Literatos: O Pistoleiro – Stephen King

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“Você deve compreender que a Torre sempre existiu, e sempre existiram rapazes que sabiam de sua existência e ansiavam por ela, mais do que pelo poder, riquezas e mulheres… rapazes que procuravam as portas que levavam a ela…”

O autor

Stephen King é conhecido como um importante autor de histórias de terror um tanto bizarras, mas estranhamente fascinantes. Também é um dos autores com o maior número de adaptações para o cinema e televisão, a citar: Carrie, a estranha (1976 e 2013), À espera de um milagre (1999), Colheita maldita (1984), O nevoeiro (2007), O iluminado (1980), 1408 (2007), Conta comigo (1986) – para citar apenas os que eu assisti – e Sob a redoma (2013)  – conto adaptado para a televisão recentemente -, entre muitos, muitos outros.

Ao contrário de muito fã por aí a fora, comecei logo pela obra mais complexa do autor – A Torre Negra -, que é uma série composta por sete livros: O Pistoleiro, A escolha dos três, As terras devastadas, Mago e vidro, Lobos de Calla, A canção de Susannah e A torre negra. Recentemente, Stephen King lançou também O vento pela fechadura, um livro no mesmo universo, que se passa entre o quarto e o quinto livro, e não é, portanto, uma continuação, tampouco parte essencial da história principal.

Volume I – O Pistoleiro

A torre negra op 2
Volume I – O pistoleiro

O primeiro volume é o menor da série e funciona como um prólogo gigantesco (sem trocadilhos). Sua função é apresentar o universo em que a história se passa, o personagem principal e, consequentemente, a genialidade do autor. Pode ser pura e simples interpretação, exagero meu mesmo, mas não me lembro de ter lido uma primeira frase que dissesse tanto sobre a história. Ela não apenas “começa” a história, ela resume e apresenta a principal característica do personagem principal – sua determinação cega e pragmática:

“O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás”.

Na frase, temos dois personagens muito parecidos e ao mesmo tempo opostos. O protagonista, o pistoleiro, Roland Deschain, e o homem de preto, um homem “sem face”, também conhecido como “Walter das sombras”. A princípio não há uma explicação muito detalhada de porquê Roland quer tanto alcançar esse homem, mas, logo nos primeiros capítulos, quando Roland para em uma cidadezinha perdida no meio do deserto, você logo descobre o quanto esse homem é perigoso e que é melhor que seja encontrado logo.

O protagonista

Roland é um homem amaldiçoado, que tem essa maldição reforçada em todo lugar aonde vai. É assim que ele se vê, mas, ao contrário dos problemas de autoestima de muita gente por aí, ele não está enganado. Sua vida é um amontoado de desgraça que começa quando ainda era muito jovem e o persegue indefinidamente.

Por esse e outros motivos, Roland é um homem duro e obcecado, jurado pelos sentimentos de traição e vingança, a perseguir seu objetivo: encontrar a Torre Negra. Esse é o seu Ka, seu destino.

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Símbolo do Ka

Ele é o último de uma linhagem nobre de sua terra natal, Gilead, e o último pistoleiro. Os pistoleiros homens treinados na arte das armas, que têm um rígido código de conduta, representado pelo lema: “jamais esqueça o rosto de seu pai”.

 

“- Fale a Língua Superior – ele [Cort] disse em voz baixa. Um tom plano, ainda que com ligeira, embriagada aspereza. – Diga seu Ato de Contrição na língua da civilização pela qual homens melhores que você tantas vezes morreram, seu verme.

Cuthbert estava se levantando de novo. Lágrimas pairavam brilhantes em seus olhos, mas os lábios estavam comprimidos numa forte marca de ódio que não tremia.

– Lamento – disse Cuthbert num tom ofegante de autocontrole. – Esqueci o rosto de meu pai, cujos revolveres espero um dia carregar.”

 

O mundo

O mais interessante, no entanto, não são os personagens, mas o ambiente em que eles estão inseridos. Este é um “mundo que seguiu adiante”, um conceito tão amplo quanto o tempo que ele possivelmente engloba. Tudo ao redor está deteriorado, inclusive a condição humana, que segue inconsciente, individualista e degradada, enquanto ainda canta os hinos de uma Igreja que conhecemos muito bem. Aliás, nasce daí uma das cenas mais grotescas do livro, uma matança generalizada que sei que muita gente vai gostar.

