”), concordo que ele tem o grande mérito de tentar contar uma história, sem cair na fanzoquice chata. Além disso, acho que um outro grande mérito do filme é o de não se apoiar na própria discografia dos Beatles pra contar a história, coisa muito comum em filmes do gênero.

    Ah, não conhecia o site The Beatles Bible. Agradeço pela indicação! O site é  bem completo e possui algumas informações preciosas (e ainda desconhecidas por mim, beatlemaníaco de carteirinha)

    Abraço!

  2. JJota

    Putz! Adoro este filme. Está, ao lado de Control (de Anton Corbjn) e The Doors (de Oliver Stone), entre as melhores cinebiografias roqueiras que já vi (senhoras e senhores, até hoje não encontrei Sid & Nancy, de Alex Cox). As interpretações estão em alto nível, o roteiro é bem afiado, a direção muito bem conduzida. Momentos extraordinários, como o acidente da mãe de John, a citada entrada de Paul na banda, as mudanças de humor de Julia, John aprendendo a tocar banjo e – na minha opinião, a melhor de todas – a banda gravando In Spite Of All The Danger, com John engasgando em algumas passagens. Difícil não me sensibilizar com versos como In spite of all the heartache / that you may cause me / I’ll do anything for you / anything you want me to / if you’ll be true to me…

    Belíssima resenha.

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