Literatos: Clube da Luta de Chuck Palahniuk!

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Fala, galera que se diz revolucionária, mas nunca teve nada para se embasar! Hoje, trarei para vocês uma resenha muito especial. Por que digo isso? Pois, falarei sobre um clássico contemporâneo, o sensacional Clube da Luta de Chuck Palahniuk!

Desta vez, não me contentarei com uma resenha crítica. Na verdade, vou propor a vocês um jogo, no qual, após cada frase marcante do livro, irei escrever o que me vem a cabeça. Claro, sendo este pequeno “devaneio” voltado ao tema desta matéria. Então, vamos lá? Caso não se interessem, dane-se, agora sou anárquico! hahahahah

Esta é a primeira frase que me veio à mente:

” Trabalhamos em empregos que não gostamos, para comprar um monte de coisa que não precisamos.” (Clube da Luta)

Primeiramente, como descrever esta obra agradavelmente perturbadora? Sim, eu fui paradoxal, afinal, não há nada mais sincero a se dizer a respeito do que este livro fez a minha cabeça, uma vez que, perturbadoramente real, o autor nos traz questões complicadas – como a lógica do sistema capitalista e o próprio fetichismo da mercadoria – de maneira fácil e extremamente intrigante. Assim, repleto de paradigmas e críticas sócio-econômicas, sem contar todas as frases clássicas, encontrei nele a perturbação que tanto desejava! Finalmente, vi-me face to face com a realidade contra qual tanto luto, ao mesmo tempo em que me deleitava ao constatar que tais palavras  descrevem a minha loucura diária.

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“Seu emprego não é o que você é, nem o quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco. Nem o carro que dirige, nem o que tem dentro da sua carteira. Você é uma merda ambulante do mundo.”(Clube da Luta)

Superando a babaquice da academia, Chuck conseguiu deixar bem claro o modo de produção ao qual somos submetidos, porém, para embasá-lo cientificamente, podemos dizer que o livro, em outras palavras, expõe que, a partir de uma sistema de métodos espúrios voltado – tão somente – ao afã da lucratividade, somos transformados em mercadoria.

O capitalismo busca apresentar-se como um sistema econômico cuja racionalidade é a produção maximizada de bens. Porém, entende por “bens” apenas o que existe como mercadoria e que pode ser expresso numa dimensão monetária quantitativa. Em sua essência, o capitalismo não é mais do que um sistema social de produção maximizada de dinheiro. (ACANDA, 2006, p.56)

Neste tipo de contexto sócio-econômico, a mercadoria torna-se a detentora e a expressão das relações entre os homens. Então, a mercadoria, criada, aparece como algo que nos é alheio e nos domina; a criatura (mercadoria) revela um poder que passa a subordinar o criador (homens)” (NETTO E BRAZ, 2006). O resultado desta inversão surte efeito direto nas relações sociais estabelecidas entre os indivíduos, a qual os produtos passam a ser alheios a quem os produz, e se transformam em algo estranho, como um poder exterior que a tudo domina: entre os homens e as obras, a relação real que é a relação entre criador e criatura aparece invertida – a criatura passa a dominar o criador (NETTO E BRAZ, 2006, p.44).

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“Fomos criados através da Televisão para acreditar que um dia seriamos milionários e estrelas de cinema, mas não nos tornamos isso, estamos muito, muito putos, e aos poucos, tomamos consciência.”(Clube da Luta)

É difícil descrever um livro como este. Até sua sinopse é complicada. Trata-se de uma obra agressiva em tempo integral, que nos leva de maneira magistral ao mais tórrido submundo – algo impossível de se fazer em meras abstrações -, deixando bem claro o valor que a real liberdade pode nos custar. Outro fator também interessante, pelos menos no meu caso, é a possibilidade de comparação com o filme, principalmente no que diz respeito ao final, uma vez que mesmo sabendo o desfecho da trama, ainda assim, me senti muito atraído. E, a despeito de algumas diferenças, a aura central do livro está ali instaurada. E, mesmo em amplitude bem inferior, deixou muitos críticos com pulgas atrás da orelha. Afinal, qual era o intuito da adaptação? O que um Brad Pitt já consolidado ao lado de Edward Norton, após o famosíssimo Uma Outra História Americana, gostaria de fazer com este projeto? Transformar a genialidade da obra em outro produto, o que seria um assassinato brutal ao que nos é perpassado? Ou, trazer ao maior dos meios de comunicação, uma proposta completamente revolucionária?