Parece, à primeira vista, um cenário comum de faroeste, até que o pistoleiro se depara com sinais de uma tecnologia até mais avançada que a de nosso tempo. Isso não é surpresa para ele, claro, mas é causa de estranhamento para o leitor. Isso é o que vai te impulsionar na leitura, mesmo quando as coisas não estiverem assim tão favoráveis.

A leitura é lenta, arrastada, quase como é a travessia de Roland no deserto sem fim. É lá no final do livro que a história volta a se agitar, já na presença de Jake, um garoto de doze anos, que Roland encontra no meio do nada. É através do garoto que Roland toma conhecimento de um mundo completamente diferente do seu, ou de um tempo diferente do seu, antes de “o mundo ter seguido adiante”. E é o garoto que parece entender esse mundo melhor que o próprio Roland…

Adaptações

Como muitos outros livros do autor, A Torre Negra também tem sido namorada para ganhar uma adaptação live action. O ator, cineasta e produtor Ron Howard está a frente do projeto, mas não se sabe muito a respeito. Já foi dito que os livros virariam uma série televisiva, que poderia ter os direitos de adaptação comprados pela Netflix – a menina dos olhos de muitos nerds -, e até que suas temporadas seriam intercaladas por filmes. Surgiu boatos de atores que teriam sido cotados, como Aaron Paul (Breaking Bad), possível Eddie Dean, personagem do segundo livro.

(Os fãs continuam cruzando os dedos para que Clint Eastwood rejuvenesça trinta anos para viver o protagonista… ora, eles podem sonhar).

A.Torre.Negra.N03

De qualquer forma, a obra já foi adaptada em outras mídias, como o caso das Graphic Novels Nasce um pistoleiro, O longo caminho para casa, A queda de Gilead, entre outras, que vão adaptar os flashbacks espalhados pelos livros e contar a juventude de Roland Deschain, bem como a queda de sua terra natal, Gilead. Vale a pena conferir. O texto é ótimo, os desenhos são incríveis e as edições brasileiras estão impecáveis. Perfeito para quem já é fã e quer aproveitar ainda mais a história.

Soraya

Criadora e editora do blog "Contos e Pitacos" - http://contosepitacos.blogspot.com.br/

Este post tem 5 comentários

  1. Stephen King é simplesmente fantástico. Li apenas alguns livros dele, e me arrependo de até hoje não ter dado um jeito de ler a bibliografia completa. O cara é de uma imaginação e estilo fantásticos. Além disso, é o tipo do autor que pensa basicamente no humano, a partir das situações mais insólitas e absurdas possíveis: como se quisesse tornar o humano ainda mais humano, por exclusão.

    Parabéns pela resenha, e por trazer de volta à tona esse grande escritor.

    1. JJota

      Cara, espero que entre as obras que você leu esteja O Cemitério (Pet Sematary). Fodástico.

      1. Com certeza! Li O Cemitério; The Shawshank Redemption; Misery; The Mist; The Green Mile; e O Apanhador de Sonhos. Acho que tem mais um ou outro de que tô me esquecendo… E é pouco: a bibliografia dele é MUITO FODA. Sou fã.

  2. Bruno Martins

    Excelente matéria. Já li os três primeiros livros da coleção Torre Negra e estou lendo o quarto no momento. O primeiro é realmente é interessante e nos deixa com vontade de ler o próximo ao seu término; o segundo é ainda melhor com uma história superior e extremamente criativa; já o terceiro é um pouco lento e demora para melhorar, porém tem um final com um gancho muito bom. Até onde li no quarto livro, a história está sendo muito boa e acredito que continuará assim. Parabéns pela resenha

  3. tic-tac

    Realmente, a Torre Negra é a sua obra prima, afinal levou 30 anos para ser terminada. O seu texto esta muito bom, mas senti falta de alguns elementos da história que não foram citados, por exemplo, o grande numero de personagens de outras histórias do King que aparecem ao decorrer dos 7 livros, é um elemento fundamental para se entender o quanto essa obra é grande para o próprio autor, ela é o mundo fictício dele, a sua “terra média” como ele mesmo faz referencia nas suas explicações sobre o livro, ele cruza diversas referencias, para citar uma delas: O homem de preto é o personagem principal dos “olhos do dragão”. Falando sobre o mundo em si, eu entendo que o “tempo presente” (difícil definição pelo livro como você sabe) se encontra em um futuro nuclear pós-apocaliptco, onde a humanidade se restaurou um grande reinado com a linhagem do Eld e que definha, onde o Roland é o fim da linhagem. Acredito que poderias dar uma trabalhada nesse sentido que é muito interessante. Parabpnes pelos trabalho! adelante!

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