Ponta de Estoque: Front Mission Evolved

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Sempre tem gente fazendo cobertura de novos games, porém, ninguém se lembra daqueles que não têm dinheiro pra ficar comprando lançamentos, mas também querem ter seus joguinhos. Esse é o objetivo básico desta coluna: ajudar a orientar as pessoas que querem ter jogos sem gastar tanto, e não se importam que sejam mais antigos. Além disso, também é uma desculpa barata pra cagar regra em cima de jogos antigos que ainda são vendidos em promoção pelos camelódromos e infocenters da vida.

O jogo de hoje será o Front Mission Evolved, lançado para PS3, no ano de 2010.

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No jogo você manipula os Wanzers. Wanzer é uma abreviação da palavra alemã Wanderpanzer, que significa “encouraçado que caminha”

Para quem ainda não conhece, ou nunca ouviu falar, Front Mission é, depois de Final Fantasy, uma das franquias mais bem sucedidas da Square-Enix. Contando já com 14 títulos em sua biblioteca, a franquia ficou primeiramente famosa por seu estilo. É um jogo de estratégia em tabuleiro isométrico, baseado em turnos. Cada turno permite que o jogador efetue um determinado repertório de movimentos. Cada movimento consome uma quantidade de AP (Action Points ou Pontos de Ação). O jogador tem uma certa quantidade inicial disponível de APs que vão ser consumidos com os movimentos. Uma vez consumidos todos os APs e feitos todos os movimentos possíveis – dentro de seu turno – você deve encerrar seu turno e esperar a movimentação do inimigo.  Dependendo do personagem focado, e da ação escolhida, você terá mais movimentos, ou menos movimentos, mais ou menos efetivos ou agressivos.

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Círculo de Fogo, de Guillermo del Toro, é uma bem sucedida tentativa de se adaptar o culto dos Mechs ao gosto ocidental.

Os personagens disponíveis para movimentação no tabuleiro, por sua vez, são os WanzersWanzers são mechs gigantescos, mais ou menos de uns 15 metros de altura, que são plenamente utilizados na guerra. Customizáveis, podem ser montados pelo gosto do freguês. Se você tem um time de 5 mechs, e deseja 2 que sejam uma espécie de “infantaria de incursão rápida”, vai equipá-los com braços e pernas leves, corpo esguio e armas de assalto básicas. Se deseja que, dos 5 mechs, 2 deles sejam de “incursão pesada”, vai equipá-los com lança-mísseis nos ombros, escopetas, além de corpos e membros robustos, com maior armadura. Enfim, o jogo permite uma grande liberdade de criação de Wanzers, com enorme repertório de partes, peças, membros e armas – cada uma com suas especificações – facultando que o jogador crie seus times adequados aos estratagemas.

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Os carismáticos pilotos de Front Mission 5.

No ocidente, a cultura mech não tem esse apelo tão grande. Em resposta a isso, Front Mission satisfaz e compensa em outro ponto: a história. Em todos os episódios dessa franquia, a história de Front Mission é robusta. Pensada vários detalhes, geralmente se dá ao redor de conflitos militares – ocorridos num futuro não tão improvável – que acontecem em um mundo globalizado e, ao mesmo tempo, dividido em blocos de interesse político-econômico. Passados geralmente nos séculos XXI e XXII, os títulos da série tendem a tentar uma genuína aproximação histórica, com muitos detalhes, enfrentando temas dificilmente tratados em games, como questões econômicas, conflitos étnicos e de forças com os interesses políticos que as permeiam. Tudo isso entremeado por interessantes enredos individuais de pessoas que tentam sua autossuperação em um mundo brutal e frio.

A história da franquia Front Mission, aliás, é de tão grande destaque que permitiu à série sair do mundo dos games e tentar incursões bem sucedidas nos mangás; alguns romances – que acrescentaram informações complementares ao universo – ; programas de rádio e dois longa-metragens, produzidos no Japão.

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Capa do Mangá de Front Mission lançado no Japão. Outra abordagem interessante do universo de Front Mission.

Devido a toda esta história, poderíamos esperar um grande jogo a ser lançado para Playstation 3, não? Pois é. Só que não. Front Mission Evolved, ainda que trazendo vários elementos da história e da mitologia da série, não soa como um real Front Mission. Primeiro e mais evidente de tudo: o aspecto estratégico foi completamente abandonado. Passou a ser um jogo de tiro de robôs em 3ª pessoa em mundo livre. A história também não traz a mesma densidade de suas versões anteriores. Personagens um tanto quanto estereotipados se recostam em seus mimimis pessoais e esquecíveis dentro de marcos históricos já consolidados pela franquia. A história é preguiçosa e não se empenha em captar o jogador pela empatia. Sem o elemento da estratégia e sem a história, só sobram os robôs gigantes. Perdidos os grandes atrativos do jogo para a maioria dos ocidentais, sabemos que grande parte dos gamers do resto do mundo não dá a mínima para outro suposto “grande” atrativo deste jogo: manipular mechs gigantescos. Robôs gigantes não alcançaram, no ocidente, o nível de fetiche que possuem no Japão.

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No Japão, Os Mechs têm uma longa tradição de adoração que vai desde mangás consagrados como a série Gundam aos robôs montáveis dos Power Rangers.

Despido dos grandes chamarizes para os jogadores ocidentais, o que sobra de Front Mission? Um shooter em 3ª pessoa razoavelmente competente. Nada mais. Os gráficos são burocráticos, nada que realmente impressione nas texturas e cores. Tanto a trilha sonora quanto a biblioteca de efeitos sonoros são um tanto quanto monótonos. Em alguns casos (como em alguns efeitos metálicos dos Wanzers), parece até que a Square reaproveitou efeitos sonoros de jogos anteriores –  principalmente de títulos do PS2 -, tamanha a semgracicie dos efeitos. A jogabilidade é efetiva. Em alguns momentos, você vai realmente se sentir com raiva de não ter conseguido acionar sua arma no tempo certo, ou de o dash do Wanzer não responder a contento, te deixando além do ponto que você gostaria de frear; mas não há nada que realmente prejudique o ritmo do jogo. O grande barato desse game é que muita coisa que existe no cenário é explodível. Se isso é legal, a princípio, logo fica chato e não acrescenta em nada além na diversão.

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“Destruí mais um poste de rua com o meu lança-foguetes de ombro”. Ooohhh.

Em suma, é um jogo sonífero; quase uma vergonha, em virtude do nível de profundidade que a franquia Front Mission chegou a alcançar, tanto em jogabilidade, quanto em história. Depois que se eleva os níveis críticos a um ponto tão alto, a responsabilidade é quase um fardo e as consequências ruins. Sinceramente? Não vale a pena. Comprei esse jogo a R$ 50,00 na Saraiva, mas cheguei a ver em alguns quiosques o mesmo jogo sendo vendido a R$ 30,00. O preço é extremamente atrativo, mas não se deixe enganar: a não ser que você esteja enfrentando muitas noites de insônia, não vale a pena o gasto. Se você é fã de jogos de estratégia, e conhece a série Front Mission, dispense esse: religue seu PS2 na tomada, e jogue os Front Missions 3, 4 e 5, esses sim, jogos maravilhosos.

FICHA TÉCNICA

Plataformas – Playstation 3

Ano de lançamento – 2010

Nota – 4,0

Preço – de R$ 30,00 a R$ 50,00

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

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