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“É apenas depois de perder tudo é que somos livres para fazer qualquer coisa”(Clube da Luta)

O Clube da luta não é composto por marginais, muito menos por brigas e violência gratuita. O clube da luta é um refúgio. O lugar onde você se liberta das amarras da rotina e tem a certeza de que irá encontrar semelhantes que também buscam fugir para um momento de plenitude, algo que só a mais pura endorfina poderia nos ofertar.

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“Primeiro você tem que se entregar, primeiro você tem que saber não temer, saber que um dia você vai morrer.”(Clube da Luta)

Depois que seu apartamento voa pelos ares e o único homem que pode ajudá-lo impõe a condição de acertá-lo o mais forte que puder, seu mundo vira de pernas para o ar. Logo, a ideia de brigar apenas por brigar foge do controle e se espalha por várias cidades, chegando ao ponto de dar à luz o Projeto Destruição. Assim, a esquizofrenia de um único ser, da maneira mais inusitada possível, ameaça todo o sistema econômico de um país, e, consequentemente, do mundo. Isto sim é Clube da luta!

“Nós somos uma geração sem peso nenhum na história.”(Clube da Luta)

Por vezes, senti que o intuito do autor é fazer com que você realmente liberte suas frustrações mais puras, e, por este motivo, não é difícil você alternar bruscamente de humor no decorrer da trama. Sendo que, em certos momentos, Chuck praticamente desvela a besta presa em nossos conceitos éticos e morais, chegando ao ápice de, no meio da leitura, você ter vontade de quebrar algo e gritar, “PU@# QUE O PARIU! Que mer#@ é essa?”. Ainda neste contexto, podemos perceber que a afronta do autor pôde refletir na realidade, pois, empregando técnicas do Projeto Desordem e Desinformação – criado por Tyler Durden -,  manifestantes não se cansam de divulgar frases estranhas – Tyler Durden Vive! –  pelas  ruas do Brasil,  assim como os macacos espaciais fazem em suas “tarefas de casa” – esta é para os que já leram, ou assistiram a adaptação cinematográfica da obra.

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“Não queira ser completo, nada de querer ser perfeito. Pare de tentar controlar tudo e deixe o barco correr.”(Clube da Luta)

Por fim, o Clube da Luta nos traz questões bem complexas como: no que se baseia nossa realidade? O quão somos verdadeiramente úteis ao próximo e a nós mesmos? Nossos sonhos são realmente nossos? Nós somos quem realmente acreditamos ser ou somos descartáveis, meras Dollys, clonadas e escravas dos padrões? E, caso tenha estas respostas na ponta da língua, volto a primeira pergunta: por que trabalhamos em empregos dos quais não gostamos; por que gostamos de comprar coisas das quais não precisamos; por que temos os vícios que a sociedade nos impõe e por que não lutamos para ser quem gostaríamos de ser?

“…O primeiro passo para a vida eterna, é a morte.”(Clube da Luta)

*Obs: Na versão reimpressa pela Rocco existe um posfácio maravilhoso, escrito pelo próprio autor, após o sucesso do filme.

Para os interessados, eis as 8 regras do Clube da Luta:

1. Você não fala sobre o Clube da Luta;
2. Você não fala sobre o Clube da Luta;
3. Quando alguém gritar “para!”, sinalizar ou desmaiar, a luta acaba;
4. Somente duas pessoas por luta;
5. Uma luta de cada vez;
6. Sem camisa, sem sapatos;
7. As lutas duram o tempo que for necessário;
8. Se for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar!

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Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

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