O Maneirismo Youtuber

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Hoje, podemos afirmar que é possível ganhar a vida fazendo vídeos para o Youtube. É simples? Claro que não! Vai te deixar rico? Pouco provável. Como toda mídia em seus primórdios, vídeos on-line ainda estão engatinhando no que diz respeito à independência financeira e reconhecimento cultural. Entretanto, o aumento de usuários ativos (eles já passam de um bilhão) é um excelente atrativo para os patrocinadores…

Existem diversas formas de monetizar os vídeos: links patrocinados, vídeos encomendados, banners, formação de redes e número de visualizações. E o que isso está causando? Superestímulo comercial? Invasão de produtos? Propagandas sufocantes?

Não! Por um lado, isso permite ao profissional dedicar mais tempo à sua produção; por outro, permite ao amador se aperfeiçoar. De qualquer maneira, comercializar o vídeo cria mais um atrativo para sua criação. Todos precisam comer, fazer compras e pagar contas, e produzir vídeos ocupa tempo (muito tempo) do dia – tempo este que deveria ser gasto trabalhando. É o retorno financeiro que permite que o tempo seja gasto com a produção de vídeos.

Ou seja, produzir vídeos para o Youtube é um trabalho.

Dito isso, uma das consequências da liberação psíquica – sim, o fato de saber que haverá retorno financeiro faz com que a mente se acalme um pouco – é a evolução profissional sem a exclusão do tom pessoal. Em diversos exemplos, é possível notar uma produção complexa, visando um produto de qualidade, mas que ainda mantém uma temática e performance particular. É a fuga do “Padrão Globo” para um novo Maneirismo (não é um neo-maneirismo, ok?).

VasariA utilização principal do termo ocorre pela sua etimologia: a palavra vem do italiano maniera (“maneira”), e indica a presença de um estilo pessoal do artista. Este estilo artístico do século XVI valorizava a originalidade individual, rompendo com o classicismo e o naturalismo da Alta Renascença. Este rompimento com os valores ditados pelo academicismo faz do Maneirismo um dos primeiros movimentos modernos.

A comparação do Maneirismo com os vídeos no Youtube (ou outros vídeos on-line) representa uma evasão dos formatos tradicionais ditados pela mídia radiodifusora. Obviamente, não há como fugir de certos padrões mais utilizados, pois são mais fáceis de assimilar. A profissionalização gera uma organização que, em um primeiro momento, sempre levará a uma linguagem mais clássica – o que não significa se vender para o formato blockbuster, pois ele só existe devido a sua ampla aceitação social.

Os temas utilizados não obedecem à agenda midiática; são, na maioria das vezes, opções pessoais que se adequam ao conhecimento do youtuber (quando querem fazer algo que foge de sua alçada intelectual temos produções lamentáveis).

Atualmente, temos exemplos claros desta independência de conteúdo com os vídeos sobre as manifestações pelo Brasil. Apesar de ser um tema importantíssimo, acredito que falar sobre este “fenômeno” necessitaria de outro texto exclusivo.

Um lado negativo da monetização é a perda de rumo do youtuber através da dependência do número de views. Apesar de não ser uma regra, muitos youtubers passam a pensar seus conteúdos em função do retorno de visualizações. E isso é mais complicado, pois precisa adequar o que gosta de fazer com o que dá audiência. Muitos, infelizmente, não conseguem este equilíbrio. O forte de Guilherme Gamer, por exemplo, é o conteúdo jornalístico com seu programa Gamer Point. Quando ele resolveu fazer esquetes de comédia com o Nerd & Noob… O negócio desandou… E não estou avaliando o número de views, mas da qualidade do vídeo (beira a vergonha alheia).

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Felizmente, temos bons exemplos, como a série Um Joystick, Um Violão, de Marcos Castro. Dragon Quest Caboclo, título mais recente, é uma paródia de Faroeste Caboclo, de Renato Russo, misturado com o jogo Dragon Quest. Este vídeo representa uma produção profissional com boa qualidade de imagem, edição e performance e um conteúdo claramente pessoal. Uma obra independente, bem feita e, aparentemente, não financiada.

Não estou afirmando que Dragon Quest Caboclo é uma obra Maneirista, mas ela é maneira pra caramba…

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Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 3 comentários

    1. Gustavo Audi

      Pô, nem é tão grande assim… Já fiz maiores…

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