Iluminamos: Thor – Walt Simonson – Vol. 3

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No último post sobre a fase do Thor pelo Walt Simonson, eu relatei sobre a ótima Saga de Surtur, uma batalha de proporções épicas em Nova Iorque, que envolveu os Vingadores, Capitão Marvel, Bill Raio Beta, e o Quarteto Fantástico.

É inegável que as aventuras do Deus do Trovão escritas pelo Walt Simonson possuem um elevado nível de referências à mitologia nórdica, dando um novo frescor às histórias e tornando-as cada vez mais agradáveis de se ler. Na Saga de Surtur, por exemplo, Simonson criou um anticlímax fabuloso, que culminou com Odin e Surtur lutando agressivamente e caindo no abismo de Muspelheim, que se tranca logo depois.

Notam alguma semelhança da luta entre os dois com outra luta muito famosa? Se sim, digo que a semelhança não é mera coincidência. A batalha entre Odin e Surtur foi uma referência nítida à morte de Gandalf filho do Inferno, O Cinzento, no primeiro tomo de Senhor dos Anéis.

Desta forma, sem medo de inovar e de reinventar conceitos, Walt Simonson eliminou alguns elementos que faziam até então parte da mitologia da personagem. Sendo um deles, o Dr. Donald Blake e sua bengala. Além de inserir novos personagens às histórias, como o korbinita Bill Raio Beta.

As histórias de Simonson tinham um andamento insólito, muito diferente do ritmo dos super-heróis que se mantinham sempre na mesmice, sem alterações. Ele compreendeu verdadeiramente o escopo épico e a grandeza que uma HQ do Thor merece.

Neste volume, Thor vai ao Reino de Hel resgatar as almas mortais. Lá o Deus do Trovão enfrenta Hela, garantido a ele graves sequelas no futuro. Um ótimo arco, que conta com cenas formidáveis, como a surra de Thor em Hela, e o sacrifício do Executor, tido até então como vilão e capacho de Amora, a Encantor.

Na continuação da história, há um arco que serviu de tie-in para a famigerada megassaga Guerras Secretas II. Com a ausência de Odin, Thor se vê na necessidade de tornar-se o líder de Asgard e lutar contra Malekith, que após a sua volta, recebe a ajuda de Beyonder para transformar Algrim, o mais poderoso dos Elfos Negros, em um ser chamado Kurse. Thor conta com a ajuda do Quarteto Futuro (composto pelos filhos de Sue Storm e Reed Richards) e do Bill Raio Beta para enfrentar a ameaça de Kurse.

Apesar de derrotado por Thor, Kurse percebe que não era o Deus do Trovão o responsável pelo seu sofrimento, e sim, Malekith, o Elfo Negro maldito. Beyonder, então, teletransporta Kurse para Hel, por sugestão de Thor, para frustrar Hela, a Deusa da Morte. Kurse depois acaba matando Malekith, que havia sido disfarçado de Balder, o Bravo. A cidadania asgardiana é concedida a Kurse após ele se arrepender de tal ato.

O arco seguinte é, basicamente, a história mais inusitada do Thor. É interessante como o Simonson pegou uma ideia que, de início, parecia ridícula e conseguiu transformar num clássico memorável. Estou falando do Thor sapo.

História essa que, quando foi anunciada, deixou os fãs com bastante estranhamento e preocupação, mas ela fazia parte da estratégia de Simonson de explorar, cada vez mais, o lado mitológico do personagem.

Tudo se inicia quando Loki, em mais de um de seus planos para evitar que Thor assuma o trono de Asgard, cria uma armadilha para o seu meio-irmão, transformando-o em um sapo. Sim, Loki transforma Thor em um sapo. Logo em seguida, Thor se teletransporta para a Terra e é atacado por um rato, mas este é derrotado rapidamente pelo sapo do Trovão.

Sendo um sapo, Thor se une com seus semelhantes e faz amizade com os anfíbios. Um de seus amigos anfíbios era um sapo chamado Pocinha. Os seus amigos sapos travavam uma árdua luta contra os ratos, mas outra atribulação aparece para incomodar os anfíbios: os crocodilos.

Para derrotar os crocodilos, Thor rouba a flauta do Morlock, o Flautista e controla os crocodilos, provocando-os contra os ratos. Depois de vencer o embate contra os ratos Thor volta a Asgard, onde enfrenta Loki, obrigando o mesmo a devolver-lhe sua forma de origem.

