Iluminamos: O Lobo de Wall Street

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Fui ver O Lobo de Wall Street sem saber que era do Scorsese. Estava procurando alguma coisa diferente das habituais comédias ou animações. Simplesmente olhei o pôster desse filme, indicando que estava em cartaz no Shopping, e fui lá com a Senhora Cyttorak, só porque ela é fã demais do Leonardo DiCaprio e, sim, também gosto da atuação dele.

Um filme fantástico! Com ele, descobri que sou putinha do Scorsese até sem saber que ele dirige o filme. Desde os primeiros 30 minutos, achara algo um tanto familiar na montagem e edição do filme, e, ao final percebo, deslumbrado, nos créditos, que a direção é a do meu senhor-em-armas do cinema contemporâneo. Ah, não era pra menos.

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Sr. Colossus, menos babação de ovos, por favor.

O que faz, afinal, desse um filme tão genial? Primeiramente, uma rápida passada pela sinopse. O Lobo de Wall Street é baseado na autobiografia best seller do corretor Jordan Belfort, que, recém-chegado em Nova York, fascinado por dinheiro e pelo mundo das finanças, consegue um estágio de seis meses numa grande corretora de Wall Street. Depois de trabalhar duríssimo, seguindo os conselhos de seu mentor, Mark Hanna (Matthew McConaughey), consegue o tão almejado emprego na corretora para simplesmente ser demitido no dia seguinte, quando acontece a Black Monday, uma crise que provocou queda desastrosa e simultânea das ações em bolsas de valores do mundo inteiro. O desespero do desemprego o leva a trabalhar em uma pequenina corretora que lida com títulos e ações de empresas de fundo de quintal – ou mesmo de fachada – vendidas a preços baixíssimos, que, apesar de renderem pouco na bolsa de valores, garantem um percentual de comissão de 50% ao corretor, diferentemente das ações das firmas de grande porte, que garantiriam apenas 1% de comissão.

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Ó! É buita dinheirinha.

O resultado disso é que Jordan Belfort junta antigos amigos seus, completamente amorais e de péssimo caráter, ensina aos malignos a dinâmica do mundo das bolsas de valores, e funda a Stratton Oakmont, uma corretora especializada em vender gato por lebre no mercado de ações, e fica milionário.

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O filme é obsceno em inúmeros sentidos. Primeiramente, o sexo. Prostitutas são lugar-comum dentro da corretora, com os corretores organizando orgias (muitas vezes passadas dentro dos escritórios) baseadas em dinheiro vindo de má-fé. Segundo, as drogas, que acompanham o sexo desenfreado e as prostitutas. As drogas são excessivas, assim como as pessoas que as usam. O filme é uma denúncia obscena, exagerada como o mundo de Wall Street, que cobra a vida de seus corretores, em pagamento pelo fugaz sucesso financeiro. As cenas são fortes: tanto as drogas quanto o sexo chocam, não pelo explícito, e sim pelo abusivo e inusitado das situações em que se encontram. Mark Hanna, ao dar seu primeiro grande conselho a Jordan Belfort, diz claramente que o trabalho de um corretor é lidar com ficções. Com pessoas de mentira, existentes em forma de papel, como propostas de compra; com dinheiro de mentira, existente apenas em números, espelhados abstratamente em monitores. E é essa filosofia que Jordan e seus amigos amorais passam a viver intensamente.

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Como organizar um rico bacanal com dinheiro de estelionato.

