Fiz essa pequena digressão inicial apenas para justificar que o tom das minhas análises sobre quadrinhos se resume basicamente a análise da narrativa. Não tenho muita “propriedade” para ir além disso, ao contrário do meu amigo Zé Messias (da coluna A Inconstância da Alma Selvagem).
A obra da vez é a Coleção Bórgia, de Alejandro Jodorowsky e Milo Manara. Como sempre, farei um resumo das carreiras desses dois autores (com a ajuda do Google, é claro).
Já Alejandro Jodorowsky, como o nome denunciava erradamente, não tem origem no leste europeu. Na verdade, nasceu em Iquique, no Chile, em 1929. Já fez de tudo um pouco no mundo das artes, desde palhaço de circo até diretor cinematográfico. Sempre se dividiu entre o cinema e os quadrinhos. Seu mais famoso fã foi nada menos que John Lennon, segundo a Wikipedia. Não que isso lhe credencie a algo, já que Lennon também era fã de Yoko Ono e…bem, não preciso dizer mais nada, tirem suas próprias conclusões.
Voltando a falar da obra que motivou esse post, Bórgia é uma história repleta de cenas de violência, sexo e corrupção. A forma como Jodorowsky encaminha o roteiro e os desenhos geniais de Manara transformam a história em uma verdadeira obra de arte, com uma edição que permitiria uma adaptação sem cortes para o cinema.
Como nem todos sabem, a familia Bórgia foi um clã que dominou a Igreja no século XV utilizando-se, como era comum na época, das mais sórdidas práticas. O quadrinho em si enfoca a história de Rodrigo Bórgia em sua caminhada até o papado e sua relação com a família. Como Papa Alexandre VI, vemos todos os meios escusos que ele usava para se perpetuar no poder e elevar financeira e politicamente os membros de sua família. O que era comum aos Bórgia, já que antes de Rodrigo, seu tio, Afonso de Bórgia, já havia sido papa (Calisto III) e, com sua influência, ajudara Rodrigo a subir na hierarquia da Igreja.
Nos quadrinhos, vemos os esforços de Rodrigo para chegar ao papado, subjugando seus outros dois adversários, Ascanio Sforza e Giuliano della Rovere. Para isso, assassinatos, subornos e sexo foram as armas por ele adotadas. Aliás, na época, era comum os padres (e também bispos, cardeais e papas) terem amantes, o que fica claro na coleção Bórgia (e que também está presente na série The Tudors – que analisarei em outro post dentro em breve).
Rodrigo Bórgia também se preocupa com a ascensão de seus quatro filhos: César, Lucrécia, Giovanni e Jofre. Os mais famosos foram os dois primeiros que, inclusive, segundo boatos, mantiveram uma relação incestuosa, com consentimento do pai. César também foi retratado por Maquiavel em seu livro “O Príncipe” e Lucrécia era considerada o “veneno dos Bórgia” (nome que ganhou tanto por sua beleza como pela fama de envenenar os seus amantes). Durante o reinado dos Bórgia, eram famosas as orgias por ele promovidas – indo contra tudo que a Igreja pregava a seus fiéis.
Como já deu para perceber, não faltam ingredientes para a excelente história que é narrada nesta Coleção. Por enquanto, já foram publicados no Brasil os quatro primeiros livros da série. São eles: Volume 1, 2, 3 e 4. Brincadeira! Os títulos são: Sangue para o Papa; Poder e Incesto; As Chamas da Fogueira; Tudo é vaidade.
Outros livros anteriormente já haviam bebido da fonte dos Bórgia. Os que encontrei em uma rápida busca foram: A esposa Bórgia, de Jeanne Kalogridis; César Borgia, de Ivan Cloulas; e Os Bórgia, de Mário Puzo (consagrado autor dos livros que deram origem a trilogia do Poderoso Chefão). Confira também a premiada série The Borgias, a qual, com certeza, está merecendo um post aqui no Iluminerds (quem sabe o The Walking Nerd não é a primeira coluna a falar sobre ela?!).
Resumo da obra
Autores: Milo Manara e Alejandro Jodorowsky (ou vice-versa)
Miolo: até agora, cada um dos 4 livros possui, respectivamente,56, 60, 52 e 56 páginas.
Editora: Conrad
Onde comprar:
Submarino (vol. 1, vol.2, vol.3, vol.4, coleção completa)
Conrad
Americanas (vol. 1, vol. 2, vol. 3, vol.4)
Livraria Cultura (vol.1, vol. 2, vol.3, vol. 4)
Saraiva (vol.1, vol.2, vol.3, vol. 4)
Rabiscos de Manara
Maravilhosa a série!!! gostei da matéria, parabéns!!!
Cara, li e posso dizer que, apesar da arte maravilhosa de Manara, ela não se destaca diante do roteiro extremamente foda. Destaco principalmente as manobras que os candidatos a Papa utilizam uns contra os outros e a forma chula como se tratam internamente.