A ideia de Walter Simonson era arranjar uma desculpa para afastar Thor da cerimônia de consagração do novo governante de Asgard, e para isso pensou em juntar uma maldição feita por Loki e uma homenagem a Carl Barks e todos os personagens de Patópolis da Disney, de quem Simonson era assumidamente um fã (em Superaventuras Marvel #101-103, edições que correspondem ao arco, não só há menção a homenagem ao Carl Barks, como também tem uma matéria com a sua biografia).

O sapo Thor corresponde a uma grande história de conto de fadas (ou seria conto de sapos?), com ratos sinistros no Central Park e Loki criando um Thor falso para assumir o trono do Reino Eterno. Uma curiosidade interessante é que o confronto dos sapos com os ratos da HQ é inspirado num poema satírico de Homero, o poeta grego ao qual tradicionalmente se é atribuído a autoria dos poemas Ilíada e Odisseia.

Sim, a premissa é absurda, mas também é inovadora e bastante cômica e, estava em perfeita sintonia com praticamente tudo que já vinha acontecendo nas histórias. Por um lado, é uma diversão completamente desnecessária. Por outro lado, é improvável não gostar de uma história em quadrinhos tão alegremente disposta a ser uma paródia de si mesma.

Todo o panteão dos deuses nórdicos foi completamente reinventado através das histórias de Simonson, tornando-se mais contemporâneo, mas mantendo seus encantos e aspectos míticos. Sua reputação com Thor é realmente merecida e facilmente resiste ao teste de tempo para os leitores atuais. Eu poderia mencionar momentos específicos e personagens detalhadamente, mas acho que só iria diminuir as surpresas para o novo leitor e interferir com a redescoberta dos fãs que já a conhecem.

Estas histórias são envolventes e inventivas, mas Simonson também exibe um talento para a criação e desenvolvimento de expectativas, algo que é característico das aventuras do Deus do Trovão escritas pelo Simonson. Além disso, o roteirista mostra um profundo respeito pela mitologia nórdica, explorando a extensão dos Nove Reinos de uma forma que muito poucos escritores conseguiram fazer numa mensal desde então. Através dessa fase, a versão do Thor da Marvel foi finalmente consolidada, uma mistura de fantasia e ficção científica.

O único ponto fraco na escrita de Simonson é que o diálogo pode ser um pouco cansativo, por vezes. Analisando fases anteriores do Thor, vários roteiristas optaram pela abordagem moderna do discurso asgardiano, algo shakesperiano demais às vezes. Trechos que são ”elegantes” demais. Felizmente, a escrita de Simonson só melhora ao longo de sua execução. Não percam no próximo post: Balder, Thor e um certo justiceiro do futuro!

Ficha Técnica:

Título: OS MAIORES CLÁSSICOS DO PODEROSO THOR Volume 3 (Panini Comics) – Edição especial

Autores: Walt Simonson (roteiro e arte) e Sal Buscema (arte).

Preço:  R$ 31,90

Número de páginas: 236

Data de lançamento: Junho de 2008.

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem 13 comentários

  1. JJota

    Toda a coleção do Simonson tem lugar especial na minha estante. Realmente, não consigo mesmo me empolgar nem com a fase do Straczynski (que, já disse antes, me parece mais um amontoado de clichês). Um porém que acho é a insistência, ao longo do tempo, com o Sal Buscema na arte. Até curtia o trabalho dele, mas nunca em Thor.

  2. Evandro Loco

    Muito foda, eu tenho uma dessas edições do Thor sapo na Superaventuras Marvel, que herdei do meu pai, na época nem dava bola, não curtia hqs!

    1. Inacreditavel_Neo

      Saudade da boa e velha SAM. Pena que, em seus últimos números, ela se tornou só mais uma revista X. E com o Cable como carro chefe!

      Malditos anos 90!

      Tirando, é claro, a banheira do Gugu.

  3. Churrumino

    Eu tava procurando esses volumes do Thor pra comprar, mas não acho em lugar nenhum. =/

  4. cgui

    ainda não li o post (tô saindo do trampo logo menos), mas tenho certeza que ficou foda…

    só pra avisar, o volume 03 é, de longe, o meu preferido!
    =)

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