Tecnicamente, o filme é impecável. Cortes precisos, edição maravilhosa, câmeras em ângulo tão contundente que, até uma cena de mera sugestão sexual, fica forte. Aliás, Scorsese chegou ao ápice de apuro de sua técnica no filme A Cor do Dinheiro, de 1986, e tem se mantido fiel a ela desde então, fazendo praticamente uma obra-prima depois da outra. Assim como Clint Eastwood, Martin Scorsese alia um completo domínio da forma a um severo controle de conteúdo – escolhendo a dedo os roteiros que irá filmar – e uma total fidelidade aos seus colaboradores. Scorsese e Eastwood sabem que a natureza do cinema é contrária à ideia que prêmios como o Oscar apregoam: neste meio, a individualidade não é o principal a ser premiado. Filmes são frutos de atividades totalmente colaborativas, que dependem não só de um realizador, mas de uma equipe forte e em sintonia. Se a equipe é quase sempre a mesma, a qualidade dos filmes tende a ser mais ou menos homogênea. E Scorsese é fiel aos seus. Costuma trabalhar quase sempre com os mesmos roteiristas, cinegrafistas, produtores e atores, criando identidade visual e técnica únicas.

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Scorsese, com a equipe de produção, durante as filmagens.

Aliás, a fidelidade à equipe acaba sendo uma via de mão dupla, os colaboradores acrescentam ao trabalho do diretor, e este acrescenta ao trabalho dos colaboradores. A constante proximidade permite uma maior sintonia e produção de mais conteúdo de qualidade com menos esforço. Um exemplo evidente disso é a atuação de Leonardo DiCaprio: o ator, desde Gilbert Grape, demonstrou ser uma forte promessa, mas a sua já longa parceria com Scorsese está lhe rendendo fantásticos frutos. Neste filme, o ator entrega uma das mais impressionantes atuações de sua carreira. Seu Jordan Belfort, humilde no começo de carreira, é frenético, showman, apavorantemente surreal até o final do filme. Os discursos “encorajadores” de Jordan são a coisa mais bizarra e, ao mesmo tempo, fantástica já encenados pelo ator. Há um exagero preciso nos gestos e movimentos; uma crença absoluta no absurdo, que transparece no gestual, nas caras e bocas, nas falas contundentes.

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O final de um de seus discursos, terminado com papel laminado picado e muito alvoroço.

Scorsese, aliás, já tem uma tradição de filmes contundentes, mas nenhum, até agora, de tão forte apelo às drogas e ao sexo. Devido à temática obscena do livro, que fala da completa falta de moralidade na lide com o dinheiro alheio, os roteiristas e o fantástico diretor talvez tenham visto na obscenidade a melhor maneira de adaptar, para o expectador, um choque, um impacto paralelos. Qual a melhor forma de se chocar a moral de alguém? Uma das possibilidades está retratada de maneira brilhante nesta película: leve a imoralidade para além dos limites viáveis. Meu estômago sinceramente se embrulhou em alguns momentos. E isso, por incrível que pareça, é bom. É pra isso que os filmes são feitos, pra tocar o expectador, de uma maneira ou de outra, no emocional e no mental. Jordan e seus amigos passam a viver uma vida de mentira, regada por excessos que beiram o absurdo, em que as buscas pelo maior lucro, a maior trepada e a droga mais potente são a tônica. O filme é uma denúncia, forte, deslavada e sem travas, de uma sociedade limitada somente pela possibilidade de seu consumo, na qual os cordeiros acham que, por um golpe de sorte, ou de falsos avisos abalizados, também podem ter a sua parte do Sonho Americano; e, em que há cordeiros desavisados, o lobo faz a festa.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 3 comentários

  1. Renver

    Excelente resenha… ótimo filme pra ser ver em família…

    Mas brincadeiras a parte…faz tempo que esse cmundo corporativo é podre por dentro,,,demorou pra alguémabordar isso.

    1. Renver, realmente, é um fime maravilhoso pra se ver em família. Principalmente nas cenas iniciais…

      O pior é que realmente tinha uma mulher com uma filha de 10 anos no cinema. Fiquei horrorizado com a irresponsabilidade dos pais e dos empregados do cinema.

  2. JJota

    Olha, a gente sempre costuma tacar o pau em ator ruim ou que nunca evolui… Mas, cara, tem que se repseitar o Dicaprio: de atuações horríveis como A Praia o sujeito chegou longe. Parabés pra ele.

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